FOLHA AGROMERCADO
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 31 de março de 2000
FOLHA AGROMERCADO
T R I G O
Área fica igual
Os números iniciais do Deral indicavam redução ao redor de 4% na área de trigo no Paraná, este ano, mas um novo levantamento divulgado esta semana indica que a área deverá ser praticamente a mesma do ano passado. A estimativa atual é de que sejam cultivados 715 mil hectares, 3 mil a mais do que no ano passado.
A área ocupada com o conjunto das lavouras de inverno deve crescer 4% este ano no Estado, com aumento no terreno cultivado de quase todas as culturas, com exceção do centeio, cuja área reduz 2,6% e fica ao redor de 730 hectares, e da aveia branca, que deverá manter-se em 37 mil hectares.
O trigo ocupa 73% da área total de lavouras de inverno (977,83 mil ha), seguido pela aveia-preta com 13,3% (130 mil ha) e pelo triticale, com pouco mais de 5% da área (52 mil ha).
Estes números para o trigo são estimativas, naturalmente e, portanto, podem mudar, mas o Deral acredita que não haja uma grande variação em torno deste número. O gráfico mostra a área plantada com trigo no Paraná nas últimas dez safras, incluindo a safra de 2000. Fica claro que o número para o plantio deste ano está entre os 4 menores dos últimos 10 anos, mas não tão ruim quanto na safra de 1994, quando a área plantada não chegou a 650 mil ha. As razões são velhas conhecidas de todos.
Clima
A expectativa para o inverno deste ano é de que seja seco e frio, o que é benéfico para o trigo desde que não ocorram geadas nos momentos críticos. A previsão de técnicos da área de meteorologia é que não devem ocorrer danos nas lavouras de inverno em função do clima, este ano. Esperar para ver.
A produção paranaense está estimada entre 1,5 e 1,65 milhão de toneladas, considerando a produtividade entre 2.080 e 2.308 kg/ha (entre 84,6 e 93,1 sacas/alqueire, respectivamente). São mostrados também os valores da produtividade média de trigo no Paraná entre 1991 e 1999, além da previsão para o ano 2.000.
A produtividade média vem crescendo no Estado, refletindo a nova fase da cultura e pode crescer ainda mais este ano se o clima ajudar. Há importantes regiões produtoras no Estado cuja produtividade média na safra passada superou 89 sacas por alqueire, tal como ocorreu nas regiões de Londrina e Ponta Grossa.
Em diversas outras regiões a produtividade supera 80 sacas/alqueire e o potencial produtivo para a média estadual chega a 97 sacas/alqueire. Quando esta marca for atingida, a produção do Estado poderia ser de 1,72 milhão de toneladas nos mesmos 715 mil hectares plantados este ano.
Preços
Os preços ao produtor são apenas nominais, pois praticamente todo o trigo produzido em 1999 já foi comercializado pelos produtores. Mas resta algo em torno de 7%, do volume de 1.428 mil toneladas produzidas no ano passado, para serem comercializadas é quem pode, esperando pelos bons preços da entressafra. O detalhe é que a entressafra no Brasil é quando se internalizam as compras de trigo feitas na Argentina que colheu entre final do ano e início do ano seguinte e passa a entregar a partir de dezembro/janeiro.
O preço nominal desta semana foi de R$12,50/sc. Se o leitor se lembra, o desembolso para produzir uma saca de trigo este ano no sistema e produtividade descritos na semana anterior, é de R$12,70/sc, 1,6% a mais do que o preço deste período de entressafra. Seria importante que o preço mínimo agora em 2000 subisse bem acima dos 185 reais/tonelada (R$11,10/sc) que vigorou até a safra de 99. Lembrem-se que o PEP foi feito para garantir o preço mínimo ao produtor e, nestas alturas, seria ainda mais importante que o valor do preço mínimo remunerasse ao menos o custo variável de produção.
