Imagem ilustrativa da imagem Meu querido tio Oscar
| Foto: Marco Jacobsen

Ele era um dos treze irmãos da mamãe, uma pessoa alegre, piadista, bem-humorada, agradável, apaixonado pela vida. Casou-se e foi morar em sua fazenda, a Boiada, distante de Cássia dos Coqueiros, sete quilômetros. Uma fazenda de gado leiteiro, café, braquiária e uma horta perto de um córrego que passava no fundo da casa. As pessoas que por lá passavam, dificilmente saíam sem uma caixinha de produtos da horta. Este era o meu querido tio Oscar. Comprou uma casa nos Coqueiros, as crianças cresceram, estudaram, formaram família e cada um tomou seu rumo. O tio ficou naquela, de manhã ia para roça e à tarde, voltava.

Era a pessoa que dava notícias de cada um da família, de Tocantins, Goiás, Mato Grosso, São Paulo e nós, do Paraná. Fez muitas viagens conosco, Rio Grande do Sul, Itanhaém, Santos, Aparecida do Norte, Tambaú, Barretos, cidades históricas de Minas. Eu me recordo de uma manhã, em Itanhaém, estávamos à beira da praia e ao nosso lado, duas mulheres conversando com a água batendo nos joelhos. Meu tio chegou bem perto e disse: ¨ Minhas senhoras, cuidado que assim vocês podem se afogar... ¨ E todos riram, até elas.

Tinha o costume de sentar pra conversar e começar a estalar as juntas dos dedos das mãos da pessoa ao seu lado. Tinha gente que deixava, eu não porque eu lhe dizia que os dedos ficavam grossos, feios. Em Cássia dos Coqueiros, todos se conhecem, pois é uma pequena cidade de mais ou menos dois mil habitantes. Meu tio sempre deixava seu carro estacionado com a chave na ignição. Certa vez, andando com ele, percebi que procurava o carro e não encontrava. Então disse: ¨ Tio, roubaram... ¨ Ele riu e respondeu: ¨Não, Didi, é alguém que precisou; logo devolve. ¨ Fiquei admirada porque no instante seguinte, um moço estaciona o carro ao nosso lado e fala: ¨Oscar, precisei do seu carro, tá ? Obrigado. ¨ Não acreditei no que estava acontecendo. Houve um época em que o tio Oscar enviava cobras para o Butantan, mas eu nunca vi nenhuma quando ficava na Boiada. Ainda bem...

Dois dias antes da nossa confraternização da família e aniversário da Idivanda, dia 23 de dezembro, recebíamos a sua visita de final de ano. De tardezinha, lá estava o tio Oscar tocando a campainha, alegre, chegando em casa, com a sua bolsa do São Paulo, seu time preferido. Vinha a pé da rodoviária. Era muito bom ter o tio em casa porque ele animava e alegrava os nossos encontros. Participava também do amigo secreto. Passava o Natal conosco e o Ano Novo com sua família nos Coqueiros. Pegava na minha mão, sentava comigo e dizia: ¨ Didi, conta as novidades... ¨ era assim, e eu fazia o misto-quente no café, colocava o pão e a banana que ele gostava de comer durante as refeições; rindo ele falava que tinha se pesado antes da viagem e queria ver com quantos quilos estaria na volta pra casa.

Nos seus últimos dias, não voltava pra casa, ficava na roça, triste, sem ânimo pra nada. Minha tia, os primos perguntavam o que estava acontecendo... O tio Oscar respondia que não era nada, mas que estava com muitas saudades do pessoal do Paraná. Mas a sua família não o deixava mais viajar sozinho porque ele, certa vez, viera para Londrina sem avisar, então ficavam vigiando.

Foi internado no hospital em Ribeirão Preto, fomos lá visitá-lo e ficamos sabendo de toda a situação. Já era tarde. Retornamos pra casa e, dali alguns dias, soubemos de sua morte. Tio Oscar foi embora, deixou-nos muito tristes, com saudades e agora nesta época de Natal, as lembranças são mais fortes. E eu faço a pergunta: ¨Quem na sua vida não teve um tio querido como este ¨ ?

Idiméia de Castro é leitora da FOLHA