Impacto do coronavírus no agronegócio brasileiro será ‘pontual e passageiro’
Avaliação é de professor de Economia da Universidade Estadual de Londrina; para o Deral, ainda é cedo para traçar cenário
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sábado, 07 de março de 2020
Avaliação é de professor de Economia da Universidade Estadual de Londrina; para o Deral, ainda é cedo para traçar cenário
Mie Francine Chiba - Grupo Folha
O surto do novo coronavírus tem trazido efeitos negativos à economia mundial. A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) diminuiu a projeção de crescimento mundial em ao menos 0,5%, em função do novo coronavírus. A perspectiva de aumento de 2,9%, divulgada em novembro de 2019, foi revisada para 2,4% em novo relatório divulgado pela Organização.
O país mais afetado deve ser a China, onde a epidemia começou. O aumento de 5,7% do PIB chinês previsto em novembro do ano passado foi revisado para 4,9% no novo relatório.
No Brasil, a previsão de crescimento da OCDE se mantém em 1,7% para 2020, indo a 1,8% no ano seguinte.
Técnico do Deral (Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento), Edmar Gervásio avalia que ainda é cedo para medir os reflexos do coronavírus no agronegócio. Restrições comerciais e fechamento de fronteiras sempre trazem impactos, mas ele diz ainda não ter ouvido relatos de exportadores que tiveram negócios adiados devido ao surto.
Conforme ele, soja é a commodity mais exportada do Paraná para a China, e as importações para o agronegócio não são tão significativas quanto, fazendo com que a balança comercial seja positiva. “Quando tem um cenário nesse sentido, tem uma tendência de a economia retrair como um todo. Todos os países acabam sendo impactados. É preciso aguardar algumas definições para poder traçar esse cenário.”
Já a avaliação do professor de Economia da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Carlos Caldarelli, é que o surto do coronavírus não será suficiente para causar impacto significativo no agronegócio brasileiro. “Com certeza serão registrados impactos pontuais em alguns mercados, sobretudo aqueles em que a China é principal parceira do Brasil, mas isso não tem a capacidade de alterar a dinâmica do agronegócio brasileiro.”
Segundo ele, isso pode ser explicado pelo fato de o mercado brasileiro doméstico ser muito grande; de o agronegócio ser muito bem estabelecido, com muitos parceiros em vários mercados; e de ser responsável pela produção de alimentos, essenciais para o consumo humano. “Ou seja, impactos teremos, mas pontuais e passageiros.”
As oscilações do câmbio podem encarecer os insumos importados utilizados na agropecuária, e tornar os produtos exportados pelo Brasil mais baratos e, portanto, mais competitivos. Porém, Caldarelli avalia que a desvalorização do real frente ao dólar não tem relação apenas com o surto de coronavírus. “É um movimento que tem se observado desde antes do surto da doença e tem razões fiscais e de mudanças da taxa de juros no país.”
“O surto da doença tem impactos nos mercados financeiros globalmente e isso tem trazido oscilações e volatilidade aos mercados cambiais e de ações mundo afora. Isso traz instabilidade e em alguns países esses impactos não são desprezíveis”, conclui o professor. “Contudo, registra-se que tais oscilações são passageiras e, como se pode observar, esses mercados já retomam às suas trajetórias pré-doença. Em específico no agronegócio, teremos registro de algumas perturbações em mercados específicos, mas pontuais e passageiras. Nada substancial que mude a dinâmica do setor.” (Com Folhapress)