O morango é uma fruta de destaque na geração de renda bruta aos produtores rurais do Paraná. No ano passado, o VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária) da cultura alcançou R$ 259,8 milhões, ficando apenas atrás da laranja, com riqueza calculada em R$ 404,2 mi. Apesar desse cenário, o alto custo de produção vem sendo sentido pelos produtores nos últimos meses.

Em agosto do ano passado, o agricultor paranaense recebeu R$ 8,34 pelo quilo do morango, em média. Em agosto deste ano, o preço subiu para R$ 10,71, cerca de 22% superior
Em agosto do ano passado, o agricultor paranaense recebeu R$ 8,34 pelo quilo do morango, em média. Em agosto deste ano, o preço subiu para R$ 10,71, cerca de 22% superior | Foto: Ari Dias/AEN

O morango representou 14,2% do total do VBP registrado pela fruticultura no ano passado, que chegou a R$ 1,8 bilhão. A líder laranja, por sua vez, representou 22,1% do VBP em 2020.

A área plantada, o volume de produção e o VBP do morango vêm subindo ano a ano. Em 2018, 2019 e 2020, a área saltou de 861 para 905 e 975 hectares, respectivamente. A produção, por sua vez, subiu de 30,1 mil para 32,8 mil e 34,8 mil toneladas. O VBP, por fim, cresceu de R$ 224,1 milhões para R$ 253,2 milhões e R$ 259,8 milhões, respectivamente.

“Quando se observa a dinâmica da atividade desde 2011, o destaque está no incremento de 71,1% em relação à área, de 114,5% nas colheitas e 75% no VBP, o que evidencia o crescimento da participação que o cultivo de morangueiros apresenta frente à fruticultura”, diz Paulo Andrade, engenheiro agrônomo do Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento.

As regiões de Curitiba, Jacarezinho e Ponta Grossa, participaram com 43,8%, 23,7% e 10,9%, pela ordem, do VBP do morango no ano passado, e juntas concentraram 78,4% da produção do Estado, com produções correspondentes a 15,3 mil toneladas, 8,2 mil toneladas e 3,8 mil toneladas, respectivamente.

Os municípios com maior produção, por sua vez, foram São José dos Pinhais, Araucária, Jaboti e Piraí do Sul, respondendo por quase metade do montante produzido nas três regiões citadas acima.

O engenheiro agrônomo Paulo Andrade destaca que o preço do morango se valorizou do ano passado para este ano, mas os produtores seguem com uma série de desafios. “Racionalizar os custos de produção crescentes e ofertar um produto de alta qualidade isento de resíduos químicos estão entre os maiores desafios dos produtores hoje”, destaca o técnico.

Imagem ilustrativa da imagem FOLHA RURAL - Morango é destaque em renda bruta gerada nas propriedades do Paraná
| Foto: Ari Dias/AEN

CUSTOS

O produtor Rogério Rendaki planta 3 hectares de morangos em uma propriedade em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Na atividade há 15 anos, ele não se lembra de um momento tão crítico como o atual com relação aos altos custos de produção.

“O preço do morango está defasado há pelo menos sete anos. Por outro lado, nos últimos quatro meses o meu custo de produção aumentou 120%, puxado pelas mudas, adubo, embalagem. Hoje estamos pagando para trabalhar, não é uma atividade lucrativa”, enumerou.

Segundo o agricultor, hoje o custo de produção do quilo do morango está em R$ 10. O preço final, por sua vez, varia de R$ 7 a R$ 20, dependendo de dois fatores, a classificação (tamanho) – quanto mais graúdo, melhor o valor agregado – e a época do ano. “No final do ano, por conta das datas comemorativas, o preço sobe. De março até agosto, o preço também está melhor porque a produção é menor”, explica.

Apesar do cenário atual, Rogério está otimista e aposta na melhoria da rentabilidade. Nos últimos 12 meses, as 90 mil plantas geraram cerca de 35 toneladas de morangos. Dentro dos próximos 12 meses, a expectativa é colher morangos provenientes de 120 mil plantas. “Hoje, para a gente ter lucro, precisaria vender os morangos a um preço 40% maior”, calcula.

O maior desafio do produtor é seguir atuando frente ao alto custo de produção. “Nunca aconteceu de subir tanto o custo de produção assim. No mercado, o preço do morango está absurdo. Estamos trabalhando no vermelho e o consumidor paga caro achando que o produtor está enriquecendo. Mas não é isso. É que tem muito atravessador que fica com a maior fatia do valor”, esclarece. O atravessador é o intermediário entre o produtor e o comerciante varejista.

Apesar de todos os desafios financeiros, os cuidados com o cultivo seguem como lema. Para obter o máximo em produção e qualidade, a poda das plantas é a principal prática a ser adotada de maneira sistemática.

“A gente precisa tirar as folhas velhas porque senão junta muito inseto e pragas. A limpeza, então, estimula a planta a crescer novamente. Além disso, faço pulverização com nutrientes e fungicidas. Mas a base é a limpeza mesmo, sem limpeza não há produção”, destaca.

Rendaki comercializa os morangos para uma grande rede de supermercados, além de confeitarias e frutarias, localizados principalmente na Região Metropolitana de Curitiba.

O trabalho na roça é feito hoje 90% com mão de obra familiar – Rogério, o irmão, a esposa e os filhos, de maneira que são recrutados prestadores de serviço pontuais somente para fazer a poda das plantas. “Estamos torcendo para essa situação melhorar”, conclui.

O produtor Rogério Rendaki viu o custo de produção aumentar 120% nos últimos quatro meses
O produtor Rogério Rendaki viu o custo de produção aumentar 120% nos últimos quatro meses | Foto: Arquivo pessoal

NO ESTADO

Segundo o Deral, em agosto do ano passado, o agricultor paranaense recebeu R$ 8,34 pelo quilo do morango, em média. Em agosto deste ano, o preço subiu para R$ 10,71, cerca de 22% superior. O preço médio neste ano está em R$ 9,21 o quilo.

Quase 250 municípios paranaenses produziram morangos no ano passado. Em 2020, nas Ceasas-PR (Centrais de Abastecimento do Paraná), foram comercializadas 7,9 mil toneladas de morangos a um preço médio de R$ 8,80 o quilo, gerando uma movimentação financeira de R$ 70,4 milhões.

O Paraná contribuiu com 73% desta oferta, Minas Gerais com 13,7% e o Rio Grande do Sul, 8,2%. Araucária, São José dos Pinhais e Jaboti forneceram 4,2 mil toneladas e responderam por 52,3% do volume total. O preço médio do quilo em 2021 está em R$ 10,31 – 15% superior a 2020.

Área plantada de morango no Paraná subiu de 861 hectares em 2018 para 975 hectares em 2020
Área plantada de morango no Paraná subiu de 861 hectares em 2018 para 975 hectares em 2020 | Foto: Ari Dias/AEN

Segundo o Censo Agropecuário de 2017, o Paraná conta com 1,5 mil produtores de morango.

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