Marilândia do Sul, município do norte do Paraná com cerca de 8,6 mil habitantes, foi o maior produtor de cenoura do estado em 2023, segundo levantamento feito pelo Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Seab (Secretaria da Agricultura e do Abastecimento).

O legume foi cultivado em 1,5 mil hectares com uma produtividade que alcançou 67,5 mil toneladas no ano passado, resultando em um VBP (Valor Bruto de Produção) de R$ 160,8 milhões, participação de 51,4% na produção de riquezas advinda da cultura no estado. Em segundo lugar ficou Nova Santa Bárbara, com participação de 11% e VBP de R$ 34,5 milhões.

O engenheiro agrônomo Felipe Machado de Freitas, extensionista rural do IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural) Paraná, explica que o clima em Marilândia é um dos fatores que favorecem o cultivo do legume.

“Não somente para a cenoura, mas para a maioria das hortaliças, uma vez que essas hortaliças que estão presentes na dieta do brasileiro, em sua grande maioria, tem seu centro de origem nas regiões asiáticas, mediterrâneas e europeias, que são regiões de clima mais ameno, com temperaturas mais baixas, regiões de altitude”, pontua. Marilândia fica a mais de 700 metros acima do nível do mar.

O técnico acrescenta que Marilândia tem essas características, além de um regime de chuvas bem distribuídas ao longo do ano.

“Claro que com menor pluviosidade nos meses mais frios, principalmente agosto, segundo médias históricas, apesar das evidentes mudanças nessas características (chuvas e temperatura) observadas nesses últimos anos”, acrescenta.

Outro fator que explica o destaque na produção de cenoura é a utilização de tecnologia para manter a atividade competitiva.

“Pelo menos desde quando estou na região, há pouco mais de seis anos, o que se vê é essa tecnificação com plantadeiras pneumáticas a vácuo de alta precisão e sementes híbridas com alto potencial produtivo, tolerância às principais doenças que acometem a cultura e melhoradas para as diferentes épocas de cultivo”, lista. Estudo realizado pela Embrapa Hortaliças aponta uma produtividade até 70% superior das cenouras híbridas.

Sobre o prejuízo à cultura por conta das ondas fortes de calor, o engenheiro agrônomo pondera que a existência de materiais genéticos mais adaptados ao verão, como a cenoura Brasília – melhorada pela Embrapa e geradora de outras variedades indicadas para cultivo nesta época – faz com que os agricultores tenham uma produção de raízes com qualidade.

Marilândia do Sul conta hoje com cerca de 300 propriedades familiares com produção de cenoura, sendo que na maioria delas o cultivo é acompanhado de outras hortaliças, como repolho, couve-flor, vagem e tomate, entre as mais expressivas.

A maior parte da produção é comercializada via Ceasas, principalmente Londrina, Maringá e Curitiba. Também existem compradores que levam para a Ceagesp, principalmente de Presidente Prudente, o que acaba fazendo com que a cenoura de Marilândia chegue a toda parte do país.

A cenoura é a segunda cultura com maior VBP de Marilândia do Sul, atrás somente da soja, mas com uma área muito menor – 1,5 mil hectares contra 22,5 mil ocupados pelo grão em 2023. “Ou seja, o rendimento por unidade de área é muito superior ao da soja.”

Marilândia é conhecida como a Capital da Cenoura no estado, com festividades (Festa da Cenoura) e atratividade de compradores de outras regiões do país. Neste ano, a festa já tem data marcada: será realizada de 6 a 8 de dezembro.

DESAFIOS

Entre os desafios dos produtores, o engenheiro agrônomo destaca a manutenção da competitividade frente aos altos custos que o nível tecnológico impõe à cultura.

“Isso acaba selecionando quem consegue se manter na atividade. Há necessidade de fomento das políticas públicas de acesso a crédito para que os agricultores menos capitalizados consigam acessar a estrutura necessária.”

O IDR viabiliza o acesso do agricultor a algumas políticas públicas, elaborando o CAF (Cadastro da Agricultura Familiar), que dá acesso ao Pronaf (Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar) com crédito rural subsidiado. Também auxilia na elaboração da declaração de produção para o agricultor poder vender a produção nas unidades das Ceasas.

TECNOLOGIA

Tiago Francis Gatto produz cenoura há 16 anos em Marilândia do Sul. com 2,5 hectares cultivados. O agricultor utiliza sementes híbridas para garantir melhor produtividade.

No ano passado, ele vendeu 2.613 caixas (23 kg) de cenoura. Neste ano, a expectativa é superar esse volume, visto que a produção está ocorrendo de maneira mais bem distribuída. O preço, no entanto, está abaixo do de 2023 por conta da lei da oferta e da procura, segundo o produtor.

Ele aplica no campo várias técnicas para garantir melhor produtividade, como abrir canteiros mais largos para a cenoura, aplicar os defensivos no tempo certo e não deixar faltar água.

“A irrigação muitas vezes é feita à noite, quando o solo está mais frio, daí a água vai hidratar melhor a planta em comparação ao dia, quando o solo está muito quente e a água seca muito rápido”, compara.

O maior desafio hoje apontado pelo produtor é a falta de mão de obra – está cara e escassa, segundo ele. A produção de cenoura da propriedade é comercializada para a Ceasa de Londrina e abastece supermercados do Paraná, São Paulo e Mato Grosso.