Um projeto que alia apicultura à produção de soja promete ir além do aumento da produtividade do grão, visto que outros estudos semelhantes já mostraram ganhos entre 10% e 20% por conta dos efeitos da polinização.

É o que promete a parceria entre Embrapa Soja e Basf. Durante três anos, até 2025, a pesquisa segue sendo realizada em três Estados – Paraná, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.

Segundo Décio Luiz Gazzoni, pesquisador da Embrapa “A produtividade da soja é aumentada porque as vagens apresentam maior número de grãos. O peso do grão é maior e a planta produz menos vagens chochas ou com 1 grão, e mais vagens com 3 ou 4 grãos”.

Os benefícios para o produtor são o ganho líquido, já que o aumento de produtividade não requer mudanças no sistema de produção. “Ele usa a mesma cultivar, a mesma época de semeadura, a mesma adubação, sem ter aumento no custo de produção. O que colher a mais é lucro líquido”, pontua.

Existe ainda o ganho de mercado, especialmente na área internacional, com a melhoria da imagem dos produtores brasileiros no exterior, por serem utilizadas técnicas social e ambientalmente sustentáveis.

“Os resultados preliminares só estarão disponíveis quando realizarmos os workshops com todos os participantes, provavelmente em maio deste ano”, anunciou o pesquisador.

INTEGRAÇÃO

O objetivo central do projeto é demonstrar que é possível a integração harmônica entre apicultura e sojicultura, desde que o apicultor e o produtor sigam as regras básicas para a integração, que são as boas práticas agrícolas e apícolas.

Entre as atividades contempladas estão a compilação das experiências anteriores de colocação de apiários nas bordas de lavoura de soja, em especial analisando os casos em que surgiram problemas, como a mortalidade de abelhas; e a elaboração de um conjunto de boas práticas a serem observadas pelos interessados.

A validação das boas práticas está sendo realizada em três localidades – Maringá (PR), Dourados (MS) e São Gabriel (RS) – com a participação de agricultores e apicultores que se comprometeram a seguir os preceitos. Em cada município, estão sendo utilizadas entre 3 e 4 propriedades para validação, cada uma com cerca de 100 hectares.

Após a conclusão do estudo, em 2025, será elaborada uma cartilha de BPAs (Boas Práticas Agrícolas) para ser utilizada pelo Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), entidade que promove treinamentos direcionados aos produtores rurais, e por qualquer outra organização que queira participar do programa.

Quanto à disseminação dos resultados, além da cartilha (que será impressa e disponibilizada online), será lançado um app específico (Android e iOS). Também serão produzidos filmetes, cartoons, artigos, entrevistas e outras peças de comunicação.

“A concepção conceitual do projeto é da Embrapa, discutido com a equipe técnica da Basf. A empresa concordou com as linhas mestras do projeto, sugerindo eventuais ajustes operacionais e a realização de treinamentos presenciais sobre BPAs nos locais de validação do projeto. A Basf financia parcialmente o projeto”, explica o pesquisador.

Desde que iniciou os estudos na Embrapa, há 50 anos, Gazzoni sempre se pautou por dois princípios: as soluções propostas teriam que ser factíveis (aceitas pelos usuários) e sustentáveis – financeira, social e ambientalmente.

“A integração apicultura e sojicultura é um exemplo didático do atendimento desses quesitos. Acho que toda a sociedade se beneficiará com o uso extensivo dessa técnica. Por exemplo, se aumentarmos em 15% a produtividade de soja por meio da integração com apicultura, precisaremos 15% menos área para obter a mesma produtividade. E o apicultor produzirá muito mel. Todos ganham”, conclui.

SUSTENTÁVEL

Gerente de Stewardship e Sustentabilidade da Divisão de Soluções para Agricultura da Basf, Maurício do Carmo Fernandes destaca que a parceria com a Embrapa vem ao encontro das metas que a empresa se comprometeu em alcançar até 2030 para promover uma agricultura cada vez mais sustentável.

“Algumas de nossas metas são aumentar em até 7% ao ano a oferta de soluções ainda mais sustentáveis; reduzir em 25% as emissões mundiais de gases de efeito estufa até 2030; zerar as emissões líquidas de CO2 globalmente até 2050; e diminuir em 25% o consumo em metros cúbicos de água captada por tonelada produzida na América do Sul até 2025”, listou.​

Ele acredita que investir nesta parceria vai contribuir para o legado da agricultura brasileira, afinal, todos podem sair ganhando nesta relação da produção mais harmônica de soja e de mel. “A busca pelo equilíbrio ideal entre a produção agrícola e o meio ambiente é um dos pilares que embasam o nosso trabalho.”

A Basf patrocina financeiramente o projeto e, além disso, é responsável por algumas produções específicas, tais como captura de imagens, vídeos, folhetos e outros materiais de treinamento e comunicação.

“A convivência harmônica entre agricultor e apicultor utilizando manejo e técnicas adequadas, tanto na parte da agricultura quanto da apicultura, irá demonstrar um modelo onde ambos terão suas responsabilidades e benefícios.”

Ele acrescenta que o processo e as ações poderão ser replicados em outras regiões produtoras de soja e mel. “Isso impactará não somente nos ganhos em produtividade, mas também na redução do impacto ambiental e na contribuição para uma agricultura mais sustentável”, conclui.