O palestrante Arthur Igreja esteve em Londrina na última semana para participar da INTech 2023, evento de inovação e tecnologia promovido pela Integrada Cooperativa Agroindustrial. Foram reunidas 30 cooperativas e cerca de 40 empresas de diversas regiões do país. Essa foi a quarta edição do evento, tendo “Liderança integradora: semeando inovação, colendo eficiência” como tema.

Igreja ministrou a palestra “Inteligência Artificial e suas oportunidades para o cooperativismo”, em que destacou como as práticas inovadoras têm impacto profundo na economia e na prática cotidiana das pessoas.

Em entrevista à FOLHA, ele ressaltou que “não há nada mais moderno” que o cooperativismo, uma vez que essa prática reúne agendas de sustentabilidade, governança e impacto social, que estão em voga hoje, mas que sempre fizeram parte da raiz das cooperativas.

Para Arthur Igreja,  pensar a IA como um elemento negativo, que pode retirar empregos "é uma lenda"
Para Arthur Igreja, pensar a IA como um elemento negativo, que pode retirar empregos "é uma lenda" | Foto: Douglas Kuspiosz

“Assim como a busca por modelos de negócios que sejam mais inclusivos, que mais pessoas possam participar. O cooperativismo é assim, não tem uma relação de venda e compra, de você ter acionistas de um lado e clientes do outro. As pessoas são participantes da cooperativa, e é por isso que temos essa prosperidade em várias regiões”, afirma.

`COISA DE FICÇÃO CIENTÍFICA´

Igreja também destaca que as tecnologias de IA (Inteligência Artificial) podem contribuir com o agronegócio, sobretudo a partir da otimização de atividades. Isso fica claro quando se observa o aumento de produtividade no campo nas últimas décadas, que era “coisa de ficção científica”, para o palestrante.

“Outra coisa que eu sempre destaco é que, se você pensar a pesquisa, nós temos uma revolução no Brasil causada pela Embrapa, que é fruto da pesquisa. Hoje você pode usar algoritmos muito poderosos para otimizar a pesquisa”, apontando que isso pode contribuir para o desenvolvimento de defensivos, insumos e produtos em um espaço de tempo cada vez menor.

Frente a esse cenário tecnológico inevitável, pensar a IA como um elemento negativo, que pode retirar empregos, por exemplo, “é uma lenda”, opina Igreja. A evolução das atividades profissionais é constante e a capacidade de reconfiguração é o grande segredo.

‘PONTO SEM RETORNO’

Essa é uma opinião semelhante à do gerente de TI (Tecnologia da Informação) da Integrada, Emerson Zanoti, que aponta que este é um “ponto sem retorno” para o uso da IA. Apesar de ainda estar em processo de evolução, quem não buscar entender ou incorporar no dia a dia “vai entregar menos do que as pessoas que estão utilizando isso”.

Emerson Zanoti afirma que o uso de IA na agropecuária é um "ponto sem retorno"
Emerson Zanoti afirma que o uso de IA na agropecuária é um "ponto sem retorno" | Foto: Douglas Kuspiosz

Zanoti também avalia que existem pelo menos duas vertentes para o uso dessas ferramentas: a primeira representa uma melhoria operacional, a partir da otimização de sistemas existentes, e um avanço no atendimento ao cooperado; já a segunda é da porteira para dentro, auxiliando o produtor no uso da agricultura de precisão, por exemplo.

“Esse evento vem para provocar e fazer uma reflexão de como podemos utilizar [a tecnologia] ainda mais na prática. Tem muito esse debate que precisa, por mais que a IA seja uma realidade, precisamos trazer em uma camada de governança e entender como vai ser dentro das corporações para fazer um uso melhor e mais consciente disso”, completa.

INOVAÇÃO EM PAUTA

André Galleti, gerente de Planejamento e Desenvolvimento da Integrada, ressalta que a cooperativa tem a inovação como um dos seus valores e que “o solo precisa ser fértil para realmente produzir”. É a partir de um ecossistema de inovação forte que todos os agentes envolvidos acabam ganhando, acredita.

Entre os usos da tecnologia no campo, Galleti afirma que é possível utilizar algoritmos em satélites para identificar áreas agricultáveis e quais culturas estão sendo trabalhadas. Também está em desenvolvimento um sistema de acompanhamento e monitoramento da saúde das lavouras, buscando anomalias para direcionar o agrônomo no ponto correto.

“Isso é inovação da porteira para dentro, que aumenta a produtividade com rentabilidade. Todas essas iniciativas de inovação são muito bem recebidas”, completa.