Londrina e Cornélio vão receber Operação Big Citros
Objetivo da ação é frear avanço do ataque do greening em pomares comerciais de laranja
PUBLICAÇÃO
sábado, 03 de maio de 2025
Objetivo da ação é frear avanço do ataque do greening em pomares comerciais de laranja
Guto Rocha - Especial para a FOLHA

Uma verdadeira operação de “guerra” contra o greening será travada nas regiões de Londrina e de Cornélio Procópio entre os próximos dias 12 e 16 de maio. Trata-se da BIG Citros, que tem como alvo o greening ou HLB (Huanglongbing), a praga mais severa que atinge a citricultura.
A operação será realizada pela Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná) em parceria com prefeituras de municípios dessas duas regiões, produtores de laranja, indústrias e cooperativas.
A doença é bastante agressiva e está amplamente disseminada nas regiões Norte e Noroeste do Paraná. A gravidade da situação levou o Paraná a decretar situação de emergência fitossanitária para a doença em 2023, tendo sido prorrogada. Tal medida garante ao órgão de defesa o poder de eliminar plantas que apresentem sintomas da doença.
Segundo a engenheira agrônoma Caroline Garbuio, fiscal da Defesa Agropecuária do Departamento de Sanidade Vegetal da Adapar, “com exceção de pomares recém-implantados, todas as áreas comerciais possuem plantas doentes e todas as plantas fora de áreas comerciais devem apresentar sintomas de greening.”
O rigor adotado nas operações de combate à doença se deve ao forte impacto econômico que a presença da bactéria Candidatus liberibacter spp (que provoca o greening) provoca em toda a cadeia da citricultura.
Segundo dados apresentados pela fiscal da Adapar, quando a doença foi registrada na Flórida, nos EUA em 2004, a produção de laranjas naquela região era de 150 milhões de caixas, de lá para cá, o volume despencou para 21 milhões de caixas na safra do ano passado, uma quebra de 86%.
Ao infectar a planta, o greening provoca queda prematura dos frutos, bem como levando a produção de frutos menores, deformados, com açúcares reduzidos e acidez elevada, diminuindo a qualidade e o seu valor comercial tanto para o consumo in natura como para produção industrial de sucos.
Garbuio explica que a gravidade da situação levou a adoção da Operação Big Citros nas regiões de Londrina e de Cornélio Procópio, medida que também já foi adotada nas regiões de Paranavaí, em 2023, e de Umuarama, em 2024.
A operação, segundo a engenheira agrônoma da Adapar, prevê o ataque aos dois pontos críticos para o controle da situação. O primeiro consiste na erradicação de plantas hospedeiras doentes e na segunda frente, a eliminação do inseto vetor da bactéria que provoca do greening, o psilídeo Diaphorina Citri, que voa de planta em planta para se alimentar, espalhando a doença muito rapidamente.
A erradicação de plantas contaminadas durante a operação se dá principalmente em quintais e pequenos pomares nas áreas urbana e rural localizadas num raio de até quatro quilômetros de áreas de produção comercial de laranja e outros cítricos. A operação prevê a eliminação de árvores de frutas cítricas (laranja, limões, tangerinas etc), bem como da murta (Murraya paniculatta), planta hospedeira do psilídeo.
Segundo Garbuio, a murta não apresenta sintomas da doença, então a operação prevê a erradicação de todas as murtas dentro desse raio de quatro quilômetros. “Esse raio foi estabelecido com base em estudos na distância do voo do psilídeo”, explica.
A fiscal da Adapar afirma que os trabalhos de combate à doença começam antes mesmo da Operação Big Citros ser aplicada. “Tudo começa 10 dias antes, com o trabalho de comunicação com a população sobre a doença e importância da erradicação das plantas hospedeiras. Isso ajuda a reduzir conflitos”, afirma.
A operação, segundo ela, irá atender cerca de 200 pontos com plantas contaminadas nas duas regiões, e a realização do cadastro de aproximadamente 400 propriedades comerciais de citros.
A operação será realizada por duplas de fiscais de defesa agropecuária, que farão as notificações para erradicação das plantas. “Paralelamente ao trabalho de fiscalização, será disponibilizado pela inciativa privada, algumas equipes de corte, as quais, se for autorizado pelo notificado, já providenciarão os cortes das plantas doentes”, observa.
