Paraná é terceiro Estado em ranking de Indicação Geográfica
Com 12 certificações, estamos atrás de Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Mais sete produtos estão em processo de certificação no Inpi
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sábado, 04 de novembro de 2023
Com 12 certificações, estamos atrás de Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Mais sete produtos estão em processo de certificação no Inpi
LUCAS CATANHO - Especial para a FOLHA
O Paraná se destaca no Brasil quando o assunto são produtos reconhecidos com IG (Indicação Geográfica), espécie de patente que identifica um produto ou serviço originário de um território quando seu diferencial é atribuído à região onde fica.
Hoje, o território paranaense possui 12 produtos com IG, ficando atrás apenas de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, com 19 e 13 produtos certificados, respectivamente.
Mais sete produtos paranaenses estão em processo de certificação no Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual) e outros seis devem ser inscritos até o final do ano (leia mais no quadro). A projeção, portanto, é que o Paraná alcance 25 produtos certificados.
108 PRODUTOS
O Brasil conta hoje com 108 produtos reconhecidos com Indicação Geográfica, sendo 83 de procedência e 25 de origem.
As IGs (Indicações Geográficas) contêm duas classificações: IP (Indicação de Procedência) – quando a região torna-se conhecida como centro de produção, fabricação ou extração de determinado produto. Ou seja, está relacionada à tradição e à reputação dos produtores. Um exemplo seria o champagne, espumante da região francesa que acabou levando o nome da região.
Outra classificação é a DO (Denominação de Origem), reconhecimento de um produto de determinada região cuja notoriedade se dá exclusivamente pelas características do produto proveniente do meio geográfico. Um exemplo seria um mel com sabor e aroma diferenciados porque a localidade onde é cultivado interfere nas características do produto.
NOVO
Maria Isabel Guimarães, gestora estadual das Indicações Geográficas do Paraná pelo Sebrae, explica que o Brasil ainda é novo quando se fala em IG – para se ter uma ideia, o primeiro produto a ser certificado nesse quesito foi o Vinho do Porto, em Portugal, em 1756.
“O interesse do Brasil começou a se intensificar desde 2009, levantando os produtos com vocação em seus Estados”, explica.
A primeira região do país a ser oficialmente reconhecida como Indicação Geográfica foi o Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul, em 2005. No Paraná, quem abriu a lista foram os Cafés Especiais do Norte Pioneiro, em 2015.
108 PRODUTOS
Para requisitar esse reconhecimento, o proponente deve ser uma associação ou sindicato. Uma espécie de dossiê contendo informações completas sobre determinado produto, como o histórico, por exemplo, deve ser protocolada no Inpi, órgão que concede a Indicação Geográfica.
“O reconhecimento de determinado produto fomenta toda a economia. São restaurantes, lojas, hotéis, o turismo em geral se beneficia. Além disso, o produto se torna mais fácil para exportação”, explica Maria Isabel Guimarães. O Sebrae age como consultor, dando apoio aos proponentes em questões como documentação e divulgação.
BARREADO
O Barreado do Litoral do Paraná recebeu a certificação de Indicação Geográfica em dezembro do ano passado. Os municípios envolvidos são Antonina, Morretes e Paranaguá. Por semana, essas três cidades servem 7 mil refeições.
O prato é feito essencialmente à base de carne de gado, toucinho, cebola, louro, cominho, sal e pimenta. É servido com arroz branco, banana-maçã e laranja de acompanhamentos.
O pedido ao Inpi para receber a certificação partiu da Arsimer (Associação de Restaurantes e Similares de Morretes e Região).
“A grande preocupação dos empresários que sempre trabalharam com o barreado era o seu reconhecimento oficial, pois assim conseguiríamos preservar a sua história, seu modo de fazer e servir”, destaca Cynthia de Cássia Madalozo, presidente da entidade.
DESDE 1970
Comercialmente, o prato começou a ser preparado e servido a partir de 1970. “Os restaurantes dão início a uma corrente. Posteriormente essas pessoas ficam em pousadas, gastam nas lojas de artesanato, nas barracas das feiras, postos de gasolina. Os funcionários, por sua vez, fazem compras nas lojas e supermercados locais”, destaca.
Tânia Laffitte é sócia do Restaurante Madalozo, em Morretes. O estabelecimento foi inaugurado em 1967 e começou a servir o barreado em 1972, prato que acabou caindo no gosto dos curitibanos que iam aos finais de semana para o município turístico.
“Após esta certificação, sentimos que a nossa responsabilidade como empresa ficou bem maior em relação aos nossos clientes, aos funcionários e às gerações futuras. Devemos preservar e difundir essa vocação turística. Por meio do barreado, são gerados muitos empregos para a população local, não precisando se deslocar para outras cidades”, conclui.
BALAS DE BANANA
A produção de balas de banana em Antonina, litoral paranaense, rendeu a conquista da Indicação Geográfica há quase três anos. O município conta hoje com duas fábricas, Balas de Banana Antonina (bala verde) e Bananina (bala laranja), que começaram a atuar ainda na década de 1970.
As duas fábricas geram juntas mais de 50 empregos diretos e indiretos. Incluindo os produtores de banana, outras 100 famílias de produtores rurais da região são beneficiadas ao venderem a matéria-prima para a fabricação do doce.
Rafaela Takasaki Corrêa, diretora das Balas Antonina e presidente da Aprobam (Associação dos Produtores de Bala de Banana de Antonina e Morretes), está na terceira geração da família atuando na indústria, com início da produção em 1979.
VISIBILIDADE
Ela relembra o início do processo para obtenção da Indicação Geográfica. “O Sebrae fez a proposta para a gente, fizemos treinamentos, estudamos o assunto e percebemos o quão importante seria ter essa chancela, para que o nosso produto fosse incontestável, já típico na região.”
A empresária destaca que a conquista da Indicação Geográfica fez com que restaurantes começassem a incorporar a bala de banana em alguns pratos, sendo que os chefs passaram a utilizar a bala como ingrediente. Até artesãos estão utilizando a fama do doce para incorporar a identidade visual às suas obras. “Ainda não conseguimos mensurar, mas já está acontecendo esse tipo de iniciativa.”
A presidente da associação ressalta que o reconhecimento proporcionou mais visibilidade do produto, passando a conquistar mercados que valorizam esse reconhecimento, onde antes não havia tanta oportunidade.
“Há mais de oito anos estamos nesse processo, não é do dia para a noite. Estamos começando a ver os resultados agora, mas é muito gratificante sair dos muros das fábricas e se estender a outros CPFs e CNPJs”, conclui