A ferrugem-asiática é considerada a mais severa doença da soja, produto que tem papel estratégico na economia brasileira. Desde 2016, o IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná) mantém uma rede de monitoramento da doença no estado utilizando coletores de esporos do fungo distribuídos pelas regiões produtoras do grão.

Agora, a novidade é que o instituto, em parceria com o campus de Cornélio Procópio da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), está desenvolvendo um processo de automatização na leitura dos coletores. O tema foi discutido no painel “Produção Sustentável de Soja no Paraná”, realizado pela Embrapa Soja e pelo IDR-Paraná, durante a 62ª ExpoLondrina (Exposição Agropecuária e Industrial de Londrina).

O pesquisador Renan Barzan, do IDR-Paraná, explica que hoje o processo de leitura é feito manualmente por um profissional treinado, o que é um trabalho demorado. “A ideia é que a gente fizesse um processo automatizado que levasse menos tempo para fazer o reconhecimento. Foi feito um termo de cooperação para desenvolver esse mecanismo de leitura e reconhecimento automático do esporo”, afirma Barzan.

RECONHECIMENTO DA IMAGEM DO ESPORO

O pesquisador conta que a primeira etapa foi o desenvolvimento do hardware por impressoras 3D para fazer o acionamento automático do microscópio para leitura das lâminas dos coletores, sem a necessidade do operador.

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“E o segundo passo seria o reconhecimento da imagem do esporo, que era feito de forma ocular, e o desenvolvimento da Inteligência Artificial que substituiria essa necessidade de ter uma pessoa identificando o esporo”, acrescenta. Durante o evento foi apresentado um protótipo funcional que atua por semelhança a partir de um banco de dados.

A identificação é importante no combate à doença porque, no momento em que é notada a presença do esporo, o produtor é alertado para adotar as medidas necessárias para o controle.

‘SERIEDADE E CUIDADO’

Segundo o pesquisador do IDR-Paraná, os impactos causados pela ferrugem-asiática da soja são variáveis, pois a presença da doença está condicionada às questões climáticas. Afinal de contas, o fungo depende de temperatura e umidade bastante específicas para se proliferar.

“Este ano tivemos temperaturas elevadas e baixa umidade. Isso não favoreceu muito o fungo, principalmente no Norte do Paraná, e com isso tivemos pouco problema de ferrugem na região”, acrescentando que a quantidade de fungo presente no ambiente também é um fator determinante.

A própria prática do vazio sanitário - período em que é proibido cultivar ou manter plantas de soja - é uma medida que visa combater a doença, uma vez que ela precisa de plantas vivas para sobreviver.

Barzan reforça que a ferrugem-asiática já foi um problema maior, mas que ainda demanda cuidados por parte do produtor. “Se não controlada, causa perdas de mais de 50% da produtividade. A gente vê ela com bastante seriedade e cuidado”, completa.

Manejos sustentáveis

Outro tema discutido durante o painel “Produção Sustentável de Soja no Paraná” foram os retornos econômicos e ambientais trazidos pela adoção dos manejos sustentáveis, principalmente MIP (Manejo Integrado de Pragas), MID (Manejo Integrado de Doenças) e coinoculação em soja.

André Prando falou sobre práticas sustentáveis que podem ser adotadas pelos produtores rurais
André Prando falou sobre práticas sustentáveis que podem ser adotadas pelos produtores rurais | Foto: Ricardo Chicarelli/Expo2024

O pesquisador da Embrapa Soja André Prando explica que essas três tecnologias constituem boas práticas agrícolas que podem ser adotadas pelo produtor rural. Ele destaca que, do ponto de vista econômico, o MIP traz uma economia média de 53% nas aplicações de inseticidas; o MID, de 38% no gasto com fungicidas; e a coinoculação apresenta uma elevação de produtividade de 4,7 sacas por hectare.

A estimativa é que o aumento da rentabilidade, a partir da união das três práticas, gire em torno de 8,2 sacas de soja por hectare. Considerando o valor de R$ 108/saca na região de Londrina, seriam R$ 885 por hectare.

Prando também reforça que o ambiente sai ganhando nessa equação. O MIP, por exemplo, com a redução do volume e a aplicação de inseticida nos momentos adequados, contribui para preservar os inimigos naturais das pragas da planta.

INSETICIDA

“Com isso, a gente reduzindo a primeira entrada de inseticida na lavoura e damos mais condições de preservar os inimigos naturais. É uma vantagem, porque eles são nossos aliados no controle das pragas”, explica o pesquisador, que ainda cita que o uso adequado garante maior efetividade do produto.

Tratando da inoculação e coinoculação, Prando explica que a prática serve tanto para fixar o nitrogênio na planta quanto para garantir uma maior produção a partir do uso da bactéria Azospirillum, que é uma promotora do crescimento da planta.

“Eu vou ter uma maior produção de soja na mesma área”, resume o pesquisador. “E com a utilização das bactérias, nós conseguimos dispensar a utilização do fertilizante nitrogenado na cultura da soja, que é um nutriente caro”, alertando que esses insumos ainda podem trazer impactos ambientais.

PROTAGONISMO DO PRODUTOR

A avaliação do pesquisador da Embrapa Soja é que essas três tecnologias ainda precisam ser reforçadas e divulgadas junto aos produtores rurais. Ele cita um levantamento que indica que 70% dos agricultores utilizam inoculação, mas apenas 26% trabalham com coinoculação. “Nós vimos, nos últimos anos, um crescimento dessas tecnologias, mas ainda estamos longe de 100%, que é o objetivo”.