As autorizações de erradicação têm sido autorizadas de imediato. Nos casos em que há resistência, o produtor será notificado para erradicar a planta em até 20 dias. Caso não atenda à determinação, será autuado, com a multa podendo chegar a R$ 6 mil por planta não erradicada. “Estamos amparados por leis e decretos que obrigam a erradicação. E se ele não pagar vai para dívida ativa e se não erradicar, será encaminhado para o Ministério Público”, alerta.
O engenheiro agrônomo da Integrada Cooperativa Agroindustrial Carlos Vagner Aravechia, que é especialista em citros, afirma que a parceria com a operação Big Citros visa garantir a viabilidade da citricultura no Paraná. “Além do apoio na divulgação e mobilização dos cooperados que fazem parte do projeto, a parceria assegura a implantação de uma área própria de 600 hectares, com 360 mil plantas”, comenta.
Segundo ele, o projeto que está sendo implantado na região de Cornélio Procópio desde o ano passado tem, entre outros objetivos, mostrar que a citricultura é uma lavoura viável e segue sendo boa alternativa para os produtores.
A citricultura envolve cerca de 90 cooperados da Integrada, segundo o agrônomo, nessas duas regiões. Aravechia observa que a doença já reflete na produção, resultando numa perda média de duzentas caixas de laranjas por hectare. “Além de provocar essas perdas, a doença também tem afastado novos produtores da citricultura”, afirma. No entanto, com a chegada do Big Citros há dois anos, já se percebe uma retomada dos plantios de novos pomares.
O agricultor Eduardo Takao Kumata, de São Sebastião da Amoreira, cultiva laranja desde 2003, em pomares em diferentes fases de produção, que ocupam uma área de pouco mais de 60 hectares. E vem tendo problemas com o greening há anos.
“A gente consegue controlar, mas não consegue acabar com o problema no pomar. Eu erradico por ano cerca de mil plantas e faço as substituições por novas, mas a doença sempre volta. O inseto vem voando de longe, de pomares abandonados. Então a gente faz o controle direto”, comenta.
Ele observa que, no início, fazia o controle químico contra a doença uma vez por mês, e atualmente, as aplicações de defensivos são semanais. “Além das perdas na produtividade, tem aumento do custo de produção com o combate à doença. Mas ainda a produção de laranja ainda é bastante rentável”, afirma. Kumata diz que a operação Big Citros é importante pois ele percebe que há muitos pomares contaminados que estão abandonados espalhando a doença, e nota que quando há cuidado com a propriedade, principalmente os pequenos pomares caseiros, a incidência diminui.
“Conforme o lado que o vento vem, a perda na minha lavoura é maior. Quando vem do lado onde os vizinhos não cuidam de seus quintais, a perda chega a 40%, já do lado em que vejo que há mais cuidados a perda não chega a 10%”, compara.
O controle biológico com a vespa Tamarixia radiata tem sido uma alternativa para combater o psilídeo que espalha o greening. Segundo o pesquisador do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), Rui Leite, o projeto começou em 2017 e hoje a unidade do IDR em Londrina produz 200 mil tamarixas por mês. A iniciativa conta com apoio de cooperativas e indústrias que processam citros no Paraná.
Leite afirma que não há ainda uma avaliação específica dos efeitos do uso da vespa tamarixia no combate do psilídeo asiático do citros, que provoca o greening. “Mas os retornos que temos dos agrônomos que acompanham as lavouras comerciais de laranja são positivos e as empresas parceiras querem que a gente continue produzindo a vespa”, comenta.
Segundo o pesquisador, a tamarixia é liberada em áreas com a presença de murtas, pomares cítricos residenciais urbanos e rurais e pomares comerciais abandonados. Uma vez solta, a vespa vai em busca de ninfas de psilídeo para depositar seus ovos, que após eclodirem parasitam o inseto causador do greening até a sua morte.
“Mas a soltura das vespas só pode ser feita fora das lavouras comerciais de citros, pois essas recebem pulverizações para o controle de pragas, o que mataria a tamarixia”, explica.

