Como este ano o Brasil espera uma safra de 83 milhões de toneladas de grãos, aqueles insetos deverão destruir 8,3 milhões de toneladas. Somente no trigo (produção nacional estimada em 2,3 milhões/t), seriam perdidas 230 mil toneladas - no valor do preço mínimo básico, de R$130,00 a tonelada, fixado para a safra deste ano, tem-se um prejuízo de R$29,9 milhões. Além disso, observa o pesquisador Irineu Lorini, entomologista do Centro Nacional de Pesquisa de Trigo (Embrapa-Trigo), ocorrem perdas no trigo importado, embora, devido à comercialização mais rápida, o nível de perdas seja menor.
Entre as pragas mais comuns e prejudiciais, Irineu Lorini destaca o besourinho-dos-cereais, o gorgulho-dos-cereais e a traça-dos-cereais. O besourinho é capaz de consumir, em uma semana, alimentos equivalentes a cinco-seis vezes seu próprio peso. Juntando essa voracidade à sua alta densidade populacional, é a principal praga de trigo no Brasil. Ele perfura os grãos e deixa resíduos em forma de farinha. Esse inseto adapta-se rapidamente às diversas condições climáticas e sobrevive mesmo sob variações de temperatura.
Gorgulho, traçaAs larvas e os adultos do gorgulho-dos-cereais atacam grãos no campo e nos armazéns. O inseto ‘‘mina’’ o interior dos grãos e deposita seus ovos ali. As larvas se desenvolvem nos grãos atacados, viram pupas e se transformam em adultos. O gorgulho não se limita ao trigo. Ele é predador também de outros cereais, entre eles arroz e milho. Os cereais hospedeiros sofrem perda de peso e de qualidade,
A traça-dos-cereais fica na superfície dos grãos (a granel ou ensacados), alimentando-se, preferencialmente, dos embriões dos grãos. Por isso não causa prejuízos no interior da massa de grãos armazenados e seu controle é mais fácil, conforme noticia a Agência Brasil.
ManejoOs insetos são uma grande preocupação dos armazenadores, por causarem prejuízos elevados, principalmente na qualidade dos grãos. Lorini orienta sobre como fazer o manejo adequado, para controlar as pragas que ameaçam os grãos armazenados. Primeiro, o armazenador precisa identificar a praga que está ocorrendo. Depois, conforme as condições do armazém, definir as condições de aplicação de inseticidas e sua eficiência. Em seguida, ‘‘monitorar a praga e suas respectivas resistências aos inseticidas em uso’’.
Considerando a elevada perda média causada pelos insetos nos grãos armazenados, Lorini recomenda o monitoramento dos armazéns, para detectar a presença do inseto logo que ele aparecer. Devem ser instaladas armadilhas que atraiam os insetos, usando feromônios, adesivos, cor ou luz.
A vistoria das armadilhas deve ser periódica - uma vez por semana, ou de 15 em 15 dias -, para eliminar a praga imediatamente. Isto é imprescindível. Portaria do Ministério da Agricultura proibe a comercialização do trigo no qual haja um inseto sequer. Por isso, uma cooperativa ou armazenadora que envie um carregamento de trigo do Paraná, por exemplo, para um moinho do Nordeste, poderá receber toda a carga de volta, sem qualquer remuneração, se nela for encontrado um inseto que seja.
Esse trigo poderá ser expurgado, beneficiado e voltar ao mercado, se ficar totalmente livre de inseto, mas alguma quantidade do produto perde-se nesse processo . Sempre há, então, um prejuízo. Os 10% de prejuízos são a perda média, que varia de 1% em boas condições de armazenagem a até 30% nos piores casos.
ResistênciaO pesquisador recomenda, entre outras medidas de controle das pragas de armazéns, o manejo da resistência dos insetos aos inseticidas químicos aplicados para proteger os grãos ou destruir as pragas. Com o uso continuado de um produto, explica o pesquisador da Embrapa-Trigo, após algum tempo as espécies de insetos ficam resistentes aos inseticidas, e um produto que antes matava determinada praga, torna-se inócuo; não faz mais efeito. E se a praga torna-se resistente a produto químico, seu controle fica mais difícil.
Para evitar o desenvolvimento da resistência, não devem ser usados sempre os mesmos inseticidas. ‘‘Ninguém quer veneno, mas infelizmente nesse caso ainda precisamos deles’’, ressalva Lorini à Folha Rural, por telefone.
ExplosãoAlém dos prejuízos que causam ao destruir ou depreciar grande quantidade de grãos, insetos como o besourinho contribuem para aumentar o risco de explosões nos armazéns. Os resíduos que deixam ao se alimentarem aumentam a quantidade de pó, que pode explodir em casos de curto-circuito ou atrito que produza faísca. Essa poeira é, conforme estudos de outras fontes, altamente explosiva.