Manejo Treze sinais que fazem diferença
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 14 de abril de 2000
Cláudia Barberato
De Londrina
Sentado num leilão, um criador analisa uma fêmea da raça nelore na pista. O leiloeiro avisa que, segundo o catálogo, o animal tem 24 meses. O criador duvida, presta mais atenção e vê, por marcas no chifre dessa fêmea, que a informação sobre a idade do animal não está correta. E comenta com o pecuarista ao seu lado que a fêmea, na verdade, tem 30 meses. Em seguida, o leiloeiro avisa que houve um erro no catálogo e confirma a suspeita do criador. A fêmea tem 30 meses.
O exemplo acima é sempre usado pelo pecuarista e membro do corpo de jurados da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), Ubaldo Oléa, nas palestras que ele tem feito sobre Sinais Externos de Subfertilidade. Oléa esteve em Londrina durante a semana, para falar aos produtores e técnicos que estão participando da exposição agropecuária.
Baixo índiceSegundo Oléa a eficiência reprodutiva do gado nelore criado no País hoje é muito baixa e poderia melhorar se o pecuarista atentasse para mudanças no manejo e olhasse mais para seu rebanho. A eficiência reprodutiva, ensina, é medida pelo número de bezerros nascidos, dividido pelo número de vacas existentes na propriedade. E nem esta, conta, o pecuarista de modo geral está acostumado a fazer. A média de fertilidade do rebanho brasileiro tem ficado na casa dos 50% a 55% e o ideal é que este índice fique próximo de 100%.
A causa da baixa fertilidade das fêmeas está na falta de maior atenção ao que acontece no dia-a-dia da propriedade. Uma vaca, por exemplo, que parir de vez em quando e ainda continuar no rebanho representa prejuízo. Se há um animal estéril no meio da vacada é fácil identificar, mas este tipo de animal (que só emprenha de vez em quando) fica mais complicado.
Sinais indicamUbaldo Oléa usa uma técnica para detectar problemas de subfertilidade no rebanho que é no mínimo curiosa. Através de sinais externos como chifres, cupim, cabeça, rabo, paleta e outros ele, ao visualizar a fêmea, pode dizer se a vaca tem problemas de subfertilidade, se vale a pena tratar ou descartar. Parte desta técnica ele aprendeu com um criador da África do Sul, Jam Bosma, que ensinava os 13 pontos a se olhar no exterior de uma fêmea nelore que seriam indicativos de subfertilidade do animal.
O trabalho de Bosma, conta Oléa, foi feito com base em coleta de dados e observações em 145 mil vacas. Oléa iniciou este trabalho em 1982 e, de lá para cá, já analisou perto de 130 mil animais.
Nos chifresA leitura começa pelas marcas existentes nos chifres, onde se pode ver idade do primeiro parto, número de crias, aborto e estresse no animal. Depois de cada cria cresce um anel excêntrico no chifre da fêmea. Então cada anel excêntrico no chifre representa uma cria. Uma fêmea deve criar a cada 12 meses. O distanciamento entre um anel e outro representa o intervalo entre partos. A medida que vai aumentando o intervalo entre partos, vai aumentando o distanciamento entre os anéis do chifre.
A idade do primeiro parto é verificada a partir da ponta do chifre, no primeiro anel que surge. Uma vaca que pariu, por exemplo, aos 25 ou 26 meses, terá que ter um distanciamento da ponta do chifre ao primeiro anel de 6 centímetros.
O aparecimento de manchas brancas no chifre, no ano correspondente ao que seria o de uma cria, é um indicativo de que houve aborto. Por exemplo, se a mancha está no terceiro anel do chifre, a vaca teve aborto na terceira emprenhada.
No caso de estresse a fêmea apresentará um anel concêntrico ou abaulado e esta curva será maior ou menor de acordo com a intensidade do estresse que o animal sofreu. Quando existem dois ou mais anéis desses, segundo Oléa, o animal deverá ser descartado.
Na cabeçaO segundo sinal (são treze) de que há problemas de fertilidade no animal pode ser visto na cabeça. A vaca subfértil tem a cabeça pesada, com a mandíbula caída, rodeada de cartilagens. Outro sinal está na distância entre os olhos do animal. O distanciamento exagerado, fora do normal, é sinal de problema.
