O Paraná fechou o ano de 2022 com 3.916 produtores de orgânicos certificados, o maior número no Brasil entre os Estados que corresponde a 16% dos agricultores do País nesse segmento (24.377).

Dados do Ministério da Agricultura mostram que, em dez anos, esse tipo de produtor está cada vez mais presente em território paranaense – em 2012, havia somente 277 produtores certificados no Estado.

A liderança nesse quesito pode ser explicada por alguns aspectos. O primeiro é o fato de a agricultura paranaense ser constituída majoritariamente pela agricultura familiar, algo em torno de 80% do total da atividade agrícola praticada no Estado.

“Isso faz toda diferença, na medida em que há uma maior diversificação dos cultivos. Trabalha-se numa escala menor e em pequenas áreas, com uso dos cultivos protegidos em estufa”, explica Rogério Barbosa Macedo, membro do Comitê Gestor do programa Paraná Mais Orgânico.

Outro aspecto é o histórico que o Paraná possui na pesquisa agronômica e no serviço de extensão rural públicos, com planejamento e execução de ações que elevam o aprendizado dos agricultores e priorizam o trabalho na organização rural, por meio do IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural) Paraná.

O Feirão da Resistência e Reforma Agrária, realizado todo segundo sábado do mês em Londrina
O Feirão da Resistência e Reforma Agrária, realizado todo segundo sábado do mês em Londrina | Foto: Arquivo pessoal

“E, mais recentemente, o programa Paraná Mais Orgânico, que dá aos agricultores familiares o suporte necessário à viabilização do acesso ao certificado de conformidade orgânica”, destaca.

O programa de apoio aos agricultores familiares que desejam investir no cultivo orgânico foi criado no Estado em 2009. É mantido pelo Fundo Paraná, ligado à Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, órgão do governo do Estado.

O programa promove várias ações de fomento aos agricultores familiares que desejam investir no cultivo orgânico: estudo de caso na propriedade rural e os apontamentos do que fazer; assistência técnica para culturas que o produtor deseja tornar orgânicas, além da elaboração de um plano de manejo orgânico e de auditoria para inspeção in loco das práticas adotadas pelo produtor.

“Não havendo nenhuma não conformidade com a legislação, em 30 dias o agricultor familiar recebe o certificado de conformidade orgânica gratuitamente, com validade de um ano”, explica Macedo.

O número de consumidores de alimentos orgânicos cresceu 30% no Brasil entre 2019 e 2021, segundo a  Organics, entidade especializada no setor
O número de consumidores de alimentos orgânicos cresceu 30% no Brasil entre 2019 e 2021, segundo a Organics, entidade especializada no setor | Foto: iStock

Estima-se que a produção orgânica no Paraná seja de 50 mil toneladas/ano, envolvendo diversas cadeias (hortifrúti, grãos, mandioca) e modalidades de comercialização, incluindo feiras e cestas para entrega ao consumidor.

LONDRINA

A produtora rural Jovana Cestille começou a produção agroecológica há seis anos no assentamento Eli Vive, em Londrina. Hoje, a maior parte da sua produção vai para a merenda escolar municipal e estadual, por meio da cooperativa do assentamento, a Copacon. Ao todo, cerca de 30 famílias do assentamento já se dedicam a esse tipo de produção.

A produtora vem participando de feiras agroecológicas há cinco anos. Hoje, Cestille é membro da coordenação do Feirão da Resistência e Reforma Agrária, realizado todo segundo sábado do mês em Londrina, das 9h às 17h, no Canto do MARL – avenida Duque de Caxias, 3.241.

Ampla variedade de produtos são comercializados no Feirão, como tomate, alface, couve, abobrinha, beterraba, cenoura, repolho, temperos, mandioca, escarola, rúcula, entre outros hortifrútis.

Segundo Jovana, um dos desafios da atividade ainda é quebrar algum preconceito do público sobre a produção orgânica.

