Manejo de pragas reduz em 50% aplicação de inseticidas na soja
No Paraná, mais de 1,6 mil lavouras foram acompanhadas por técnicos nos últimos dez anos
PUBLICAÇÃO
sábado, 30 de dezembro de 2023
No Paraná, mais de 1,6 mil lavouras foram acompanhadas por técnicos nos últimos dez anos
Lucas Catanho - Especial para a FOLHA
O monitoramento sistematizado da soja em território paranaense mostrou que, nos últimos dez anos, o programa de manejo integrado de pragas (MIP) reduziu o uso de inseticidas pela metade, sem haver diminuição de produtividade da lavoura.
O MIP proporcionou ainda a redução dos custos de produção para o agricultor, equivalente a 2 sacas de soja/hectare ao ano de economia.
Outro benefício foi a maior preservação de agentes de controle biológico natural e de organismos benéficos na lavoura, em decorrência do aumento do tempo entre a semeadura e a primeira pulverização com inseticida.
“Os agricultores que utilizam o MIP fazem a primeira aplicação de inseticida na lavoura em torno de 73 dias após a semeadura. Já os que não são acompanhados pelo programa MIP Soja iniciam a aplicação em torno de 46 dias depois”, compara Samuel Roggia, pesquisador da Embrapa Soja.
Entre os princípios básicos do MIP está o monitoramento da lavoura, com o uso de um pano de batida que indica a quantidade de insetos presentes na lavoura.
A tomada de decisão sobre a aplicação de inseticidas será feita apenas quando os níveis de ação preconizados pela pesquisa sejam atingidos (dois percevejos encontrados no pano de batida, ou, em média, 20% de desfolha para o controle de lagartas). Havendo necessidade de pulverização, recomenda-se o uso de uso de produtos mais seletivos, ou seja, com eficácia pontual no problema.
O MIP Soja é recomendado desde os anos 70, porém, nos últimos dez anos, foram sistematicamente acompanhadas 1.639 lavouras que adotaram as estratégias preconizadas pelo programa.
UNIFICADO
O pesquisador Samuel Roggia explica que, a partir da safra 2013/2014, foi adotado um protocolo unificado abrangendo todas as regiões produtoras de soja do Paraná, inicialmente em 46 lavouras, aumentando nos anos seguintes, sendo em média 164 lavouras/ano ao longo de 10 anos do programa. “A Embrapa participa de ações de MIP Soja em outros estados por meio de parcerias locais. O programa em andamento no estado do Paraná é usado como modelo para expansão do MIP pelo Brasil”, acrescenta o pesquisador.
Os agricultores que utilizam o MIP Soja realizam semanalmente amostragem de pragas na sua lavoura. Essa amostragem é realizada em pelo menos 10 pontos, com a utilização do pano de batida e a vistoria das plantas.
“Quando é necessário realizar controle de pragas, sob orientação do IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural), é realizada a escolha do inseticida e a dose mais adequada para cada caso, visando a melhor eficiência de controle e menor impacto ambiental. A cada aplicação de inseticida, procura-se usar inseticidas de grupos químicos diferentes, visando reduzir o risco das pragas se tornarem resistentes aos inseticidas.”
MONITORAMENTO
Somente na última safra de soja (2022/2023), os técnicos do IDR acompanharam 150 propriedades localizadas em 101 municípios paranaenses. O protocolo previu o acompanhamento semanal das lavouras, com o foco principal de monitorar as pragas e propor soluções
.
O coordenador estadual do Programa Grãos Sustentáveis do IDR-Paraná, Edivan Possamai, explica que, a partir do acompanhamento sistemático das lavouras, toma-se a decisão de o agricultor fazer ou não o controle das pragas.
“O IDR já conta com agricultores parceiros que têm contato com os extensionistas dentro do tema MIP”, pontua.
Segundo Edivan, o trabalho continuará nas propriedades paranaenses nas próximas safras. “Hoje nós temos 2 mil agricultores do Estado que têm contato com a tecnologia do MIP durante a safra de soja. O trabalho não para, essa sistematização é importante.”
IMPACTOS
Edivan destaca que as boas práticas do MIP geram uma série de impactos positivos. Com a aplicação reduzida de agrotóxicos, um dos principais benefícios é para a saúde do produtor e dos familiares, pois a exposição aos defensivos é menor.
“Também há impacto nas reduções de carbono, visto que, além de serem aplicados menos agrotóxicos, é usado menos combustível nas aplicações pelo trator. Há também uma redução na mortalidade de abelhas, que são pulverizadores naturais produtoras de mel”, acrescenta.
Por fim, o técnico reforça que toda a sociedade ganha com essas práticas, visto que consome produtos com menos agrotóxicos. “Não adianta investir em grandes tecnologias se não houver boas práticas no campo”, conclui.
RECENTE
Nas safras recentes, a Embrapa revisou os níveis de controle das principais pragas da soja para novos cenários produtivos, com cultivares (variedades) de diferentes hábitos de crescimento e ciclos de desenvolvimento.
“A Embrapa desenvolveu cultivares de soja Block, mais tolerantes a percevejos e que proporcionam um cenário mais favorável para o manejo dessa praga pelos agricultores”, destaca o pesquisador Samuel Roggia.
Em conjunto, Embrapa, IDR e Senar têm realizado anualmente eventos de atualização dos profissionais que prestam assistência aos agricultores, quanto aos avanços científicos e tecnológicos relacionados ao MIP Soja. Nessas ocasiões, a Embrapa organiza as demandas por novas pesquisas cientificas a serem realizadas.
SERVIÇO
O produtor de soja que deseja aderir ao MIP ou obter mais informações a respeito pode procurar o escritório do IDR do seu município ou do município mais próximo.
Outra fonte de conhecimento sobre o tema é participar do curso gratuito de manejo de pragas ministrado pelas unidades do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural). Mais informações sobre os cursos podem ser obtidas no site sistemafaep.org.br – aba Cursos SENAR-PR.