Francisco C. Guimarães
e-mail: [email protected]
M I L H O
Região Sul impede maior redução na produção do PR
Com o avanço da colheita e as produtividades normais da Região sul do Estado, a produção de milho do Paraná deve ter uma quebra menor do que se esperava inicialmente, na avaliação do Deral divulgada esta semana.
A quebra na safra paranaense continua elevada, equivalente a 10% da produção prevista no início da safra. Até o último dia 20 deste mês de março, 36% da área plantada com milho no Estado estavam colhidos, o que representa um atraso considerável, levando em conta o ritmo de colheita dos últimos 5 anos.
O gráfico mostra o percentual da área de milho colhido no Estado até por volta do dia 20 de março, dos últimos 6 anos, além do percentual equivalente agora em 2000. Pior do que o atraso deste ano foi o observado em 1996, quando menos de 30% da área estava colhida no segundo decêndio de março. Naquele ano, ao final do mês de março a área colhida não chegava a 40% da área plantada.
O ano em que a colheita esta mais adiantada nesta época foi 1997. Em função disso os preços entre janeiro e março daquele ano reduziram apenas 1,5%, contra uma redução média histórica de 10% entre janeiro e março.
De janeiro até esta semana o preço do milho ao produtor no Paraná reduziu 10,2% nos preços em reais por saca e 5,6% nos preços em dólar. A redução média histórica dos últimos 5 anos para os preços do milho em dólar, entre janeiro e março é de 12,6%, portanto, bem maior do que este ano.
O milho continua se mantendo valorizado frente à soja e supostamente operando próximo da paridade de importação. A semana terminou com o milho cotado a R$ 10,60/sc ao produtor paranaense, ou o equivalente a US$6,09/sc.
Acima da média
O preço em reais mencionado acima é 80,6% superior ao preço médio histórico do milho ao produtor paranaense nos últimos 5 anos. O preço em dólar desta semana supera em 5,4% a média histórica também dos últimos 5 anos. É bom lembrar que neste período dos últimos 5 anos, o real esteve valorizado frente à moeda americana durante 4 anos e um preço em dólar acima dessa média não é um feito pequeno.
Este ano o milho promete fazer a alegria dos produtores rurais de milho, pois suinocultores e avicultores vão enfrentar períodos difíceis. Em média são necessários cerca de 8 kg de suíno (vivo para abate), para adquirir uma saca de milho. Na média do ano passado essa relação subiu para 9 kg de suíno para 1 saca de milho e nos dois primeiros meses deste ano essa relação subiu para 9,9 e foi de 10,3 kg de suíno por saca de milho agora em março. Podem esperar pressões deste lado.
Para o frango a relação média histórica (últimos 5 anos) é de 10,2 para um, ou seja, para um avicultor adquirir uma saca de milho ele precisa de 10,2 kg de seu produto final (frango vivo para abate). Em 1999 esta relação subiu para 12,5 kg de frango por saca de milho (22,6% maior) e nos dois primeiros meses deste ano a relação saltou para 14,2 kg de frango por saca de milho. Agora em março a situação melhorou muito pouco para o avicultor que precisou de 14 kg frango/saca de milho relação esta que está 36% acima da média. Também virá pressão deste lado.
Com pressão ou não o Governo não tem mais estoques para colocar no mercado e segurar preço nem de milho, nem arroz, nem trigo ou outro produto qualquer. Com o preço de mercado ficando acima do preço mínimo, como deve ocorrer este ano, o Governo não poderá recompor seus estoques através dos instrumentos da Política de Garantia de Preços Mínimos. O que valerá é a oferta disponível interna mais as importações, e o preço do produto importado é o teto do mercado.
O preço do milho não vai baixar por decreto, mas somente se a oferta aumentar com a safrinha (o que hoje está pra lá de duvidoso) ou se a demanda diminuir , mas teria de reduzir muito para forçar o preço do grão abaixo do seu valor médio. Portanto, produtores de milho, aproveitem que este momento é seu.
