Menor safra do Paraná em 25 anos
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sexta-feira, 13 de outubro de 2000
Jota Oliveira De Londrina
Nos últimos 10 anos o Paraná tem colhido, em média, 1,4 milhão de toneladas de trigo, para um consumo aproximado de 700.000 toneladas no Estado. Em 2000, observa Otmar Hubner, engenheiro-agrônomo do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, a produção é estimada em 588.000 t, o que gera a necessidade de importar. Esta acrescenta o técnico será a menor safra paranaense dos últimos 25 anos.
AtrasoNo Norte do Estado a colheita está atrasada. A época normal do plantio de trigo nesta região é abril e a colheita deveria ter sido feita até 10 de setembro. Em abril choveu apenas no dia 17 e as lavouras plantadas no pó germinaram em maio-junho, ou não germinaram. As demais, semeadas depois daquela chuva, sofreram muitos dias de frio que retardou o ciclo da cultura de 110-115 dias para 140-145 dias. Depois choveu dias seguidos, inibindo ainda mais o amadurecimento dos grãos.
Em agosto, lembra o pesquisador Sérgio Dotto, da Embrapa-Soja em Londrina, geralmente não chove nada, mas choveu 200 milímetros nesta região; em setembro choveu mais 250 mm. Em uma semana de setembro choveu durante 84 horas; em outra, 70 horas seguidas. Essa chuvarada toda retardou mais uma vez o amadurecimento das plantações.
QualidadeAlém de atrasar o ponto de colheita, a chuva fora de época prejudicou a qualidade do trigo, baixando a força de glúten e do pH. Em consequência, o produto de melhor qualidade, pH 78 acima, cotado em R$250,00-255,00 a tonelada na última quarta-feira, era raro. E a tendência, dizia Dotto, era cair mais, porque os moinhos já começavam a fechar contratos para o trigo argentino que começará a entrar em dezembro. Outros preços daquele dia: pH de 70 a 72 R$220,00; pH 75/76 R$230,00-R$240,00 a tonelada.
Na região administrativa da Emater sediada em Ponta Grossa, em geral a qualidade do trigo está boa, exceto na área mais ao norte (Tibagi e Ortigueira, por exemplo), onde as lavouras sofreram geadas quando estavam emborrachando, fase do desenvolvimento em que esse cereal é mais prejudicado pelas baixas temperaturas. Mais ao sul os trigais estavam perfilhando e foram até beneficiados pelas geadas, informa o engenheiro-agrônomo Marco Antônio Brandão Borges, do escritório regional da Emater em Ponta Grossa.
Aquela região administrativa atende 18 municípios e nos municípios setentrionais da área as condições são parecidas com as do Norte do Paraná, onde o plantio normalmente é feito um mês mais cedo do que nos setores ao Sul. Por isso, a região tem várias datas de plantio, começando em abril, em Ventania e Arapoti.
Na região de Cornélio Procópio, no Norte do Estado, falta colher ainda 30% de 76.300 ha. A produtividde média obtida tem sido baixa, informa o engenheiro-agrônomo Cilésio Abel Demoner, do escritório regional da Emater: ali, a média no total dos 21 municípios que produzem trigo, em condições normais é superior a 4.200 kg por hectare. Nesta safra, a produtividade média obtida até o momento é de apenas 710 kg/ha.
Os trigais sofrem perdas por seca e geada. Do primeiro plantio, feito em abril, perderam-se 100% das lavouras e agora os prejuízos são superiores a 39%. Como foi preciso esperar chover, para semear de novo, todo o ciclo atrasou, do plantio à colheita, que já deveria ter sido encerrada na região.
E a qualidade, diz Dalmoner, está ruim: o pH varia de 72 a 76; as lavouras colhidas apresentam muitos grãos verdes, devido à ocorrência de várias germinações com falhas causadas pela seca, além de alto percentual de triguilho, provocado pela geada.
Fora do normalOtmar Hubner, do Deral, comenta que na média estadual, em condições normais, até início de outubro estão colhidos 80% da área de trigo. Neste ano, até dia 4 tinham sido colhidos apenas 34%, por causa da perda total de aproximadamente 55% da área semeada.
O Paraná plantou nesta safra 764.000 hectares de trigo, mas devido aquelas perdas ocasionadas pelas geadas na média estadual falta colher 25%. Na região Norte, onde o cultivo é cerca de um mês mais adiantado em relação às demais regiões, falta colher 15% do plantio.
Hubner comenta que, além da perda de área e de rendimento, as geadas de julho prejudicaram a qualidade do produto: O peso hectolítrico médio tem permanecido entre 70 e 75 kg/100 litros e a produtividde média até o momento é de 1.523 kg/ha (1.990 kg/ha no ano passado). O agrônomo do Deral espera que na área ainda a ser colhida a produtividade seja maior e o produto tenha melhor qualidade. Para isso basta que o clima permaneça seco, pois durante o período de maturação e colheita o trigo é mais sensível a danos por chuva. E choveu.
ImportaçãoConsiderando a quebra da safra no Paraná, maior produtor do País, o Departamento Econômico da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) comenta que o Brasil reafirma a posição de maior importador mundial de trigo. O País deve comprar no mercado externo cerca de 7,8 milhões de toneladas, no valor de US$820 milhões.