Guarapuava segue firme na liderança quando o assunto é produção de cevada, respondendo por 64% da produção estadual (175 mil toneladas)
Guarapuava segue firme na liderança quando o assunto é produção de cevada, respondendo por 64% da produção estadual (175 mil toneladas) | Foto: Gilson Abreu - AEN

O Paraná é líder absoluto na produção nacional de cevada. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que o Estado respondeu por quase 62% da área cultivada e por 72% da produção do cereal no Brasil em 2020.

A área cultivada no Estado registrou uma importante evolução nos últimos anos. Enquanto em 2019 o Paraná destinou 63.956 hectares para as plantações de cevada, no ano passado a área subiu para 75.995 hectares, um crescimento de quase 20%, segundo dados do Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento.

Rogério Nogueira, engenheiro agrônomo do Deral, explica que o Paraná tem vocação para as culturas de inverno.

“O Estado abriga a maior maltaria da América do Sul, localizada em Entre Rios, distrito de Guarapuava”, destaca. Somente a região de Guarapuava foi responsável por produzir 45% de toda a cevada nacional no ano de 2020.

O volume de cevada produzido pelo Estado vem crescendo ano a ano. Em 2019, a produção alcançou 260 mil toneladas, subindo para 274,3 mil em 2020 e atingiu a marca de 311,3 mil toneladas no ano passado. Em dois anos, o crescimento beirou os 20%, assim como a área cultivada.

O VBP (Valor Bruto da Produção), a riqueza produzida pela atividade, aumentou quase 40% de 2019 a 2020, ano em que os dados mais recentes foram consolidados – saltou de R$ 253,4 milhões para R$ 349,2 milhões.

A cevada  é usada para produção de malte, matéria-prima utilizada na fabricação de cerveja
A cevada é usada para produção de malte, matéria-prima utilizada na fabricação de cerveja | Foto: iStock

LIDERANÇA

Hoje, a região de Guarapuava segue firme na liderança quando o assunto é produção de cevada, respondendo por 64% da produção estadual (175 mil toneladas). Em segundo lugar está a região de Ponta Grossa, com 26% de participação (70,3 mil toneladas). Em terceiro, está Irati, com 4% (12 mil toneladas).

Noemir Antoniazzi, pesquisador de cevada da Fapa (Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária) – ligada à Cooperativa Agrária, explica o protagonismo da região de Guarapuava na produção de cevada no Paraná.

“Além de ter as melhores condições edafoclimáticas (relativas ao solo e ao clima) do Estado, a região conta com produtores altamente tecnificados, amparados por uma pesquisa especializada e por uma assistência técnica qualificada e particularizada, sem contar que a cooperativa industrializa a cevada produzida”, enumera.

Antoniazzi explica que a cooperativa presta apoio aos cooperados tanto por meio de assistência técnica como pelas pesquisas realizadas dentro da Fapa. Em 2020, a Cooperativa Agrária contava com 640 cooperados, de maneira que o faturamento obtido naquele ano foi de R$ 4,9 bilhões.

De acordo com dados do Deral de 2020, somente 50 municípios paranaenses produziram cevada nesse ano. O maior produtor foi Guarapuava, responsável pela produção de 82,2 mil toneladas.

O preço da saca de cevada registrou uma valorização de quase 17% no Paraná em novembro de 2021, na comparação com o mesmo mês do ano anterior – R$ 102 contra R$ 85. A produção de cevada paranaense fica 100% no Estado, sendo utilizada na maltaria da Cooperativa Agrária.

NOVA MALTARIA

Com sede em Guarapuava, a Cooperativa Agrária produz malte e possui a maior maltaria comercial da América Latina.

No entanto, um novo projeto, desta vez implantado em Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais, vai consolidar o Paraná na liderança isolada na produção de cevada.

Um pool formado por seis cooperativas confirmou a construção da Maltaria Campos Gerais, cuja primeira etapa deve ser concluída em 2028 e a segunda em 2032, segundo informações da Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento.

Juntas, as cooperativas Agrária (Guarapuava), Bom Jesus (Lapa), Capal (Arapoti), Castrolanda (Castro), Coopagrícola (Ponta Grossa) e Frísia (Carambeí) devem investir R$ 1,5 bilhão no projeto, que somente na primeira etapa de implantação prevê a produção de 240 mil toneladas de malte por ano, 15% do consumo nacional.

Além do empreendimento em si, o investimento também reflete em toda a cadeia de produção. A área destinada para o plantio da cevada poderá chegar a 100 mil hectares, abrangendo diferentes regiões do Estado. É o equivalente a quase toda a área de cultivo do cereal no Brasil atualmente.

ESTREIA

A química Paloma Detlinger e a mãe, a jornalista Karin Milla Detlinger, assumiram as propriedades da família há quatro anos, desde a morte do pai de Paloma. Desde 2021, a cevada começou a ser plantada na fazenda em Entre Rios, distrito de Guarapuava, para complementar as produções de soja, milho e trigo.

Paloma Detlinger trocou a carreira de química para trabalhar na fazenda da família, que produz cevada Entre Rios
Paloma Detlinger trocou a carreira de química para trabalhar na fazenda da família, que produz cevada Entre Rios | Foto: Arquivo pessoal

“Resolvemos começar com a cevada para aproveitar uma área que estava ociosa no inverno e para incluí-la na rotação de culturas. Como é uma cultura que vem apresentando alta rentabilidade nos últimos anos e os bancos começaram a oferecer seguros, iniciamos o plantio”, explica Paloma.

Em 2021, o plantio foi feito em junho e a colheita foi encerrada em novembro. Ao todo, foram 42 hectares de cevada plantados. Foram colhidas 4,5 toneladas por hectare, resultado positivo mesmo diante das chuvas irregulares e do excesso de chuva na florada.

“No ano que vem continuaremos e pretendemos ampliar a área”, anunciou Paloma. Em 2021, foi possível vender a tonelada ao preço de R$ 2 mil a R$ 2,1 mil, o que representou um lucro razoável.

Toda a produção foi comercializada para a Cooperativa Agrária, que comprou a cevada para produção de malte, matéria-prima utilizada na fabricação de cerveja. “Tivemos bons preços e a expectativa é que o mercado siga bem em 2022. Só estamos de olho na alta dos fertilizantes, vamos ver como vai ser.”

Apesar de 2021 ser a estreia de mãe e filha no plantio da cevada, a tradição de plantar o cereal vem desde os bisavós. “Aliamos a tradição familiar ao bom mercado, que com o tempo está ficando cada vez melhor.”

Para obter máximo desempenho na produção, o acompanhamento do agrônomo da Cooperativa Agrária é essencial para promover assistência técnica e boas práticas de manejo.

“A pulverização tem que estar em dia, a quantidade de adubo tem que ser certinha e o plantio deve ser feito na época correta. O resto só depende do clima. Quando chove muito na colheita, há grandes perdas. Granizo também é um problema, já perdemos produções anteriores por chuva de granizo”, diz Paloma.

Apesar de não ter formação no ramo agrícola, Paloma não se vê voltando à química – ela chegou a abrir mão de uma bolsa de doutorado na Alemanha para se dedicar à propriedade da família após a morte do pai.

“Foi o que sempre manteve a renda da nossa família. Na época até fiquei me questionando, mas hoje não me arrependo de ter deixado a vida acadêmica para me dedicar a esse trabalho. Não me vejo mais fazendo outra coisa”, conclui.