A chegada do inverno aumenta a preocupação com riscos de incêndios em áreas florestais. No Paraná, a principal causa é a prática de queimadas inadequadas em áreas da zona rural. ‘‘O produtor queima os restos da agricultura de maneira incorreta, perde o controle e o fogo acaba se alastrando’’, disse o major Sérgio Gonçalves, da Divisão de Defesa Civil do Estado. Fósforos e pontas de cigarro jogadas nas margens de rodovias, fogueiras de acampamentos e incêndios criminosos são outros motivos comuns.
No ano passado, foram registradas 3.526 ocorrências de incêndio em território paranaense, totalizando 12.659 hectares (ha) atingidos. Desse volume, 6.397 ha estavam localizados em áreas não florestais, 5.662 ha em florestas nativas e 600 ha em regiões reflorestadas.
A boa notícia é que o indíce de incêndios diminuiu com relação a 1999, quando foram registrados 6.610 incêndios em um espaço total de 126.864 ha. No ano retrasado, as áreas não florestais também lideraram o ranking de incêndios, perfazendo 117.408 ha atingidos. Nas florestas nativas, o número diminuiu para 7.194 ha e nas áreas de reflorestamento, 2.263 ha.
Prevenção Um programa do Governo Federal, através da Embrapa, está treinando técnicos em nove Estados brasileiros, responsáveis por 85% dos focos de queimada no território nacional. Esses técnicos irão repassar tecnologias para substituir o uso da prática da queimada na agricultura para os produtores rurais. O treinamento se concentra nos Estados de Rondônia, Piauí, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Maranhão e Tocantins.
O Paraná está fora da área chamada de ‘‘arco do fogo’’, que concentra os índices mais preocupantes. Mesmo assim, a Defesa Civil, em conjunto com órgãos que compõem o Comitê Executivo do Plano de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Previflor), está coordenando uma campanha de prevenção, que inclui treinamento de bombeiros e demais integrantes das brigadas de incêndio.
De acordo com Gonçalves, o Simepar vai monitorar todo o Estado localizando os ‘‘pontos quentes’’. Quando houver risco moderado, a estrutura da campanha entra em ação, distribuindo panfletos de orientação nas rodovias próximas à área. O período de maiores riscos engloba os meses de julho a outubro.
A home page da Simepar na Internet (www.simepar.br/defcivil) vai veicular informações sobre a possibilidade de queimadas com boletins atualizados. Também serão transmitidas vinhetas de esclarecimento no rádio e na televisão. ‘‘A brigada aérea e as aeronaves agrícolas serão acionadas se houver ocorrência de incêndios’’, afirmou.
Alternativas No Brasil, as queimadas são utilizadas principalmente na pecuária, para renovar ou recuperar áreas de pastoreio, eliminar pragas e plantas daninhas ou na tentativa de agregar nutrientes ao solo. Após o fogo, tem-se a falsa impressão que a pastagem rebrota com mais força e melhor aparência. Após alguns anos, porém, constata-se que a prática provoca a degradação físico-química do solo e traz prejuízos ao meio ambiente.
A Embrapa sugere algumas alternativas para substituir as queimadas nas pastagens. São técnicas que aumentam a oferta de comida, permitem o controle de ervas daninhas e diminuem o volume de plantas secas, entre outros motivos enumerados pelos pecuaristas para justificar a utilização do fogo.
As técnicas recomendadas contemplam a mistura do sal mineral com uréia para fornecer aos animais criados a pasto ou outras fontes de proteína e energia; o armazenamento do excesso de forrageiras através do feno, feno em pé ou silagem; sistema de banco de proteína; adubação de manutenção associada ao manejo de pastagens; pastejo rotacionado intensivo com adubação; diversificação de espécies forrageiras e pastejo misto com mais de uma espécie ruminante na mesma área de pastagem.
Outras possibilidades sugeridas são o plantio do pasto consorciado com grãos; manejo da palhada; controle das cigarrinhas-de-pastagens; controle de plantas invasoras; plantio direto; utilização de tecnologias que melhorem o solo; uso de sistemas agroflorestais (plantios envolvendo culturas alimentares e madeireiras); manejo florestal e reflorestamento social.
Prática Correta Sérgio Gonçalves lembrou que toda queimada não autorizada é crime passível de punição. ‘‘O produtor deve optar por técnicas que dispensem a prática, como é o caso do plantio direto. Se não for possível, deve pedir a orientação do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) antes de colocar o fogo’’, acrescentou.
De acordo com o engenheiro florestal Jackson Luiz Vosgerau, do IAP, o agricultor deve evitar fazer a queimada nos períodos mais quentes do dia, quando a umidade relativa do ar estiver baixa. ‘‘Logo pela manhã ou no final da tarde são os melhores horários. O risco é menor e, se ocorrerem incêndios, é mais fácil de apagar’’, analisa, ressaltando a necessidade de pedir o licenciamento prévio do IAP e disponibilizar mão-de-obra suficiente para controlar o processo.
Chuvas escassasO Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê chuvas escassas durante o inverno deste ano. Segundo os meteorologistas, os meses de agosto e setembro são os mais críticos nas áreas propícias a pontos de fogo, devido à ocorrência de poucas chuvas. Em algumas áreas, as temperaturas deverão ser ligeiramente acima do normal, como no Centro-Oeste, o que pode aumentar o número de queimadas na agricultura.
Nos próximos dias, o Inmet vai disponibilizar aos usuários, por meio do site www.inmet.gov.br, informações sobre as áreas de risco de queimadas em todo o País, com boletins atualizados a cada 12 horas. O sistema integra o Programa de Alternativas para a Prática das Queimadas na Agricultura, coordenado pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento.