Sistema de cultivo desenvolvido pela Embrapa Florestas permite colher nove vezes mais erva-mate em comparação ao método tradicional.

Denominado Cevad-estufa, o sistema facilita o cultivo porque se dá dentro de uma estufa, em viveiro. Com isso, o produtor possui maior controle ambiental sobre todo o processo de produção.

“Além da maior produtividade em comparação ao sistema de campo, é possível também produzir mais folhas novas para usos mais nobres que tenham por objetivo a produção de princípios bioativos”, explica Ivar Wendling, pesquisador da Embrapa Florestas.

Ele cita como exemplos os maiores teores de cafeína e de oxidantes, que servem respectivamente como matéria-prima para a formulação de produtos energéticos e do ramo de beleza.

Além do tradicional chimarrão, a erva-mate pode ser usada tanto na alimentação quanto em cosméticos, sendo matéria-prima para produtos e ingredientes em formulações de receitas, como sorvetes, xampus, bolos, pães, doces, mousse e até brigadeiro.

O pesquisador Ivar Wendling mostrou os benefícios do sistema desenvolvido pela Embrapa Florestas
O pesquisador Ivar Wendling mostrou os benefícios do sistema desenvolvido pela Embrapa Florestas | Foto: Manuela Bergamim/Embrapa Florestas

O pesquisador acrescenta que o sistema pode ser mecanizado de maneira muito mais fácil. “Um dos problemas no campo hoje é a falta de mão de obra, e a erva-mate não foge disso. Com esse sistema automatizado, é possível reduzir muito os custos e o tempo da colheita.”

O SISTEMA

A erva-mate é cultivada sobre canaletas – foram utilizadas telhas de fibrocimento com altura de 40 cm a 50 cm, declividade de 2%, sendo que dentro delas é colocada areia média, com porosidade.

As mudas são plantadas com espaçamento de 15 cm por 15 cm, e nessa areia é aplicada uma solução com nutrientes e água, de maneira que a aplicação ocorre de 3 a 4 vezes ao dia.

“A solução nutritiva é muito diluída, sendo que as plantas recebem as substâncias de maneira ideal, então sempre vão ter água e nutrientes à disposição, por isso o crescimento é mais rápido”, explica o pesquisador.

Ivar acrescenta que o sistema é inicialmente bastante caro para implantar, já que são necessários estufa, o sistema de apoio de canaletas, areia e uma grande quantidade de mudas – ao todo, o método comporta mais de 300 mil mudas em 1 hectare.

“No entanto, como esse sistema produz mais e o objetivo é que a produção das folhas tenha um objetivo mais nobre, com maior valor agregado, ele acaba se pagando em tempo menor que o sistema convencional. De 6 a 10 anos se paga completamente, sendo possível ter um retorno significativamente superior ao convencional”, pondera.

PRÓXIMO PASSO

O próximo passo é validar o sistema junto a produtores rurais. Além disso, a ideia é também encontrar indústrias interessadas nesse tipo de matéria-prima para desenvolvimento de produtos, uma vez que a erva-mate conta com um forte apelo como matéria-prima natural e sustentável.

Produtores e indústrias interessados em testar o Cevad-estufa e desenvolver produtos a partir do novo sistema podem entrar em contato com a Embrapa Florestas pelo e-mail: [email protected].

Cruz Machado é maior produtora do Brasil

Levantamento realizado pelo Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Seab (Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento), mostra que a erva-mate foi o 25º produto agropecuário com maior VBP (Valor Bruto da Produção) em 2021 no Paraná – a riqueza advinda da cultura.

Um mercado com potencial de exportar a produção paranaense é o dos países do Oriente Médio
Um mercado com potencial de exportar a produção paranaense é o dos países do Oriente Médio | Foto: AEN/José Fernando Ogura/Arquivo

Dados mostram que a erva-mate gerou quase R$ 1,1 bilhão em território paranaense, montante que representa 0,6% do VBP total do Estado – a soja está no topo, com R$ 50,9 bilhões e 28,2% de participação.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Cruz Machado, no sul do Paraná, é o maior produtor de erva-mate em território nacional.

Dados do Deral mostram que, em 2021, o VBP da cultura no município advindo da cultura alcançou R$ 175,7 milhões, 16% da riqueza proveniente da erva-mate cultivada no Estado.

Cultura já representou 85% da economia

Registros históricos apontam que a produção de erva-mate chegou a representar 85% da economia paranaense, responsável por trazer o progresso necessário para a emancipação do Estado em 1853 – antes província de São Paulo.

A extração já ocorria no Paraná desde o início do século 18, quando o governo português demonstrou interesse por essa atividade econômica. Mas foi quando passou a ser beneficiada no Estado, nos chamados engenhos, e principalmente em Curitiba, que aconteceu a verdadeira mudança.

Diversas áreas prosperaram. Os barões do mate construíram ricos casarões em Curitiba, que até hoje adornam bairros como Batel e o Alto da Glória, por exemplo.

Em 1885 foi inaugurada a ferrovia que liga Curitiba a Paranaguá. O trem tornou-se então o principal veículo para o escoamento da erva-mate destinada à exportação. A economia baseada na erva-mate ainda proporcionou as condições necessárias para a criação da Universidade do Paraná, em 1912. O período de ouro da erva-mate se estendeu até 1929, quando houve a queda da Bolsa de Nova York. A recessão atingiu o mundo todo. Mas a partir daí, Curitiba já havia alcançado expressivo desenvolvimento e outras atividades econômicas prosperavam.

Dada a importância que a cultura teve na história do Paraná, a bandeira atual do Estado estampa um ramo de erva-mate.