Jovana Cestille começou a produção agroecológica há seis anos no assentamento Eli Vive, em Londrina: "Hoje, com manejo adequado, é possível produzir com qualidade e produtividade”
Jovana Cestille começou a produção agroecológica há seis anos no assentamento Eli Vive, em Londrina: "Hoje, com manejo adequado, é possível produzir com qualidade e produtividade” | Foto: Arquivo pessoal

“Se por um lado hoje tem um público que já consome alimentos sem veneno, por outro ainda existe alguma crença de que alimentos orgânicos são pequenos e de baixa produtividade. Mas hoje, com manejo adequado, é possível produzir com qualidade e produtividade”, destaca.

Além do trabalho realizado pelo assentamento Eli Vive, há também o grupo de mulheres do Eli Vive II, que realiza a entrega de cestas agroecológicas em Londrina e participa de outras feiras.

CRESCIMENTO em todo o Brasil

A tendência da produção orgânica é de franco crescimento no Brasil. A Organics, entidade especializada no setor, aponta que o número de consumidores de alimentos orgânicos cresceu 30% no Brasil entre 2019 e 2021. Atualmente existe até “consumo por assinatura”. Nesse formato, os clientes firmam o compromisso de adquirir alimentos cultivados pelo produtor durante um período, normalmente um ano.

No Paraná, assim como em território nacional, a atividade deve seguir crescendo a passos largos. “O mercado está ávido por produtos orgânicos. Só no Norte Pioneiro, hoje temos por volta de 15 empresas privadas de São Paulo, do Paraná e de outros estados que vêm aqui comprar a produção orgânica de diversos municípios”, explica Rogério Macedo, membro do Comitê Gestor do programa Paraná Mais Orgânico..

Outro incentivo é a lei estadual, já em vigor, para tornar 100% da merenda escolar no Paraná obrigatoriamente orgânica em 2030. Hoje, os alimentos orgânicos correspondem a 20% dos alimentos adquiridos pelo Estado.

PRIMEIRO PASSO

O agricultor que deseja se dedicar ao cultivo orgânico no Paraná deve procurar um profissional no escritório do IDR em seu município. Se for um agricultor familiar, ele poderá ser encaminhado a um dos Núcleos de Certificação Orgânica do programa Paraná Mais Orgânico, associados às sete universidades estaduais e a dois escritórios do IDR em todo o Estado.

Para comercializar orgânicos, o produtor deve passar por auditoria realizada pelo Tecpar ou por outras certificadoras privadas, ou por certificação participativa, no caso do trabalho da Rede Ecovida.

“A certificação estadual, no caso, seria qualquer uma dessas, desde que o produtor tenha tido o apoio do programa Paraná Mais Orgânico. Nesse caso, todos os trabalhos são gratuitos para os agricultores familiares. A exigência de certificação pelo Ministério da Agricultura ocorre no caso de OCSs (Organismos de Controle Social).

O QUE É AGROECOLOGIA

A produção orgânica consiste em um modelo tecnológico que faz parte da agroecologia, concebida como uma nova forma de ciência agronômica. Trata-se também um movimento político, na medida em que associada a ela estão bandeiras históricas como o feminismo, a reforma agrária e a preservação ambiental. O movimento orgânico, por sua vez, se insere na agroecologia como o conjunto de técnicas e metodologias que leva à produção de um alimento saudável associado à preservação ambiental.

FEIRAS

O governo do Paraná criou, em 2022, um mapa de feiras de produtos orgânicos e agroecológicos. A ferramenta, disponível no site da Seab (Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento), contém datas, horários e endereços e está sendo atualizada constantemente.

Ela ajuda paranaenses a encontrar perto de casa o melhor espaço para que o consumo de orgânicos ganhe cada vez novos adeptos.

Ao todo, há feiras cadastradas em 24 municípios paranaenses. Para saber qual a feira de orgânicos mais próxima da sua casa, basta acessar: agricultura.pr.gov.br/Organicos