O Paraná estabeleceu uma série de metas para reduzir a emissão de carbono proveniente das atividades agropecuárias até 2030.

O Plano ABC+ visa mitigar os gases de efeito estufa a partir do compromisso que o Brasil assumiu nas conferências do clima.

“O desafio é fixar carbono, e um grande esforço é mudar o modelo de produção, de pastagens degradadas com baixa eficiência produtiva para pastagens com alto potencial de produção de massa e consequentemente de carne e leite, utilizar a integração lavoura-pecuária para diversificar e gerar mais renda, e outras ferramentas do ABC+ para implantar projetos mais inteligentes. Temos espaço para melhorar no Paraná, temos condições de produzir mais alimentos e fixar mais carbono no solo”, destaca Norberto Ortigara, secretário estadual de Agricultura e do Abastecimento.

Entre as ações a serem realizadas figuram a recuperação de 350 mil hectares de pastagens degradadas; a ampliação em 4 mil hectares do uso do sistema de plantio direto de hortaliças e a ampliação do uso de ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) em 500 mil hectares.

O plano prevê ainda as ampliações do uso de bioinsumos em 430 mil hectares e de sistemas irrigados para atender 48 mil hectares, além da ampliação em 78,9 milhões de metros cúbicos o manejo de resíduos de produção animal, entre outras ações.

“No caminho de uma agricultura sustentável, o Paraná busca continuar na vanguarda das práticas mitigadoras de emissão de gases do efeito estufa. Concomitantemente, o estado almeja aumento de produção com maior eficiência dos sistemas de produção que irão gerar renda e melhorar a qualidade de vida dos produtores rurais e da sociedade urbana”, destaca Breno Menezes de Campos, coordenador do Grupo Gestor Estadual do Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (GGE ABC+).

As ações ocorrem de forma contínua, por meio do serviço de extensão rural, sob responsabilidade do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), que desenvolve ações para adoção e manutenção dessas tecnologias nos 399 municípios do Estado.

“É importante ressaltar que cada município tem sua particularidade produtiva e, dessa forma, diferentes aptidões para implantação e uso de determinadas tecnologias”, pontua.

ANTECIPAÇÃO

O coordenador acrescenta que o Paraná vem adotando as tecnologias preconizadas pelo Plano ABC antes mesmo da sua implementação em nível nacional.

“O estado é pioneiro no Sistema de Plantio Direto para cultivo de grãos. Além disso, possui ações em recuperação de pastagens degradadas e implantação de sistemas integrados (Integração Lavoura-Pecuária, Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, Integração Pecuária-Floresta)”, lista.

A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta é uma das ferramentas que o Plano ABC+ pretende incentivar
A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta é uma das ferramentas que o Plano ABC+ pretende incentivar | Foto: istock

No que diz respeito ao cultivo de florestas plantadas, o Paraná é responsável por mais de 55% do volume de madeira pinus produzida no Brasil, com aproximadamente 1,17 milhão de hectares plantados.

“Os cultivos florestais são considerados sumidouros de carbono, haja vista a capacidade de fixar CO2 pelo processo de crescimento das árvores”, explica. Sumidouros de carbono são depósitos naturais que absorvem e capturam o CO2 da atmosfera, reduzindo sua presença no ar.

Campos lembra que o Paraná assume um papel pioneiro na implantação das tecnologias de baixa emissão de carbono na agricultura, posicionando-se entre os três primeiros estados brasileiros a ter o Grupo Gestor Estadual oficializado e a lançar o Plano de Ação Estadual.

PLANTIO DIRETO

Nádia Solange Schmidt, secretária executiva do Grupo Gestor Estadual e analista do Ministério da Agricultura e Pecuária, relembra que a primeira concepção do plano ocorreu no decênio passado (2010 a 2020).

Nesse período, foram utilizadas as tecnologias de sistema plantio direto, fixação biológica de nitrogênio, florestas plantadas e sistemas integrados (lavoura-pecuária, lavoura-floresta, pecuária-floresta e lavoura-pecuária-floresta).

“Com essas ações, o Brasil atingiu, em 2020, 115% da meta, ou seja, as tecnologias, processos e ferramentas para redução de emissão de carbono foram aplicadas em cerca de 52 milhões de hectares, equivalente a uma vez e meia o território da Alemanha.”

Fazenda recuperou produtividade com sistema de integração

O grupo Colaboradores do Brasil aderiu à ILP (Integração Lavoura-Pecuária) em 2015. Além de alavancar a produção, a adoção do sistema está indo muito além do que se propôs inicialmente, visto que vem auxiliando na preservação do meio ambiente ao ajudar na mitigação dos gases de efeito estufa.

