Imagem ilustrativa da imagem No ônibus

Faço parte de uma família numerosa: mãe de 93 anos e dez irmãos. Nossos pais nos ensinaram a respeitar os mais velhos, agradecer, cumprimentar as pessoas, enfim, transmitiram valores morais, éticos, religiosos; tivemos então, uma boa educação. Nossa casa é movimentada; todos os dias vem um irmão, um sobrinho, um amigo, uma amiga, mas no final da semana, quase todos passam por aqui. Conversamos sobre os fatos do momento; muitas vezes, recordamos nosso tempo de criança em Sertaneja; a adolescência em Assis, nossas férias em nosso sítio em Barbosa Ferraz e na fazenda Serrinha dos nossos avós, em Cássia dos Coqueiros (SP). Alguns dos meus irmãos ainda recordam quando foram trabalhar em nossas terras do Mato Grosso, com o papai e a mamãe. Diziam que foi uma época muito difícil. Esses encontros em família são bem agradáveis, rimos bastante com os acontecimentos passados.

Um dia desses, o Sertão, nosso irmão protético, contou um fato acontecido quando vinha nos ver. Entrou no ônibus lotado, não tinha lugar pra sentar e ficou em pé ao lado de um senhor mais velho e do outro, um adolescente sentado, com celular e fone de ouvido. Novidade !! O Sertão olhou um, olhou o outro e falou para o rapaz se podia ceder seu lugar para o homem ali do lado. Ele fez que não ouviu ou pode ser que não estivesse ouvindo mesmo. Aí, nosso irmão tocou em seu ombro, que tirou o fone do ouvido, e o Sertão repetiu que era para dar o seu lugar para aquele homem. O garoto olhou para o senhor mais velho e perguntou:

- Ei, tio, quantos anos você tem ?

- Eu tenho 73, respondeu ele.

- Você tem 73 anos ? Ah, então, o senhor já sentou muitas vezes na vida. Agora pode muito bem ficar em pé - falou rindo e debochando o garoto, que recolocou o fone no ouvido, continuou a usar o seu celular e continuou sentado.

As pessoas ficaram espantadas com o que ouviram e o Sertão, indignado, perguntou ao cobrador se ele não podia fazer nada. O cobrador apenas respondeu:

- Rapaz, a gente não pode fazer nada.

Aqui em casa ficamos horrorizados com o acontecido, mas fazer o quê ? O saber, o conhecimento, tudo isso é ofertado a todos, mas a educação... esta, nem sempre as pessoas têm, infelizmente.

Idiméia de Castro, leitora da FOLHA.