Colheita de cana no interior de São Paulo: expectativa para os novos movimentos da guerra do preço do petróleo
Colheita de cana no interior de São Paulo: expectativa para os novos movimentos da guerra do preço do petróleo | Foto: Mauro Zafalon/Folhapress

Ribeirão Preto - A safra de cana-de-açúcar 2020/21 terá ligeira alta e será mais açucareira que a atual, graças à quedas de produção em países como Índia e Tailândia. Os dados são da consultoria Datagro e foram apresentados na última quarta-feira (11) em Ribeirão Preto (SP) num evento de abertura de safra promovido pela empresa e o banco Santander.

A previsão é que a safra atinja 596 milhões de toneladas de cana moídas no centro-sul do país, ante as 586 milhões da safra 2019/20, que oficialmente termina neste mês. A projeção aponta crescimento de 1,7% no total de cana moída. A projeção dependerá de fatores como o clima para que seja confirmada no fim da safra. Março, por exemplo, registrou menos chuva que a média.

"A perspectiva é de que o clima deve continuar seco nos próximos 15 dias. Então o armazenamento hídrico ainda permite que o desenvolvimento fisiológico da cana continue, mas é preciso que as chuvas voltem até o final deste mês. E, mais importante, que voltem em abril", disse o presidente da Datagro, Plinio Nastari.

Do montante de cana a ser processado pelas usinas do centro-sul, 41,5% devem ser destinadas à produção de açúcar, ante os 35,2% da safra passada. Isso significa que, embora o açúcar apresente crescimento, a maior parte da cana (58,5%) ainda será utilizada para a fabricação de etanol -anidro (misturado à gasolina antes de chegar aos postos) e hidratado (vendido diretamente ao consumidor nos postos).

A quebra de produção na Índia, na Tailândia e no México é o motivo apontado para a elevação da oferta do açúcar pelas usinas brasileiras. "Isso [quebra em outros países] faz com que o mundo esteja com deficit no fluxo de comércio e esteja precisando de açúcar do Brasil. Nos últimos dois anos o Brasil retirou do mercado 20 milhões de toneladas, agora devolve um pouco desses 20 milhões, reduz um pouco a produção de etanol de cana, mas compensa essa redução com a produção de etanol de milho", disse.

A produção de etanol de milho tem crescido no país nos últimos anos. Há quatro anos, foi de 141 milhões de litros, volume que chegou a 1,46 bilhão de litros e, neste ano, pode chegar a 2,5 bilhões de litros. Em quatro anos, segundo Nastari, o total pode alcançar 7 bilhões de litros.

Petróleo

A guerra de preços do petróleo entre grandes países produtores, que causou rombos em Bolsas de Valores desde a última segunda-feira (9), deve reduzir a competitividade do etanol no Brasil, segundo especialistas. A avaliação de especialistas e do mercado é a de que, dependendo da duração da disputa, poderá haver problemas para as usinas já nas primeiras semanas da próxima safra de cana. O assunto foi comentado na abertura do evento do Santander e da Datagro pelo prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira (PSDB), que disse que as "bases sólidas" das instituições permitirão passar por essa fase sem preocupações.

Nastari disse, também na abertura, que a situação não assusta. "O momento é de espera porque é muito provável que a Petrobras vai esperar a consolidação desse momento, esperar a poeira baixar, para começar a tomar alguma medida de redução de preço. E, mesmo que a Petrobras adote alguma medida de redução de preço, ainda existe a opção de revisão do valor da Cide para capturar parte dessa queda, visto que é esperado que o preço volte inevitavelmente a subir", disse.

De acordo com o consultor, essa é uma opção que está na mesa, "mas cabe ao governo federal obviamente tomar a decisão sobre que caminho tomar". "O Brasil não é um país rico, como os EUA, e ele não tem e não pode se dar ao luxo de repassar essa queda de preço simplesmente para o consumidor ciente de que dentro de pouco tempo a gente pode ter uma correção de preço", disse. O setor suporta, ainda segundo sua avaliação, uma queda no preço do álcool por ser altamente competitivo, principalmente levando-se em conta a atual taxa de câmbio no país.

Durante o evento , foram assinados 17 contratos entre o Santander e usinas referentes aos CBIOs, títulos que garantirão a execução do Renovabio. Os CBIOs são certificados com notas de eficiência energético-ambiental que poderão ser convertidos em créditos de descarbonização.