Plano diretor limita árvores frutíferas em espaço público de Londrina
Corte de abacateiros e outras espécies às margens do Igapó 2 criou polêmica e trouxe à tona as regras de arborização no município
PUBLICAÇÃO
sábado, 18 de fevereiro de 2023
Corte de abacateiros e outras espécies às margens do Igapó 2 criou polêmica e trouxe à tona as regras de arborização no município
Lucas Catanho - Especial para a FOLHA
O corte de abacateiros e outras árvores às margens do Lago Igapó 2 foram alvo de polêmica nas últimas semanas em Londrina e a FOLHA queixas de moradores da cidade que se manifestaram por meio de cartas e entrevista ao jornal.
Embora muitos vejam como positivo a presença de árvores frutíferas em espaço público e em uma caminhada seja possível encontrar algumas espécies que dão fruto nas calçadas e fundos de vale, o Plano Diretor de Arborização de Londrina é bastante restrito ao plantio desse tipo de árvores. Essas regras constam no artigo 24 da Lei 11.996, de 2013 (Plano Diretor de Arborização). Uma das normas diz que “as espécies plantadas não devem apresentar frutos grandes, galhos quebradiços, espinhos ou partes tóxicas”.
Gerson Galdino, diretor de Áreas Verdes da Sema, explica que a recomendação visa evitar que a queda de frutos atinja veículos ou pedestres. “No caso dos terrenos particulares, não há essa recomendação”, diferencia.
O morador não tem impedimentos para plantar árvores frutíferas em terreno de sua propriedade. Mas, nesse caso, a Sema não distribui mudas porque se trata de propriedade particular.
Para o plantio de árvores em calçadas, o morador de residência fora da esquina tem direito a receber uma muda. Caso more em casa de esquina, pode receber mudas para plantar em até três pontos distintos. De maneira geral, a lei proíbe o plantio em calçadas com menos de 2 metros de largura.
Entre as espécies disponíveis para doação pela prefeitura para plantio em calçadas, figuram oiti, canelinha, ipês rosa, branco e amarelo, resedá, entre outras. A prefeitura também doa espécies para serem plantadas em praças – nesse caso, são permitidas árvores com frutos maiores.
Em um passeio por ruas, parques e outros espaços públicos de Londrina, a reportagem da FOLHA identificou várias espécies de árvores frutíferas, algumas bem populares, como amora e jabuticaba, e outras mais raras, como jamelão, mandacaru e monstera (confira as fotos nesta páginas)
FRUTÍFERAS
O morador pode requisitar mudas de árvores nativas frutíferas para serem plantadas em Áreas de Preservação Permanente. No entanto, as opções ofertadas atualmente pela prefeitura são somente três: araçá, ingá e pitanga.
Bem pouco conhecido, o araçá tem um gosto semelhante ao da goiaba, com cor avermelhada quando maduro, casca dura e polpa branca e macia. Dentro do mesmo grau de conhecimento, o ingá possui uma polpa com textura meio aquosa, com sabor adocicado. A pitanga, por sua vez, é a espécie mais conhecida popularmente.
Reconstituição de mata ciliar
A estrategista de negócios Adriana Pontin participou há quatro anos de um projeto de reconstituição de mata ciliar de rios e córregos da área urbana de Londrina, uma iniciativa do Ceal (Clube de Engenharia e Arquitetura de Londrina), prefeitura e Rotary Clube de Londrina.
Ao todo, já foram plantadas mais de 1.600 mudas de árvores nativas nos arredores do Lago Igapó e Fundo de Vale desde o início da campanha. São mudas como ipê branco, palmeira, dedaleiro, alecrim de campinas e flamboyant. Entre as frutíferas figuram acerola, goiabeira e pitangueira.
“Acompanho o crescimento das árvores sempre quando faço caminhada ou passeio no Lago Igapó. O sentimento é de contribuição. Eu ajudo fazendo a minha parte. Acredito que podemos transformar o meio que vivemos com ações que impactam não só o meio ambiente, mas também a comunidade ao redor”, destaca.
ESCASSA
Ricardo Tadeu de Faria, professor de Floricultura, Paisagismo e Biotecnologia Vegetal no curso de agronomia da UEL, considera que a presença de árvores frutíferas no perímetro urbano de Londrina hoje é escassa.
“O Plano de Urbanização proíbe o plantio de árvores frutíferas em canteiros e calçadas da cidade, estabelecendo algumas normas para o plantio, o corte, as podas e para a arborização de calçadas e canteiros no município.”
Com o regramento, é preciso fazer o plantio da espécie com o porte adequado para cada espaço, principalmente nos locais onde há fiação elétrica e tubulações nas calçadas.
“É recomendado evitar o plantio nas calçadas de árvores que perdem as folhas no inverno, denominadas de caducifólias, para que não ocorra o entupimento dos bueiros e consequentemente aumente a possibilidade de enchentes.”
MELHOR ÉPOCA
Sobre a melhor época para o plantio das árvores frutíferas, em geral é no início da primavera, ou seja, quando iniciam as chuvas.
“É importante adquirir uma muda de qualidade de um viveiro certificado. O preparo da cova de plantio deve ter 60cm x 60cm x 60cm (comprimento x profundidade x largura), devendo ser preenchida com uma terra rica em nutrientes composta por três partes de terra vegetal, uma parte de areia e uma parte de húmus de minhoca ou esterco de curral curtido”, ensina.
O docente acrescenta que o plantio em vasos com árvores frutíferas ornamentais nos jardins das residências ou nos quintais, como romã, amora, acerola, jabuticaba e pitanga, tem aumentando nos últimos anos.
“Essas frutíferas, quando cultivadas em vasos, têm seu porte reduzido e, quando cultivadas no local correto, com uma boa adubação e irrigação, produzem flores e frutos, enriquecendo o paisagismo e propiciando a coleta dessas frutas para o consumo.”
O docente destaca que é muito importante a escolha do local correto para o plantio de árvores, pois se não bem planejado, pode causar diversos danos. O crescimento das raízes pode derrubar muros, destruir calçadas e tubulações. Há também risco de queda da árvore em residências ou em carros, por tempestades ou ataque de doenças.
“Recomenda-se não fazer o plantio de árvores de médio e grande porte próximo a residências, muros e piscinas para evitar futuros danos”, conclui.
SERVIÇO
O munícipe que precisa de orientação sobre plantio de árvores pode se dirigir ao Viveiro Municipal de segunda a sexta, das 7h às 16h. O viveiro fica no final da avenida Europa – antiga Fazenda Refúgio. Telefone: (43) 3372-4764.
Outra opção é enviar e-mail para a Sema – [email protected] – ou se dirigir à secretaria, na rua da Natureza, 155, dentro do Parque Municipal Arthur Thomas, de segunda a sexta, das 12h às 18h. Telefone: (43) 3372-4750.
Ao requisitar mudas para a calçada, o munícipe pode solicitar o plantio por um funcionário da prefeitura. Nesse caso, o serviço será programado e entrará no cronograma da Sema.