Vania Di Addario Guimarães - Profª da UFPr
e-mail: [email protected]
S U Í N O
O problema da rentabilidade
Neste ano as exportações de carne suína podem ser superiores a 100 mil toneladas, desde que os Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul sejam consideradas áreas livres de aftosa sem necessidade de vacinação, pois em 1998 estes mesmos Estados foram considerados áreas livres da doença com vacinação.
Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Carne Suína (Abipecs), as exportações no mês de Janeiro chegaram a 5,7 mil toneladas, o que equivale a um aumento de 35% em relação a janeiro do ano passado. A receita ficou em US$7,9 milhões, ou seja, 5,7% acima da receita do ano passado.
No ano passado as exportações totalizaram 87 mil toneladas, que foram divididas em carne in natura, industrializada e subprodutos. Hong Kong é o nosso maior comprador.
Esta não-necessidade de vacinação poderia garantir o acesso da carne brasileira a novos mercados como Japão, China e Rússia. No caso do Japão, maior importador mundial do produto, este sempre foi um mercado muito fechado para a carne brasileira, pois os japoneses exigem que os certificados de áreas livres sejam válidos para todo o país de origem do produto, apesar da aceitação do critério de regionalização pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
A China é um dos maiores produtores mundiais de carne suína e, mesmo nesta condição, é uma grande compradora. Já a Rússia, segundo maior comprador mundial, está na mira dos exportadores brasileiros desde 1998.
No caso da Argentina, com a qual o Brasil vem tendo sérios problemas para exportar, as expectativas são de que o Brasil exporte mais neste ano do que o fez no ano passado.
Apesar destes pontos de vista otimistas, existem muitas pessoas ligadas ao setor que apresentam uma expectativa bastante diferente, na qual colocam em dúvida a abertura de mercados como os do Japão e Rússia. Isto porque em 1998, quando foi dado o primeiro certificado pela Organização Internacional de Epizootias (OIE) para os estados de SC e RS, falou-se muito na abertura dos mercados japonês e russo, mas a abertura não se concretizou. É ver para crer se o Brasil exporta as 100 mil toneladas de carne suína neste ano.
Preços em queda
É sabido de muito tempo que o setor vem apresentando problemas de rentabilidade com constantes aumentos na produção, pequeno crescimento na demanda, preços declinantes e custos crescentes. Muitos acham que a solução destes problemas pode estar no incremento das exportações, para algo em torno de 10% da produção interna. Para outros a situação seria amenizada apenas aumentando a demanda interna, para algo em torno de 13 quilos anuais per capita, e reduzindo o ritmo de expansão da produção, que cresce cerca de 4,5 a 5%, segundo a Abipecs.
A produção brasileira chegou no ano passado a 1,78 milhão de toneladas, o que é equivalente a 4,7 % de aumento em relação à produção de 1998. Se uma possível solução fosse a de exportar 10% da produção interna, a quantidade a ser exportada deveria ser de 178 mil toneladas, o que é um número praticamente impossível de ser atingido dentro da realidade atual, devido apenas às barreiras impostas pelos países compradores e não à falta de competição do produto brasileiro, pois os custos de produção no Brasil são dos mais baixos do mundo.
Com relação ao mercado interno, os produtores vêm enfrentando situações muito difíceis ao longo dos últimos anos, com preços muitas vezes abaixo dos custos de produção.
No mercado paranaense temos um exemplo do que vem acontecendo com os preços recebidos pelos produtores nas últimas semanas, com constantes quedas nos preços. Desde o início de Janeiro o preço do suíno vivo caiu cerca de 18 % até esta última semana de março. Na semana passada, as reduções de preços nos estados de São Paulo e Santa Catarina chegaram, respectivamente, a 4,3 e 1,8 %. Ou seja, constata-se que o problema é generalizado.
