Quem não está inserido na cultura dos cafés especiais, pode imaginar que os cafeicultores que lidam com esse tipo de produto têm bagagem de anos na atividade, com conhecimento passando de geração em geração. Mas a reportagem FOLHA Rural mostra que há espaço para atuar nesta atividade tão inspiradora mesmo para aqueles que não têm tantos anos na lavoura. O empreendedorismo rural no café é possível!

Edson e Sirlei de Carvalho em família: primeiro lugar na categoria café natural, e segundo na categoria cereja descascado
Edson e Sirlei de Carvalho em família: primeiro lugar na categoria café natural, e segundo na categoria cereja descascado | Foto: Divulgação

No concurso Café Qualidade de 2019, um exemplo incrível de quem simplesmente transformou a vida através da atividade. Edson Messias de Carvalho, de Joaquim Távora, ficou em primeiro lugar na categoria café natural, enquanto sua esposa, Sirlei de Fátima da Cruz Carvalho, em segundo na categoria cereja descascado.

Detalhe: até 2012, Messias e a família moravam na cidade de Siqueira, onde foi mestre de obras por 15 anos. Depois de deixar a construção civil, o produtor, esposa e os dois filhos simplesmente nunca deixaram de subir no pódio em concursos especializados, inclusive o café que produzem já ficou entre os 30 melhores do Brasil, na edição da Ficafé (Feira Internacional de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná).

Com alguns familiares ligados à cultura, Messias resolveu comprar uma propriedade de dois alqueires em Joaquim Távora e apostar na atividade. Sem nenhuma noção sobre o manejo, ingressou na Associação de Cafés Especiais do Norte do Paraná (Acenpp). O Sítio Santa Ana começou com 17 mil pés de café e uma vontade enorme de produzir grãos diferenciados. “O Sebrae também me apoiou e comecei a fazer cursos pelo Senar. Hoje tenho em torno de 45 mil pés, arrendei mais dois alqueires e meio. A minha sobrevivência vem dos cafés especiais.”

Depois que ingressou na atividade, apesar de pouca experiência, em nenhum ano a família deixou de mostrar o talento que tem para a atividade. Hoje, cada um dos filhos cuida de 15 mil pés de café, além da área do casal. A produção gira em torno de 30 sacas por ano de um café que pode chegar a R$ 4 mil a saca.

O produtor, quando questionado qual o principal desafio para produzir um café de tanta qualidade, salienta que tem até dificuldades para explicar como atinge esses resultados. Ele resume em duas palavras: “limpeza e dedicação.”

A colheita para a família Carvalho inicia em maio e segue até agosto. A catação dos grãos maduros é manual. O café então é lavado e colocado na estufa para secagem por 20 a 30 dias, sem tomar sereno. “Ele fica descansando, depois medimos a umidade, e caso não tenha atingido de 10,5% a 11,5%, retorna para o terreiro até atingir esse percentual. Depois, mandamos para o comércio. Se o café passa de 82 pontos já é considerado excelente, mas já cheguei a 88 e penso que posso aumentar ainda mais essa pontuação.”

Hoje Messias tem café para comercializar? A resposta é não. O produtor vende toda a sua produção para cafeterias especializadas ou exporta através da Cooperativa de Cafés Especiais do Norte Pioneiro (Cocenpp). “Agora já estamos pensando no ano seguinte. Nosso café tem a braquiária no meio, tem que fazer a roça, adubar, cuidar da lavoura. O investimento é alto com adubação, esterco, fazer análise de solo, por isso tem que vender esse café a um bom preço para nos mantermos (na atividade).”

Se quer voltar para a construção civil? A resposta é tão óbvia como os sonhos para o futuro. “Quero produzir mais cafés especiais e mostrar para o consumidor paranaense que produzimos um bom café, que não precisa vir de fora. Queremos ser reconhecidos e que todos nos deem mais valor.”