Oficina orienta busca por novos mercados

União da Vitória recebe na próxima terça-feira (11) a 2ª Oficina do VRS Mate para produtores do Centro-Sul do Estado. A oficina integra o programa VRS (Vocações Regionais Sustentáveis) da Invest Paraná – agência de captação de negócios do Governo do Estado vinculada à secretaria estadual da Indústria, Comércio e Serviços -, que tem objetivo de profissionalizar a cadeia de produtos típicos paranaenses, com busca por novos mercados, inclusive no Exterior.

O Paraná é o maior produtor de erva-mate do Brasil e nos últimos anos a produção vem ganhando valor agregado
O Paraná é o maior produtor de erva-mate do Brasil e nos últimos anos a produção vem ganhando valor agregado | Foto: José Fernando Ogura/Arquivo/AEN

São 200 vagas abertas para a participação dos produtores de erva-mate, cujas inscrições devem ser feitas pelo site do VRS, no banner do evento. O programa é desenvolvido pela Invest Paraná em parceria com o IDR-PR ( Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná) e a UEL (Universidade Estadual de Londrina).

O objetivo é apoiar os produtores na conquista de novos mercados. Três empresários do setor ervateiro darão palestras dos seguintes tópicos: "Boas Práticas Agrícolas e Rastreabilidade", por Nei Antônio Kukia (presidente do Conselho Gestor do Mate - Cogemate); "Segurança Alimentar Certificada", por Naldo Vaz (vice-presidente do Cogemate); e "Erva-Mate com Indicação Geográfica", por Eva Blaszcyk, representante do IG-Mathe.

Representante da Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), Gabriel Isaacsson, do governo federal, vai falar sobre como os produtores devem se preparar para vender a outros países. Por fim, Sotirios Ghinisa, da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira abordará o potencial da erva-mate no mercado dos países do Oriente Médio.

“O Paraná é o maior produtor de erva-mate do Brasil e nos últimos anos a produção vem ganhando valor agregado. Essa oficina do programa VRS é importante para que nossos produtores se qualifiquem para buscar novos mercados. O mate paranaense tem potencial para expandir não só no mercado nacional, mas também para o Exterior”, enfatiza o secretário da Indústria, Comércio e Serviços, Ricardo Barros.

O mate é a maior cadeia produtiva atendida pelo VRS, com 14 municípios da Região Centro-Sul. O programa também está em outras regiões com produtos locais, como no Litoral com banana, palmito, açaí juçara, frutas sazonais e turismo; e no entorno da futura Represa do Miringuava, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, com a produção agrícola local. O VRS também está em fase de implantação no Vale do Ribeira, área que é grande produtora de tangerina e com grande potencial turístico.

Um dos palestrantes da oficina, Naldo Vaz destaca a importância de toda a cadeia produtiva se profissionalizar. “De uns anos para cá está tendo muita iniciativa do Governo do Estado em organizar a cadeia. E o VRS é justamente o programa que agrega valor não só na matéria-prima, mas também no produto beneficiado, o que faz com que todos evoluam”, afirma Vaz. “É importante ter uma iniciativa como o VRS para organizar a cadeia produtiva do mate para que se chegue ao nível da cadeia do café, por exemplo, que é um setor produtivo muito organizado”, compara o especialista.

Mate sombreado

Desde 2014 o mate paranaense vem ganhando valor de mercado a partir de ações de incentivo ao cultivo da erva sombreada, plantada debaixo de florestas nativas, em especial de araucárias, no Sul do Estado. O diferencial do mate sombreado em relação à produção a pleno sol é no sabor mais palatável.

Cultivada à sombra de árvores, a planta produz menos cafeína, o que reduz a amargura do mate. Além disso, plantada desta forma a erva-mate produz mais teobromina, substância que dá um gosto mais amaciado ao chimarrão e ao chá.

“A erva-mate sombreada pegou muito bem no mercado. Todo o processo de cultivo desse mate sombreado foi desenvolvido pela Emater a partir de 2014. Em 2012 ninguém queria produzir nesse sistema porque a arroba da erva custava R$ 4,50 e o custo de produção era de R$ 5, ou seja, prejuízo de R$ 0,50. Hoje a arroba da erva-mate sombreada está cotada em R$ 26, acima, inclusive, da soja”, explica o gerente do IDR-PR, Amauri Ferreira Pinto.

O cultivo de mate sombreado garante renda para 37 mil famílias, sendo que 90% são pequenos empreendedores. Além disso, gera sustentabilidade, com a preservação da mata nativa da região.

O gerente do IDR-PR, porém, enfatiza que o cultivo da erva-mate sombreada exige capacitação. Por isso a importância da oficina do VRS em União da Vitória. “O que vai melhorar ainda mais o preço do mate é a conquista de novos mercados. E na oficina vamos falar de qualidade, da importância de serem criados novos produtos de mate como, por exemplo, linhas de bebidas energéticas, ou mesmo novas opções de chás”, ressalta Ferreira Pinto.

Bebida caiu no gosto dos países árabes

Um mercado com potencial de exportar a produção paranaense é o dos países do Oriente Médio. Um representante da Câmara Árabe-Brasileira vai falar do potencial de exportação para três países cujo consumo vem da década de 1960 e segue crescendo: Líbano, Síria e Jordânia.

Nesses países o consumo é pela bebida numa espécie de chimarrão, bem como em chás. Desde os anos 1960 a população do Líbano, Síria e Jordânia tem o hábito de consumir mate. Porém, o Brasil pouco exporta para essa região, cujo principal fornecedor é a Argentina.

“Poucos brasileiros sabem, mas os árabes consomem muito mate. Por isso é um mercado potencial para o Brasil, em especial o Paraná, já que são poucos fornecedores para esses países”, informa a analista sênior de Relações Internacionais da Câmara Árabe-Brasileira, Elaine Prates.