A suplementação mineral serve para corrigir deficiências e desequilíbrios de minerais encontrados na dieta do animal. A concentração de minerais nas pastagens varia bastante em função da espécie forrageira, fertilidade, drenagem e pH (acidez) do solo, época do ano e manejo, entre outros itens.
De forma geral, forrageiras em solos de menor fertilidade são as mais deficientes em minerais, daí a necessidade de fazer a mineralização para equilibrar a dieta e as necessidades físicas dos animais. Os capins panicum, colonião e tanzânia, mais exigentes em relação à fertilidade, costumam ser mais ricos em minerais do que as braquiárias.
Uso corretoO consumo anual de minerais, da pecuária brasileira, está em torno de 950 toneladas. ‘‘Mas, será que os pecuaristas estão alertas quanto ao uso correto destes suplementos?’’’, questiona a pesquisadora Maria Luiza Nicodemo, da Embrapa-Gado de Corte, sediada em Campo Grande (MS).
Segundo a pesquisadora, os minerais têm várias funções: cientificamente são parte de órgãos e tecidos (exemplo: cálcio, magnésio, fósforo nos ossos e dentes), são eletrólitos necessários para manter o equilíbrio ácido-básico, a pressão osmótica, a permeabilidade de membranas (como sódio, potássio, cálcio), e participam de sistemas enzimáticos e hormonais, fazendo parte da enzima ou ativando esses sistemas (por exemplo, magnésio participa de cerca de 80 reações enzimáticas, e é essencial para o metabolismo de açúcares).
Redução na produçãoOs sintomas da deficiência de minerais, alerta Maria Luiza, podem provocar redução na produção do rebanho. ‘‘Muitas vezes esses sintomas não são específicos, mas há baixo apetite, perda de peso, pêlos ásperos e arrepiados, crescimento lento e anemia. Através do histórico do rebanho, exames clínicos, análise do alimento (forragem, por exemplo), sangue, ossos, é possível identificar os minerais deficientes numa determinada área ou situação e corrigir o problema’’, avisa.
No Brasil, segundo Maria Luiza, foram encontradas deficiências de fósforo, sódio, cobre, zinco, iodo, selênio e manganês. Existe alguma indicação de que, em determinadas condições, cálcio e enxofre devem também ser suplementados. ‘‘Geralmente existe deficiência de vários minerais ao mesmo tempo numa pastagem’’, avalia Maria Luiza. Como o bovino tem um apetite específico por sal comum (cloreto de sódio), esse produto é usado como meio de suplementar os outros minerais deficientes, que são misturados a ele de maneira a obter o consumo desejado.
Uso diretoUm bovino adulto, com 500 quilos (kg) de peso vivo, segundo a pesquisadora, consome diariamente cerca de 27 gramas (g) de sal comum. Os bovinos não têm capacidade de armazenar sódio e cloro, e qualquer excesso sai rapidamente na urina. O organismo tem também pequena capacidade de armazenar minerais como zinco e manganês. Por isso, alerta a pesquisadora, muitos minerais devem ser oferecidos ao rebanho continuamente.
Recomenda-se que o rebanho receba misturas minerais à vontade, o ano todo. As categorias mais exigentes são fêmeas em produção (novilhas, vacas) e animais jovens com altas taxas de ganho de peso. ‘‘Os requisitos de cálcio (Ca) e fósforo (P) variam muito em função de idade e produção. Quanto maior o nível de produção, maiores são as exigências.’’
Como a taxa de crescimento ósseo é maior nos animais jovens, um animal mais maduro requer relativamente menos cálcio e fósforo para cada quilo de ganho. Um novilho de 400 quilos deposita 7,3 gramas de fósforo e 18 gramas de cálcio com 7 quilos de ganho, enquanto um animal de 200 quilos deposita 10,6 gramas de fósforo e 26,2 gramas de cálcio em cada quilo de ganho, ou seja, 30% a mais.
Efeitos positivosBoas fontes de elementos minerais, segundo Maria Luiza, são ‘‘fosfatos bicálcio e monoamônico e farinha de ossos de boa qualidade; sulfato ou óxido de zinco, sulfato de cobre, carbonato/cloreto/sulfato ou nitrato de cobalto; iodato de potássio e selenito de sódio.’’
Durante as fases em que a produção é alta, na estação chuvosa, os requisitos de minerais também aumentam. Nessas fases, os efeitos positivos da suplementação mineral são mais evidentes. Quanto maior o nível de produção, maiores as exigências. Um novilho de 200 quilos de peso vivo, ganhando 0,20 kg/dia, precisa de 7 gramas/dia de fósforo, enquanto outro ganhando 1 kg/dia precisa de 15,3 gramas/dia, ou seja, o dobro.
Mineral essencialO fósforo deve ser tratado como um promotor de crescimento. Novilhos perdendo peso não costumam responder à suplementação deste elemento. Recomenda-se o uso de fósforo o ano todo em reprodução. O fósforo, avisa Maria Luiza, deve ser tratado separadamente. ‘‘É um elemento deficiente praticamente em todo o Brasil e sua suplementação é necessária, mas onerosa.’’
A pesquisadora conta que muitos casos de ‘‘botulismo epizoótico podem ser ligados à suplementação inadequada de fósforo, levando os animais a ingerirem materiais estranhos à sua dieta, como ossos e partes de carcaças.’’
Saber fazerDevido ao alto custo, continuamente são testadas fontes de fósforo alternativas ao fosfato bicálcico, ou se procuram formas diferenciadas de suplementação. ‘‘Dados australianos, sul-africanos e brasileiros mostraram que existe pouco efeito da suplementação de fósforo para os bovinos quando os animais não estão ganhando peso durante a seca.’’
Nessa situação, avalia Maria Luiza, as deficiências de proteína e ou energia têm efeito predominante e a suplementação com fósforo pode ser reduzida sensivelmente. No caso de fêmeas em reprodução, recomenda-se ainda a suplementação completa o ano todo.
Análise do pastoAs pastagens de cerrado são normalmente deficientes em fósforo, zinco, sódio, cobre, cobalto, iodo e selênio. A composição química do capim varia em função do solo, idade da planta, época do ano, parte da planta, entre outros. A amostra do capim para análise deve representar a porção ingerida pelo animal, já que a qualidade da forragem selecionada é geralmente superior à média do pasto. A quantidade de forrageira consumida é estimada, considerando-se um consumo de matéria seca correspondente a cerca de 2% do seu peso vivo, numa pastagem de qualidade média.