Hoje em dia parece que estamos sempre ”com o pé na tábua” como diz aquela expressão. Ou seja, acelerados. A expressão vem de quando os automóveis antigos tinham o piso de madeira e o acelerador ao chegar no assoalho era porque estava em velocidade máxima.

Corremos o dia todo e parece que ainda não fazemos o suficiente. Parece que se o dia tivesse mais de vinte e quatro horas ainda assim estaríamos atrasados em nossos afazeres.

A impressão é que antigamente não era assim. Na roça o dia custava a passar. Há algum tempo vemos a tecnologia nos dar muitos benefícios para economizar tempo em algumas tarefas diárias para termos mais tempo em outras, principalmente para o lazer.

Mas não é isso que vemos na realidade. Aliás a realidade para nós mudou tanto com a tecnologia que nem estamos mais vivendo a realidade direito, apenas sofrendo as consequências da tecnologia nela. Não que a tecnologia seja má, porque na verdade ela é importante inclusive para nossa sobrevivência, mas estamos nos adaptando a muitas inovações e isso requer tempo também.

Esse tempo que parece que não temos mais. O computador em casa veio se juntar à televisão para nos tirar da realidade e mostra´-la numa tela. Depois veio a internet dentro do computador que nos ligou ao mundo conectando pessoas e aparelhos os mais diversos. E, por enquanto, temos o celular que nos aproximou mais da tecnologia e nos afastou das relações pessoais mesmo criando milhares de grupos que estão se conectando com suas afinidades de interesses.

Essas novas relações sociais são como as tribos da antiguidade com a diferença que parece não haver mais fronteiras. Uma tribo demorava muitos anos para se encontrar com outra, costumes diferentes eram assimilados aos poucos e novos aprendizados levavam tempo para fazer parte da cultura que se transformava em cada uma depois desses encontros. E para se conectar com esse novo mundo cheio de novidades é preciso tempo. O tempo que para muitos é dinheiro. O tempo que para outros é simplesmente tempo. Nada mais.

Muitas vezes o tempo é perdido com coisas inúteis que nos fazem perder a vivência com outras pessoas e a própria conexão com a realidade que faz parte de nossa vida real. A vida que nos dá o verdadeiro sentido com o nosso próximo. Alguém que faz parte de nossa família, de nosso círculo de amizade, de nossa vizinhança, de nosso trabalho ou seja lá que tipo de relação tenhamos com as outras pessoas. Vivemos falando sozinhos por aí. Muitos atravessam a rua distraídos com o mundo na mão. O tempo urge. Ou ruge. Nos amedronta com sua velocidade e ansiedade. -“Pé na tábua”, diz ele. E aceleramos o quanto podemos para não perder a última mensagem que chegou. Quando olhávamos o pôr do sol ou o brilho das estrelas das varandas de nossas casas e cantávamos juntos uma moda de viola com nossos pais sabíamos que o dia estava terminando e outro viria de manhã, mas hoje não sabemos mais quando terminar ou começar o dia porque não há mais dia e nem mais noite, apenas um ininterrupto sem fim de cliques, curtidas e mensagens de textos. Como disse outro dia um amigo:

-Que saudade do tempo do avião à lenha!

Dailton Martins, leitor da FOLHA.