BRASÍLIA, DF - O senador Carlos Fávaro (PSD-MT) tomou posse logo na segunda-feira (2) como ministro da Agricultura e Pecuária do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a missão de "pacificar o agronegócio", combater a fome e "abrir as portas" para o crescimento da produção sustentável.

Ministério do Desenvolvimento Agrário vai funcionar no mesmo prédio da Agricultura: transversalidade
Ministério do Desenvolvimento Agrário vai funcionar no mesmo prédio da Agricultura: transversalidade | Foto: Valter Campanato - Agência Brasil

"Imaginem quantos brasileiros não estão tendo uma boa tarde. Quantos brasileiros não puderam almoçar hoje. E esse é o grande desafio que nós temos que enfrentar neste governo. É o primeiro desafio. Para a agricultura, a produção de alimentos tem papel fundamental", disse.

"Muitos têm dito: 'como será o conflito do ministro Carlos Fávaro com a ministra Marina Silva [do Meio Ambiente]? Com Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário?' E eu posso adiantar a vocês: todos se surpreenderão, porque estamos todos do mesmo lado. Queremos e vamos ter a produção agrícola mais sustentável do mundo."

A cerimônia de posse de Fávaro foi acompanhada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, pelo novo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG), e pelos senadores Jayme Campos (União-MT) e Wellington Fagundes (PL-MT) -do mesmo partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O senador Carlos Fávaro: "Queremos e vamos ter a produção agrícola mais sustentável do mundo."
O senador Carlos Fávaro: "Queremos e vamos ter a produção agrícola mais sustentável do mundo." | Foto: José Cruz/Agência Brasil

Fávaro assume o ministério que foi ocupado pelo amigo e colega de partido Marcos Montes (PSD-MG), que foi número dois da ex-ministra Tereza Cristina (PP-MS). Apesar da proximidade, Marcos Montes não participou da cerimônia nesta segunda-feira, assim como todos os ministros de Bolsonaro até aqui.

O ex-ministro foi representado pelo ex-secretário-executivo da pasta, Márcio Eli Almeida. Em um gesto simbólico de transmissão do cargo, Eli colocou no terno de Fávaro o pin do Ministério da Agricultura e Pecuária. Ele pediu união do setor e afirmou que Fávaro "é a pessoa certa, no lugar certo".

`O agro brasileiro tem desafios gigantescos´

"Cada tempo tem o seu desafio e não cabe aqui falar dos desafios da gestão que se encerrou. Cabe aqui falar que é o tempo de todos somarmos esforços pelos propósitos do ministro Carlos Fávaro, para o sucesso da sua gestão. O seu sucesso é o sucesso da agropecuária brasileira", disse Eli Almeida."O agro brasileiro tem desafios gigantescos. Temos que olhar para frente. O agro tem que estar unido em torno do ministro Carlos Fávaro, da sua gestão. Por tudo o que ouvimos, é a pessoa certa, no lugar certo, no momento certo, para conduzir os destinos do agro brasileiro."

Em meio à radicalização de parte do setor - que inclusive está sendo investigada pelo financiamento de atos antidemocráticos e bloqueio de estradas -, o novo ministro disse que uma de suas maiores missões será "pacificar o agronegócio". "A eleição acabou, e nós temos um novo presidente. Eu convoco a Frente Parlamentar da Agropecuária, o Ipa (Instituto Pensar Agro) para que tragam lideranças não para apoiar o governo, mas que estejam alinhadas, que queiram construir pontes", disse.

"Uma das minhas maiores missões é pacificar isso. Pacificar o agronegócio com lideranças que queiram o bem da nossa agropecuária, que queiram o bem do nosso produtor rural. Que queiram combater a fome." Sem citar Bolsonaro, Gilmar Mendes também destacou as ameaças à democracia e disse que o lugar daqueles que perdem é na oposição. "A eleição se encerra. Cabe a quem ganhou governar. Portanto, [quem perdeu deve] lamber as feridas, eventualmente chorar e se preparar para as próximas eleições."

O ministro do STF disse ainda que os desafios do país são "enormes" e pediu empenho ao desenvolvimento social, como o combate à fome. Gilmar Mendes lembrou das pessoas que estão em filas atrás de ossos e disse que, em um país "com tantos bois", "isso é extremamente constrangedor".

Em entrevista à Folha de S.Paulo após o resultado das eleições, Marcos Montes afirmou que o ministério sob o governo de Lula tinha "tudo para dar certo" se recebesse a mesma atenção dada por Bolsonaro, e que aplaudia os nomes que estavam colocados - entre eles o de Fávaro.

"Com certeza, vossa excelência vai ficar na história por assumir em um momento de muita dificuldade, onde, acima de qualquer coisa, precisa ter capacidade de diálogo e compreensão de chamar o setor para dentro e falar 'Olha, já fizemos no passado'", afirmou Geller na segunda-feira, durante a cerimônia de posse.

Com a recriação dos ministérios do Desenvolvimento Agrário e da Pesca, o senador assume o Ministério da Agricultura e Pecuária com estrutura bem menor que a anterior. Fávaro se aliou a Lula no início da campanha e foi um dos principais interlocutores do petista junto ao setor. Mesmo tendo sido apresentado como cota do PSD, de Gilberto Kassab, para a sigla aderir à base do futuro governo, Lula já tinha escolhido o senador pessoalmente.

No dia em que foi anunciado pelo presidente para o comando do ministério, Fávaro afirmou à Folha de S.Paulo que o saldo dos últimos quatro anos para o setor tinha sido negativo, apesar do apoio majoritário de ruralistas à reeleição de Bolsonaro. Com mandato até 2027, Fávaro precisou convencer seus dois suplentes no Senado a integrarem a base de Lula para assumir o ministério. Margareth Busetti (PSD-MT) e José Esteves de Lacerda Filho (PSD-MT) trocaram o PP pelo PSD e vão se revezar no cargo.

"A eleição acabou e ela tem direito de ter escolhido o candidato dela, mas, agora, eu peguei uma missão para ajudar a agropecuária brasileira. Não é justo politicamente que minha suplente vá lá e vote contra. Ela pode ter as ideologias dela, mas tem que votar com o governo. E vai votar com o governo", disse o ministro na entrevista publicada na semana passada. Na cerimônia de posse desta segunda, também estavam o presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, deputado estadual Eduardo Botelho (DEM-MT), o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB-MT), e o futuro procurador-geral de Justiça de Mato Grosso, Deosdete Cruz Júnior.

Mesmo prédio

Os ministérios da Agricultura e Pecuária; Pesca e Aquicultura; e do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar vão funcionar no mesmo prédio na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, onde ficava o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), no bloco D.

A decisão foi tomada na quarta-feira (4), após reunião dos chefes de cada pasta, os ministros Carlos Fávaro, André de Paula e Paulo Teixeira, respectivamente.

Eles concluíram por manter os ministérios no mesmo prédio para melhor funcionalidade e operacionalidade das equipes que atuam em áreas correlatas. Os espaços e andares destinados a cada pasta foram definidos pelos ministros durante o encontro.

"Cada um de nós estará focado nas prioridades de sua pasta, mas sempre trabalhando em sintonia, buscando a transversalidade para o melhor desenvolvimento das ações. E essa proximidade entre as equipes é muito salutar para um trabalho eficiente e alinhado nas diferentes esferas", disse Carlos Fávaro.