O quarto ponto a ser verificado, ensina Oléa, está no dianteiro. Quando o dianteiro fica muito avantajado, pode ter certeza de que há problema hormonal. Uma parte do corpo fica mais baixa e a parte traseira fica reduzida.
Outro problema que aparece com o desequilíbrio hormonal pode ser visto na paleta do animal. Quanto maior for a angulação da paleta, que começa a crescer a ponto de ser possível visualizar a musculatura, maior será o problema. Em consequência aparece aí o sexto ponto de visualização, o pescoço. Na fêmea subfértil ele é grosso, curto e masculinizado. Geralmente a inserção é abaixo da linha do dorso lombar e é provocada pela angulação da paleta.
O cupim masculinizado e geralmente jogado em cima do pescoço pode representar outro sinal de subfertilidade. A seguir vem a maçã do peito, o oitavo ponto a ser verificado. Nas vacas férteis tem colocação exata, situada acima de uma linha imaginária que para o nelore sai do umbigo e passa pela axila, formando uma urna. Nas fêmeas subférteis a maçã do peito não segue a tal linha imaginária e fica desviada.
Na maçã do peito podem ser lidos três sinais indicativos fundamentais no processo de fertilidade. Primeiro é a reabsorção embrionária, que se manifesta na parte superior da maçã do peito, na forma de uma bola de gude. O segundo ponto a ler é a interrupção da lactação, que se manifesta em forma de uma bola de pingue-pongue na parte mediana da maçã do peito da vaca.
O terceiro ponto pode indicar abortos, com o aparecimento de uma bola grande, exagerada, na parte baixa da maçã do peito.
Gordura localizadaAs gorduras mais localizadas chamam a atenção do pecuarista para os problemas de fertilidade. Na fêmea se manifesta inicialmente na posterior e depois caminha para a paleta. As gorduras então aparecem para a parte inferior, do costado (costela) e adiante do úbere. Tudo funciona como um processo.
Quando essas gorduras ainda estão no posterior do corpo do animal, há tratamento, mas quando caminham para a paleta e costado dificilmente consegue-se recuperar a vaca e quando aparece diante do úbere é o xeque-mate, já é uma vaca estéril.
O arredondamento do posterior do corpo da fêmea é mais de meio caminho para a subfertilidade. Geralmente, na raça nelore, o posterior do animal é reto. Outra consequência do arrendodamento aparece na cauda. Ela (a cauda) sai da perpendicularidade (11º sinal), fica para o lado ou mais para a frente; e a vulva fica pequena e enterrada embaixo do rabo (12º sinal) e, por fim, o pêlo se apresenta grosso, comprido e num tom de areia, o indicativo número 13, de que a fêmea é subfértil.
As vacas que trocam de pêlo no fim da primavera e início do verão são férteis. As que não trocam pêlo são vacas anestras (sem cio). A troca de pêlos indica que o sistema hormonal está funcionando e emitindo progesterona no sangue do animal, ensina Ubaldo Oléa.
Quando aparecem um ou mais sinais, avisa o criador, o pecuarista já pode ter uma noção de como está a vaca. Os 13 pontos são um sinal de esterilidade completa.
Segundo Ubaldo Oléa, os sinais podem servir para visualizar problemas em outras raças de corte e para animais mochos, sem chifres, os sinais podem ser visualiados no casco, através do crescimento, das marcas e das manchas brancas caso ocorram abortos e estresses.Alguns sinais externos na vaca podem indicar problemas de fertilidade. Técnica foi desenvolvida por criador
Sinais nos chifres, cupim, cabeça, rabo, paleta e outras partes do corpo da fêmea podem indicar problemas de fertilidadeO posterior da fêmea fica arrendodado e a cauda sai da perpencularidade, outro sinalQuanto maior for a angulação da paleta, que começa a crescer a ponto de ser possível visualizar a musculatura, maior será o problemaManchas brancas no chifre, no ano correspondente ao que seria o de uma cria, é um indicativo de que houve aborto