Cerca de 20% das propriedades rurais do Paraná são comandadas por mulheres, segundo o Censo Agropecuário do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Elas também participam da gestão compartilhada da propriedade, sendo tomadoras de decisões em conjunto com os maridos.

Juliana Hernandes destaca maior participação da mulher no agro nos últimos dez anos
Juliana Hernandes destaca maior participação da mulher no agro nos últimos dez anos | Foto: Arquivo pessoal

“A participação das mulheres no agro vem crescendo nos últimos dez anos e a mulher vem exercendo não só um papel ativo de trabalho no setor, como vem sendo empreendedora”, destaca Juliana Hernandes, coordenadora da pós-graduação em gestão estratégica do agronegócio da PUC em Londrina.

Ela explica que, na esteira das transformações sociais, as mulheres foram para as universidades, se graduaram, se especializaram e ganharam espaço para exercer as profissões que desejavam, vencendo qualquer tipo de estereótipo que as relacionassem com determinadas profissões.

“Hoje em dia, a mulher, de modo geral, tem oportunidade de escolher qual ofício deseja exercer e, especialmente em nosso Estado, não poucas optam pelo agro”, destaca.

Agregar

Sobre as mulheres no agro, Juliana destaca que elas não estão “competindo” com os homens no setor, mas atuam para agregar na gestão, no planejamento e na execução das atividades rurais.

“As mulheres são multifuncionais, atenciosas, persistentes e focadas quando se trata de cuidar da família. Dessa forma, podem agregar trazendo constância no trabalho, uma visão ampla e ao mesmo tempo detalhista. No que se refere ao campo humano da profissão, podem colocar aquela paixão tão feminina pelas coisas e pessoas que lhe são caras.”

Imagem ilustrativa da imagem Mulheres comandam 20% das propriedades rurais do Paraná
| Foto: Arquivo pessoal

De acordo com a docente, outra característica é que a mulher tem uma vocação natural para ensinar e acolher, assim as relações de trabalho gerenciadas por ela podem ser mais duradouras, uma vez que tendem a contar mais com o elemento do tempo para que as coisas se realizem e os aprendizados se efetivem.

Ela no trator

“Já me disseram que lugar de mulher é em casa. Às vezes alguém me pergunta na rua: ‘Passei lá na estrada. Era você dirigindo o trator?’”. Sim, era ela mesma. Essa visão machista, no entanto, não abala Amanda Piteri Alcântara, 29 anos. Pelo contrário: dá a cada dia mais força para ela seguir ajudando e fazendo a diferença na administração da propriedade da família.

“Nós mulheres somos capazes de fazer muitas tarefas que até então eram trabalhos para homens”, destaca.

Amanda saiu de Londrina e resolveu morar na fazenda, uma propriedade de 222 hectares em São Sebastião da Amoreira, há cerca de quatro anos. Moram com ela o pai, Ivan, a mãe, Sandra, o irmão Allan, e a filha, Valentina.

Amanda Piteri participa da gestão da propriedade da família há cerca de quatro anos
Amanda Piteri participa da gestão da propriedade da família há cerca de quatro anos | Foto: Arquivo pessoal

Assim que resolveu ajudar na administração da fazenda, muitas coisas precisaram ser ajustadas. “O barracão, que era muito desorganizado, passou a ter mais organização, com peças de uso diário separadas por seção, para que em momentos de imprevisto durante o trabalho sejam de rápido acesso.”

Amanda também aprendeu a conduzir o trator, a aplicar veneno, a plantar e a colher. “É claro que eu não tenho a experiência que pessoas que nasceram na roça têm. Longe de mim, mas dessa maneira eu posso opinar com a experiência de saber como é determinada função”, pontua.

Ela entendeu que para dar determinada ordem a alguém é preciso ter o mínimo de noção, e o mais importante: ter sempre a humildade de aprender com os que sabem mais.

“O trabalho é pesado, são funções realizadas basicamente por homens, mas quando resolvi aprender sobre o trabalho da roça, pensei que era muito possível uma mulher fazer certas funções. Embora essa tarefa seja trabalhosa, é muito gratificante cuidar das terras que são do meu pai há tantos anos e foram compradas com muito trabalho.”

Ela teve como "professor” um funcionário da fazenda chamado Francisco. “Ele foi uma pessoa que acreditou em mim, que me ensina até hoje muitas coisas e sempre conta que as pessoas perguntam para ele se eu realmente faço o serviço de tratorista.”

Núcleo

Amanda acrescenta que, na cooperativa Cocamar, existe um núcleo feminino em que várias mulheres acompanham as lavouras junto às famílias.

“A Cocamar nos proporciona uma ótima instrução. Ter esse suporte e o apoio de tantas outras pessoas deixa tudo mais tranquilo. Existem mais pessoas para apoiar do que para desqualificar”, comemora.

A 750 metros de altitude em média, a propriedade apresenta condições adequadas para a produção de sementes, tanto que a totalidade das lavouras de soja está voltada a esse objetivo. No inverno, as terras são ocupadas por milho e trigo.

Apesar da dedicação ao campo, Amanda voltou a fazer atendimentos na área da estética há um mês. “Mas não deixei de cuidar de perto e trabalhar na fazenda. Continuo conciliando os dois trabalhos, o que tem me deixado muito satisfeita, pois são duas coisas que gosto muito de fazer”, conclui.

Cursos

Além do suporte das cooperativas, cursos não faltam para disseminar conhecimentos sobre a gestão das propriedades rurais. Um dos exemplos é o curso de Gestão Estratégica do Agronegócio, oferecido pela PUC do Paraná.

O conteúdo foi pensado para que o gestor do agronegócio tenha o máximo de aprendizado, explorando as diversas áreas necessárias para o bom desenvolvimento de seus negócios.

As aulas iniciam em maio e as inscrições podem ser feitas pelo site: www.pucpr.br/cursos-especializacao/gestao-estrategica-do-agronegocio/