A atividade agropecuária deliberada modifica substancialmente o solo - um importante componente dos ecossistemas terrestres - devido às alterações estruturais inerentes à prática. Em um período de médio a longo-prazo, pode-se observar redução de matéria orgânica deste solo e perda de fertilidade, afetando a produtividade da área. Uma das alternativas de manejo é a adoção de práticas de agricultura conservacionista, visando a manutenção da qualidade do solo por meio de atividades de rotação e consórcio de culturas, cobertura do solo e distúrbio mínimo.

O emprego de tais práticas contempla o melhoramento de estrutura e fertilidade do solo, com aumento do conteúdo de matéria orgânica e produtividade sustentável. Estes mecanismos de produção conservacionista representam potenciais meios para a mitigação de efeitos inerentes às mudanças climáticas, mediante diminuição da concentração e emissão de gases do efeito estufa.

O Brasil é um dos países mais dedicados ao assunto, e uma das ações mais proeminentes foi a concepção do Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono). O Plano, elaborado e instituído durante a 15ª Conferência das Partes, em 2009, tem como objetivo a redução das emissões de carbono por meio de incentivos a processos tecnológicos que neutralizam ou minimizam o impacto dos gases de efeito estufa, com metas e resultados previstos até 2020, sendo passíveis de prorrogação. Assim, o plano visa estimular investimentos necessários à incorporação de tecnologias e alternativas de baixa emissão de carbono ao longo do processo produtivo.

A idealização do Plano é fruto da ação conjunta dos governos federal, estaduais e municipais, além da colaboração do setor produtivo e sociedade civil. A estrutura gestora é dividida em três grandes níveis (Nacional Estratégico, Nacional Tático e Estadual Operacional), cada qual contribuindo com seus respectivos constituintes e finalidades.

O plano divide-se em sete frentes, sincronizadas com o objetivo principal traçado, cada qual com seu foco de ação, que vai desde recuperação de pastagens degradadas até tratamento de dejetos animais e adaptação às mudanças climáticas. Combinadas, elas já mitigaram, entre 2010 e 2018, cerca de 154,38 milhões de Mg CO2 eq, sendo que, em alguns casos, obteve-se êxito - e até excedente - nas metas estabelecidas.

Contudo, a manutenção das metas do plano, vinculada à adoção rotineira de práticas conservacionistas que atendam às demandas das diversas áreas agrícolas, além de florestais, ainda é considerada um grande desafio nas diversas esferas relacionadas ao tema, posto que algumas metas ainda devem ser atingidas.

Assim, faz-se necessário um conhecimento mais embasado quanto às características edafoclimáticas e socioeconômicas de cada região, vislumbrando atender aos objetivos propostos no plano. É fundamental uma ação conjunta, e contínua, da sociedade científica e civil, buscando produtividade ecologicamente correta e sustentável, além do melhor cenário possível para gerações futuras.

Bruno Henrique Martins, docente dos cursos de Química e Agronomia da Unopar, doutor em química analítica inorgânica pela USP, especialista em matéria orgânica do solo