Principal produto agrícola do Brasil, a soja vem desempenhando há anos um papel fundamental do ponto de vista econômico do país. Não é à toa que instituições como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Soja têm promovido discussões sobre os desafios do agro brasileiro para manter a dianteira na produção do grão.

Em um seminário realizado em Londrina nos dias 19 e 20 de setembro, a empresa, ao lado de parceiros como a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), colocou em pauta a importância da qualidade da oleaginosa como matéria-prima.

A coordenadora de Gestão do RenovaBio (Política Nacional de Biocombustíveis), Maria Auxiliadora de Arruda Nobre, afirma que o mercado de biocombustíveis está em crescimento e que, neste ano, é esperada uma elevação da ordem de 17%. Um dos motivos é a ampliação da mistura do biodiesel no diesel, que poderá chegar a 15% em 2026. “E entende-se que a soja, que a principal matéria-prima correspondendo a 66%, está sendo comercializada e os produtores estão motivados a produzir para o biodiesel”, afirma Nobre.

CRÉDITOS DE DESCARBONIZAÇÃO

Desde que o RenovaBio foi instituído, em 2017, já foram emitidos 103 milhões de C-Bios, que são os créditos de descarbonização. Isso significa que cerca de 103 milhões de toneladas de CO2 deixaram de ser enviadas para a atmosfera.

Um outro setor importante que tem o grão como matéria-prima é o dos óleos vegetais. A pesquisadora Jane Mara Block, da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), destaca que esse mercado tem observado uma mudança no volume e no tipo de óleo produzido.

De acordo com Block, mais de 90% da produção de óleo vem de quatro tipos de grãos: palma, soja, canola e girassol, mas existe uma grande variedade de matérias-primas que poderiam ter mais espaço nessa cadeia.

`NÃO HÁ INCENTIVO FISCAL E GOVERNAMENTAL´

“Poderíamos obter de uma imensidão de outras fontes que não são desenvolvidas. Não há incentivo fiscal e governamental, temos muitas questões envolvidas”, opina Block, que acrescenta que a soja deve continuar à frente como matéria-prima. “Até porque o Brasil tem a vocação, tem a tecnologia e é o maior produtor. Tem muita importância para a economia.”

Para uma maior sustentabilidade, a pesquisadora acredita que seria importante utilizar gorduras residuais para a produção de biodiesel.

ALIMENTAÇÃO ANIMAL

A pesquisadora Andrea Ribeiro, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), ministrou uma palestra sobre a importância da qualidade do grão na produção de farelo, que é utilizado na alimentação de aves e suínos. A qualidade do farelo impacta diretamente na eficiência desses animais, que têm papel estratégico no mercado externo, uma vez que o Brasil é o maior exportador de carne de aves e o quarto maior de suínos.

“Essa cadeia tem uma preocupação muito grande com a qualidade do farelo, que é o principal produto, o ingrediente protéico. O milho é o ingrediente energético”, citando que o processo tecnológico, que envolve tempo e temperatura no esmagamento do grão, pode impactar na maior ou menor qualidade do farelo.

Olhando para o mercado brasileiro, Ribeiro afirma que o farelo é bom, mas uma maior estabilidade nessa qualidade é fundamental. Além disso, é preciso uma melhor rastreabilidade do grão. “Quando comparamos com farelos da Argentina, dos Estados Unidos, nossos farelos geralmente tem uma solubilidade menor um pouco, e isso deixa a desejar”, acrescenta.

BAIXO CARBONO

Frente à liderança mundial do Brasil no mercado da soja, uma das conferências do seminário discutiu a agricultura de baixo carbono. A pesquisadora Roberta Carnevalli, da Embrapa Soja, ressalta que existem práticas para reduzir as emissões no processo produtivo e no transporte, por exemplo, mas também para sequestrar o carbono de outros emissores.

“A agricultura tem esses dois papéis, de melhorar sua eficiência, reduzindo suas emissões, e ajudar no sequestro do carbono que já está na atmosfera de outras fontes”, diz. A Embrapa está à frente dessa iniciativa a partir do SBC (Programa Soja Baixo Carbono), que visa certificar os produtores que adotam boas práticas. A estimativa é que o selo esteja no mercado em meados de 2025 e 2026, com reconhecimento internacional.

“Queremos que o produtor utilize boas práticas agrícolas para melhorar esse processo produtivo, produzindo mais com menos emissões. É uma certificação voluntária, ninguém tem a obrigação de fazer, pelo menos por enquanto. Mas é um diferencial. Vai levar uma imagem melhor do Brasil para fora”, destaca.