Se muito dos números bilionários da silvicultura paranaense foram puxados pela indústria de papel e celulose no último ano, também é preciso salientar que a área de plantio de florestas do Estado se estabilizou. De acordo com o IFPR (Instituto de Florestas do Paraná), vinculado à Seab (Secretaria de Agricultura do Abastecimento), o valor atual é de quase 1,1 milhão de hectare, referente a mapeamento realizado em 2015.

Imagem ilustrativa da imagem Movimento inverso de produtores acende alerta vermelho do setor
| Foto: Marcos Zanutto
No início dos anos 2000, risco de apagão florestal impulsionou plantio de florestas com rentabilidade superior ao das lavouras. Porém, 16 anos depois preços da madeira estão no mesmo patamar daquela época, enquanto a soja passou de R$ 30 para R$ 70 a saca



O diretor de florestas do IFPR, Benno Henrique Weigert Doetzer, relata que os números são diferentes dos levantados pelo IBGE. Ele explica que o instituto nacional trabalha muito com dados declaratórios enquanto o IFPR fez um mapeamento a campo das áreas plantadas que sejam superior a 276 metros quadrados. "Antes desse mapeamento, trabalhávamos com um número entre 700 mil e 800 mil hectares. Portanto, houve uma melhora na base de plantio."

Evolução, que segundo Doetzer, aconteceu principalmente entre os anos de 2002 e 2012. De lá pra cá, esse crescimento não acontece mais dessa forma. "No início dos anos 2000 existia uma perspectiva de apagão florestal, o consumo aumentava significativamente e a floresta demorava para atender essa demanda e portanto os preços na época foram elevados. Nenhuma lavoura anual de soja ou milho se equiparava ao rendimento de uma floresta. Passados 16 anos, vemos que os preços da madeira estão no mesmo patamar daquela época, enquanto a soja passou de R$ 30 para R$ 70 a saca."

Portanto, de acordo com o especialista, um movimento inverso tem acontecido atualmente. Enquanto naquele período de boom florestal muitos produtores deixaram as culturas anuais para apostar em grandes maciços florestais, agora o que se vê é um retorno para áreas de agricultura e pecuária. "Nos últimos anos, a madeira não tem sido competitiva. O produtor que apostou lá atrás e esperava esse retorno econômico, isso acabou não se materializando."

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Para o diretor do IFPR, os ganhos florestais efetivamente acontecem no final do ciclo, com a madeira mais nobre, que vai para as serrarias e para o desdobro. Até lá, o produtor precisa fazer o desbaste da floresta, utilizando a madeira nas indústrias de papel e celulose, queima de cavaco (energia), MDF, entre outras utilidades que não necessitam uma madeira tão grossa. "Boa parte dos produtores, ao invés de fazer o manejo e aguardar mais 4 ou 5 anos para fazer o corte raso e agregar maior valor, já está fazendo isso agora, até pela própria atuação da Klabin, que não se interessa por madeira grossa. Como existe esse mercado, ao invés dos produtores ficarem alguns anos mais com a floresta, estão vendendo para esse tipo de beneficiamento e convertendo essas áreas em outras atividades."

Isso gera um alerta vermelho na indústria paranaense, afinal, ela não é apenas voltada ao papel e celulose, mas também serraria, chapas e aglomerados, compensados, diferentemente de outros estados como Minas Gerais e Bahia. "Existe essa diversidade de aplicação da madeira, sem contar que boa parte dos plantios não estão vinculados a indústrias diretamente. Por isso. Com a retirada das florestas antes do tempo, a indústria, principalmente serrarias, vão ficar com falta de matéria-prima, já que não se espera a floresta chegar ao ponto de corte. O setor florestal está buscando alternativas para incentivar o produtor a manter a produção por mais tempo. É claro que para se consolidar o consumo florestal a madeira de baixa qualidade é essencial, seja papel e celulose ou energia, mas os ganhos de fato vêm com a madeira mais nobre."

Por fim, Doetzer acredita que para o futuro da atividade no Paraná, os maciços florestais vão dar espaço para a integração do componente florestal com outras atividades, a famosa Integração Lavoura Pecuária Floresta. "São pequenas plantações dentro das propriedades rurais, de três a cinco hectares. Uma alternativa de renda para o produtor em áreas que são degradadas, sem uso, junto aos sistemas tradicionais de produção." (V.L).