A combinação aparentemente improvável entre resíduos de esgoto e plantações tem se mostrado uma solução eficiente e sustentável para a agricultura moderna. O lodo de esgoto, proveniente do tratamento de águas residuais urbanas, tem ganhado destaque como um fertilizante orgânico de alto valor nutricional para as lavouras. Essa técnica inovadora tem impulsionado práticas agrícolas mais responsáveis, promovendo benefícios tanto para os agricultores quanto para o meio ambiente.

Relatório divulgado nesta quarta-feira (26) pela Sanepar e protocolado no IAT (Instituto de Água e Terra) mostra que volume do lodo destinado à agricultura no Paraná cresceu 40%, passando de 16 mil toneladas em 2021 para 23 mil toneladas em 2022.

O uso do lodo atende à Política Nacional de Resíduos Sólidos e aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). O programa foi reconhecido pela ONU, em 2016, como prática sustentável. Também foi destacado como boa prática de gestão pelo Instituto Trata Brasil e Fundação Getúlio Vargas, que premiou a Sanepar, em 2022, na categoria de Inovação & Tecnologia.

O Programa de Uso Agrícola do Lodo de Esgoto é aplicado pela Sanepar há duas décadas e já destinou cerca de 420 mil toneladas para agricultores em todas as regiões do Estado, sendo aplicado em mais de 3 mil hectares. Rico em matéria orgânica e nutrientes (principalmente nitrogênio, fósforo e enxofre), o lodo auxilia na correção do pH do solo e fornece cálcio e magnésio por receber aplicação de cal no processo de higienização.

COMO FUNCIONA

O lodo de esgoto é o produto final dos sistemas de tratamento de esgoto, onde os resíduos sólidos são separados da água. Antes da sua aplicação na agricultura, o lodo passa por um rigoroso processo de tratamento, eliminando patógenos e substâncias tóxicas, tornando-o seguro para o meio ambiente e a saúde humana. Após esse tratamento, o material resultante é rico em nutrientes como nitrogênio, fósforo, potássio e matéria orgânica, elementos essenciais para o crescimento das plantas.

Essas características melhoram as condições do solo e aumentam a produtividade das culturas. Além disso, o uso agrícola do lodo é uma alternativa ambientalmente correta uma vez que o material deixa de ir para os aterros sanitários. A aplicação é permitida em todas as culturas agrícolas que não tenham contato direto com o material, como soja, milho, trigo, café, aveia, café, laranja, limão e florestais. Não podem receber o lodo hortaliças, pastagens, culturas inundadas e tubérculos.

BENEFÍCIOS

A prática de utilizar lodo de esgoto na agricultura remonta a séculos, mas, com os avanços tecnológicos e ambientais, essa abordagem tem sido aprimorada e regulamentada para garantir sua eficácia e segurança. Um dos principais benefícios é a redução da dependência de fertilizantes químicos sintéticos, que muitas vezes contribuem para a poluição do solo e da água.

Ao adotar o lodo de esgoto tratado como fertilizante, os agricultores podem aproveitar os nutrientes contidos nesse material orgânico, enriquecendo o solo de forma natural e sustentável. Isso, por sua vez, melhora a qualidade do solo ao aumentar sua capacidade de retenção de água, aeração e resistência a doenças.

Outro aspecto positivo dessa técnica é o seu impacto na redução das emissões de gases de efeito estufa. O lodo de esgoto, quando disposto em aterros, pode liberar metano, um potente gás de efeito estufa, enquanto sua utilização como fertilizante evita essa liberação e contribui para a captura de carbono no solo.

CUIDADOS

No entanto, é fundamental destacar que a aplicação do lodo de esgoto na agricultura deve ser realizada de forma controlada, seguindo diretrizes e regulamentações específicas. O uso excessivo ou inadequado pode causar problemas ambientais, como o acúmulo de metais pesados no solo e a contaminação de recursos hídricos.