O inverno é a estação mais fria do ano e também a mais propícia aos incêndios em campos abertos, como áreas rurais e zonas florestais. Nesta época há uma redução significativa no volume de chuvas, condição que, associada aos materiais combustíveis de matas e plantações, tornam o risco maior. De acordo com o Corpo de Bombeiros, 90% dos incêndios florestais são causados por ações humanas.

Em 2024, o Paraná registrou recorde de focos de fogo no Estado. Dados do Corpo de Bombeiros indicam que foram 13.555 pontos em áreas ambientais, mais que o dobro das ocorrências de 2023. Entretanto, as condições climáticas deste ano demonstram que haverá maior neutralidade em relação aos anos anteriores, em que houve incidência de fenômenos como El Niño e La Ninã.

Segundo a corporação, até o dia 17 de junho de 2025, foram registrados 2.765 focos, enquanto no mesmo período de 2024 esse número foi de 4.004.

“Já conseguimos observar uma redução dos incêndios florestais em 2025. Uma queda de 40% por conta das condições climáticas em comparação ao mesmo período de 2024. Em 2025, espera-se menos ondas de calor e períodos de estiagem, ao contrário de 2024”, diz a capitã do Corpo de Bombeiros Luisiana Guimarães Cavalca.

Ângela Costa, meteorologista do IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural), explica que as condições de neutralidade deste ano trarão chuvas também dentro da média histórica no inverno. A média histórica na RML (Região Metropolitana de Londrina), que considera valores desde 1976, indica precipitação de 67 mm em julho, 56 mm em agosto e 110 mm em setembro.

Em 2024, sob influência do fenômeno La Ninã, que afetou o segundo semestre do ano, a precipitação nos meses de agosto e setembro foi de 40mm e 61mm, respectivamente. “Agosto é o mês que menos acumula chuva. Espera-se que fique em torno da média histórica e espera-se que ocorra dentro da normalidade da estação”, ressalta Costa.

Apesar da expectativa, os cuidados no inverno devem sempre ser maiores, tanto para o setor agropecuário como para empresas de base florestal, que atuam com o cultivo e manejo de madeira para a fabricação de produtos como embalagem, higiene pessoal, limpeza e saúde. Para esse setor, a prevenção é mais exigente.

Neder Maciel Corso, engenheiro florestal do Detec (Departamento Técnico) do Sistema Faep, explica que esse setor produtivo costuma estar sempre mais bem preparado por ter as florestas como seu principal ativo.

“[As empresas] têm uma estrutura tanto de detecção precoce, quanto de combate. Brigadistas treinados, torres de incêndio, drones de detecção e uma mobilização muito mais rápida para esses combates. Então a gente têm essa preocupação de levar, de disseminar informação para todo o meio rural, porque todo mundo acaba se beneficiando”, comenta Corso.

O Sistema Faep é um dos apoiadores da campanha de prevenção e combate aos incêndios florestais idealizada pela Apre Florestas (Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal), em parceria com diversas instituições.

Neste ano, a campanha tem como foco a conscientização de crianças e adolescentes nas escolas por meio de cartilhas educativas. Para os produtores, as principais recomendações são a capacitação em prevenção e em resposta rápida, formações que são disponibilizadas gratuitamente pelo Senar-PR desde 2020 para o meio rural.

“O Senar oferta cursos, desde os mais básicos, para trabalhar com as questões de prevenção, até outros que vão abordar equipamentos de caminhão-pipa, conceitos de primeiros socorros e outros efeitos dos incêndios, como destruição do nascente de água, acidentes com rede elétrica, poluição do ar”, explica Corso.

Tão importante quanto a capacitação com foco na conscientização e prevenção é a capacitação do produtor para lidar de forma rápida na ocorrência do incêndio, em que é necessário ter perícia para manusear bombas costais, abafadores e outros equipamentos. Se o produtor não tem essa capacitação, a orientação é acionar ajuda o mais rápido possível, evitando a escalada do fogo.

USO RACIONAL DO FOGO

Causar incêndio é crime previsto pelo Código Penal brasileiro (Lei nº 2.848/1940) e penalizado com reclusão de três a seis anos, e multa. A pena é aumentada se o incêndio for causado em lavouras, pastagens, matas ou florestas.

Neder Corso explica que por muito tempo o fogo foi utilizado para limpeza de áreas nas zonas rurais, mas que essa prática é proibida no Paraná. Contudo, a utilização do fogo de forma racional, com o objetivo de reduzir o material combustível e evitar incêndios em áreas mais vulneráveis, é um tema que tem avançado.

A prática foi regulamentada pela Lei Nacional nº 14.944 de 2024, que institui a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, com o objetivo de disciplinar o uso racional, reduzir a incidência e os danos dos incêndios florestais no território nacional e reconhecer o papel ecológico do fogo nos ecossistemas.

“É uma lei que vai transferir para os próprios corpos de bombeiros de cada estado, [a possibilidade de] legislar para que sejam formadas as brigadas ambientais. Não existia uma lei específica para incêndios ambientais. Agora que saiu esse plano nacional”, completa Corso.

HISTÓRICO DE COMBATE

O incêndio florestal mais destrutivo do Brasil – e um dos mais graves do mundo – ocorreu no Paraná entre agosto e setembro de 1963. As chamas atingiram cerca de 10% do território, queimando 2 milhões de hectares e deixando 110 pessoas mortas e mais de 5 mil desabrigadas.

Em razão desse histórico, o estado vem capacitando militares e civis ao longo dos anos para lidar com esse tipo de desastre ambiental. Em novembro de 2024, a Defesa Civil Estadual e o Corpo de Bombeiros do Paraná concluíram a capacitação de 540 brigadistas florestais em 100 municípios que possuem ou estão próximos a unidades de conservação e áreas de proteção ambiental.

Em abril deste ano, o governo do Estado distribuiu aos mesmos 100 municípios R$ 22,7 milhões em equipamentos de combate a incêndios, como kits picape, sopradores, tanques cisternas equipados com motobomba, além de abafadores, rastelos, enxadas, foices, mochilas costais, capacetes, óculos de proteção, luvas bandanas e coletes que já haviam sido repassados.

O coordenador da Defesa Civil em Londrina, Felipe Juliani, explica que, atualmente, o trabalho de combate a incêndios na região é exclusivo do Corpo de Bombeiros e que ainda não há uma articulação bem estruturada entre os bombeiros, produtores rurais, entidades do agronegócio e a Defesa Civil.

Juliani ressalta, entretanto, o apoio prestado pela entidade, com o fornecimento de equipamentos como maquinários e caminhões-pipa.

MUNICÍPIOS DA RML

Dos 25 municípios que compõem a RML (Região Metropolitana de Londrina), seis deles constam na lista dos 100 municípios que possuem ou estão próximos a unidades de conservação e áreas de proteção ambiental. São eles: Arapongas, Cambé, Ibiporã, Londrina, Rolândia e Sabáudia. Esses municípios próximos a áreas verdes poderão ser acionados para atuação rápida em caso de incêndio.

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