Dentre as causas apontadas para o problema temos o fato da demanda ser sazonal, além do baixo consumo a nível interno, apesar do mesmo ter aumentado ao longo dos últimos anos.
A obtenção de soluções concretas para resolver o problema da queda da rentabilidade do setor é difícil, principalmente em relação à estrutura produtiva da suinocultura no Brasil, onde o grau de integração não é tão elevado como no caso da avicultura, a qual tem como previsão de exportação para este ano cerca de 840 mil toneladas.
Dentre as soluções apontadas para o setor podemos ter o aumento no grau de integração da atividade, com consequente aumento nas exportações, e o aumento no consumo interno do produto. Só assim poder-se-ia absorver toda a crescente produção interna, de modo a se garantir melhores preços para os produtores.
Maurício Vaz Lobo Bittencourt - Prof. Dept. Economia da UFPr
e-mail: [email protected]
B O I G O R D O
RECUPERAÇÃO DOS PREÇOS
Nos Estados pertencentes ao circuito pecuário, a segunda quinzena de março foi marcada pela recuperação nos preços do boi gordo, após o declínio das cotações de mercado que foram observadas nas semanas próximas do período do carnaval, no início do mês.
Nesta semana o preço médio do boi gordo ao produtor paranaense ficou em R$ 37,50/arroba, com alta acumulada de 4,2% em relação ao menor nível de preços deste ano, de R$36/arroba praticados na segunda semana do mês de março.
A recente recuperação dos preços do boi gordo chega a ser surpreendente, uma vez que o cenário mais provável apontava para uma estabilidade das cotações do animal ao redor dos R$36,50/arroba ou uma leva queda nos preços em função da época de safra.
Em parte a recente recuperação dos preços pode ser atribuída ao excelente desempenho das exportações brasileiras de carne bovina, mas em parte à desestruturação do fluxo do comércio interno, após a implantação das barreiras sanitárias à maior parte do território da Região Centro-Oeste, onde se encontra o maior rebanho nacional, mas continua impossibilitada de vender a maior parte de sua produção (carne com osso), nos principais centros de consumo do País.
Isso tem provocado menores preços nos Estados do Centro-Oeste e maiores preços nos estados do Sul e Sudeste, com amplitude de variação muito maior se comparada à vigente antes da introdução das barreiras sanitárias. Atualmente, por exemplo, o preço do boi gordo no Mato Grosso do Sul não passa dos R$34 a arroba, contra valores de R$37 a R$38 por arroba no Paraná e R$39 a R$40 a arroba em São Paulo, ou seja, uma diferença de até R$6/arroba quando comparados os preços de São Paulo e Mato Grosso do Sul, magnitude esta jamais alcançada em anos anteriores.
Exportações
A tabela apresenta a evolução das exportações brasileiras de carne bovina (in natura e industrializada) em volume, nos últimos três anos, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne Abiec.
No ano passado o volume total de carne bovina exportada atingiu a marca das 460 mil toneladas, contra 343 mil toneladas em 1998 e 274 mil toneladas em 1997. O crescimento do volume exportado foi então de quase 70% em dois anos, com destaque para as exportações de carne in natura, cujo volume aumentou 143% de 1997 para 1999, passando de 70 para 170 mil toneladas.
Em valor as exportações brasileiras de carne bovina, segundo a Abiec, foram de US$670 milhões em 1999, contra US$556 milhões em 1998 e US$420 milhões em 1997.
TABELA - EXPORTACOES BRASILEIRAS DE CARNE BOVINA EM VOLUME, 1997 A 1999.
Em mil toneladas equivalente carcaça
ANOS - Carne industrializada - Carne in natura - TOTAL -
1997 - 204 - 70 - 274 -
1998 234 109 343 -
1999 290 170 460 -
Fonte: ABIEC - Dados preliminares para 1999
José Roberto Canziani - Prof. da UFPr
e-mail: [email protected]