Mais carne e lucro em menos tempo
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 05 de abril de 2000
Cláudia Barberato
De Londrina
O Programa Pecuária de Curta Duração, da Secretaria de Agricultura e do Abastecimento do Paraná, coordenado pela Emater, já foi lançado no Noroeste do Paraná em setembro do ano passado. Mas agora será apresentado aos pecuaristas do Norte do Estado através de um painel previsto para o dia 11, no auditório Milton Alcover, dentro do Parque Ney Braga.
Foi montado também um estande na Via Rural (Fazendinha), com apresentação de novilhos superprecoces criados dentro do manejo indicado pelo programa. Está previsto abate dos animais para demonstração em câmara fria, durante a exposição, com carcaças e cortes especiais, onde poderão ser observadas a textura, a cor, gordura e o acabamento final dos animais.
A criação de animais superprecoces elimina a recria e proporciona vantagens como aumento de lotação, índices melhores de natalidade, maior taxa de desfrute, entre outros. Segundo o zootecnista da Emater-PR, Gil Abelin, coordenador do projeto em Londrina, a adoção da pecuária de curta duração não demanda muitos investimentos por parte do pecuarista.
No NoroesteDe acordo com o zootecnista da Emater de Tapejara, no Noroeste do Paraná, João Batista Barbi, naquela região o programa já vem sendo adotado há três anos e desde setembro, quando foi oficialmente lançado, 42 propriedades fazem a produção do novilho superprecoce.
Os técnicos recomendam que a adoção do projeto seja feita aos poucos, primeiro formando um plantel de matrizes que estará estabilizado em 4 a 5 anos. Segundo Barbi, a rentabilidade, depois de estabilizado o plantel pode chegar a oito salários-mínimos mensais em uma área de 20 alqueires.
Segundo o técnico de Tapejara os pecuaristas que aderem ao programa são orientados pelos técnicos a mudarem questões de manejo dentro de suas propriedades, alimentação dos animais e melhoramento genético dos rebanhos.
Comida de qualidadeA maior falha de quem faz a pecuária tradicional, na opinião do técnico, está na alimentação das matrizes e dos produtos (filhos) que serão engordados. Para encurtar o processo de abate, é preciso fornecer comida de qualidade e suplementação. Hoje a idade média de abate é de 3,5 a 4 anos na pecuária tradicional. Na produção do superprecoce, com abate antes dos 15 meses, como prevê o programa da Seab, é preciso reduzir a idade e deixar o animal pronto por volta dos 14 meses.
Além da alimentação, será preciso mudar outros manejos como escolher animais para cruzamento que proporcionem precocidade no ganho de peso, mais carne e melhor qualidade dessa carne, com aumento de produção e produtividade.
Segundo Barbi, no ano passado pecuaristas do Noroeste que produzem o superprecoce conseguiram vender animais com um diferencial de 9% em relação a quem faz a pecuária tradicional. Em Umuarama, segundo ele, a Sociedade Rural estuda a possibilidade de instalar uma sala de desossa e oferecer carne do superprecoce. Há possibilidade também, de acordo com o técnico, dos pecuaristas se unirem para tercerizarem o abate, venderem melhor seus produtos e aumentarem, consequentemente, a rentabilidade.
Preço melhorÉ exatamente da falta de oportunidade de vender melhor que reclama o pecuarista Augusto Caldeirão, de Tapejara, que está fazendo o superprecoce há quase 5 anos e participa agora do programa Pecuária de Curta Duração. Ainda não existe uma oferta constante de animais superprecoces e fica difícil pressionar as indústrias para pagarem melhor, afirma Caldeirão. Caldeirão começou produzindo o precoce, com abate aos 20 meses há 10 anos; depois optou pelo superprecoce, com abate aos 13 ou 14 meses, para reduzir o ciclo de terminação (quase) pela metade e obter maior número de matrizes por área. Para isso teve que fazer melhorias no pasto da propriedade e ter também melhor genética no rebanho.
Hoje utiliza no rebanho fêmeas meio-sangue, que são mais precoces e uma terceira raça européia para produzir o superprecoce. Com a pecuária de curta duração consegue manter um desfrute de 43% ao ano. E uma lucratividade de 380 kg/hectare/ano. O animal superprecoce tem custo mais baixo, porque consome menos alimento e alto ganho de peso, garante o pecuarista.
De acordo com observações feitas por técnicos da Seab, pecuaristas que adotam o sistem de criação de bovinos de curta duração podem obter lucro líquido de 41,6%, contando os investimentos feitos até desmama, vacinas, vermífugos, sal mineral, alimentação e outras despesas, considerando o valor de venda. Equanto que na pecuária tradicional, com abate aos 36 meses, o lucro seria de até 14%.