“Neste ano estamos entrando com o F (Floresta), da sigla ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta). Vamos plantar eucalipto no meio da pastagem, sendo que a baixa emissão de carbono será uma consequência. Temos conversado, vamos nos informar mais sobre o assunto e que isso venha a ser uma bandeira, no sentido de colaborar cada vez mais com o meio ambiente”, anunciou Valdenir Alberto Seidel, gerente financeiro do grupo.

A Colaboradores do Brasil mantém duas propriedades no Paraná, a Fazenda Colab, em Altônia, e a Fazenda Santa Fé, em Xambrê. O grupo trabalha com parceiros na ILP em Xambrê e ele próprio gerencia a operação em Altônia. A produção é alternada entre pecuária e soja.

Valdenir relembra que a produção estava muito aquém do potencial na Fazenda Colab até a adesão à ILP, ocorrida há oito anos. “A prática trouxe uma boa dinâmica, com reforma de pastagens a baixo custo e melhoria na qualidade do solo”, conclui.

Henrique Debiasi, pesquisador da Embrapa Soja e membro do Comitê Gestor do Programa Soja Baixo Carbono (PSBC), lembra que outros países ainda utilizam nitrogênio químico e preparo convencional na produção de soja, o que torna a produção brasileira uma das mais limpas em nível mundial.

“A título de exemplo, somente o uso de nitrogênio químico ao invés da fixação biológica de nitrogênio aumentaria em cerca de 70% as emissões de GEEs (gases de efeito estufa) nas nossas condições.”

Mesmo assim, Debiase destaca que ainda é possível melhorar os efeitos positivos da produção de soja na mitigação dos GEEs.

Ele cita a intensificação de boas práticas relacionadas ao uso racional de fertilizantes, ao manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas, além da melhoria da qualidade do sistema plantio direto.

“O aumento da diversidade de espécies vegetais e do aporte de palha e raízes no sistema de produção é um ponto que pode ser melhorado. O uso de culturas de cobertura, especialmente por meio de consórcio envolvendo gramíneas, leguminosas e outras famílias de plantas, aumenta o carbono estocado no solo na forma de matéria orgânica, o que pode pode levar à produção de uma soja carbono-neutro ou mesmo abrir espaço para projetos de créditos de carbono”, detalha.

Outra grande oportunidade de mitigação das emissões de GEEs no Paraná, especialmente na região Noroeste (arenito), onde a pecuária é uma atividade tradicional, é o uso da integração lavoura-pecuária (ILP).

Nesse sistema, culturas de grãos, como a soja e o milho, são rotacionadas com pastagens para produção de carne e/ou leite. O pesquisador explica que pastagens bem estabelecidas, em rotação com a soja e outras culturas de grãos, aumentam o sequestro de carbono na matéria orgânica do solo e, ao mesmo tempo, a forragem de melhor qualidade produzida nesse sistema contribui para reduzir as emissões de metano associadas aos bovinos, um dos GEEs com maior potencial de aquecimento global.

“Em média, estima-se que a substituição de sistemas exclusivos de grãos em plantio direto por sistemas integrados de produção proporciona uma remoção de cerca de 1 tonelada de CO2 por hectare ao ano. A substituição de pastagens degradadas por sistemas ILP, por sua vez, pode resultar em uma mitigação via acúmulo de carbono no solo de cerca de 6 toneladas de CO2 por hectare ao ano”, compara.

O PROGRAMA

O produto final do Programa Soja Baixo Carbono é a criação de um protocolo tipo MRV (mensurável, reportável e verificável) para atribuição do selo Soja Baixo Carbono a sistemas de produção de soja que reduzam as emissões de CO2 por tonelada de grão produzida, com base na aplicação de boas práticas agrícolas.

A adesão do produtor ao programa é voluntária. “A proposição de um protocolo nesses termos é tarefa de elevada complexidade, envolvendo diversas etapas sequenciais e discussões com todos os elos da cadeia produtiva, por isso a certificação só deve estar disponível no mercado em meados de 2026.”

Em nível experimental, o protocolo começará a operar em sua fase de validação já na próxima safra em todo o Brasil, inclusive no Paraná.

O pesquisador avalia que o selo Soja Baixo Carbono certamente contribuirá para fomentar a redução das emissões de GEEs não só no Paraná, mas em todas as regiões produtoras de soja do País.

“Para os produtores que tiverem áreas de produção certificadas com o selo Soja Baixo Carbono, existem diversas oportunidades de agregação de valor ao produto, como recebimento de bonificações, acesso a linhas de crédito mais baratas e a mercados mais restritivos e que, por consequência, pagam melhor”, conclui.