ExpoLondrina: pandemia suspendeu a edição número 60 da tradicional feira do Norte do Paraná
ExpoLondrina: pandemia suspendeu a edição número 60 da tradicional feira do Norte do Paraná | Foto: Marcos Zanutto 12/04/2019

São Paulo - É no primeiro semestre, logo após o término da colheita da soja na maioria das regiões, que o produtor rural mais visita feiras agropecuárias pelo país. Mas essa rotina mudou em 2020.

O produtor Gilberto Eberhardt planta soja e milho há 30 anos em Lucas do Rio Verde (MT), a 330 km de Cuiabá. Há pelo menos cinco anos, sempre em março, ele visitava a Show Safra BR 163. "A feira começou, mas, no terceiro dia, teve que ser cancelada", diz o produtor. "Entendemos que a interrupção ajudou a impedir que a Covid-19 avançasse aqui no nosso município".

A Show Safra de Mato Grosso faturou R$ 1,6 bilhão em 2019, negócios que não aconteceram este ano. Um levantamento feito pela reportagem reuniu 17 feiras que deveriam ter sido realizadas entre março e maio de 2020 - todas foram canceladas em função da pandemia. Esses eventos faturaram um total de R$ 16,9 bilhões em 2019.

Alguns organizadores partiram para o plano B: versões virtuais que permitem interação. Uma das primeiras a adotar a estratégia foi a Agrobrasília. A feira é realizada no Distrito Federal há 13 anos e atrai agricultores de estados como Goiás, Bahia e Minas Gerais. "A pedido dos próprios produtores, resolvemos criar a edição digital, já que esta é a melhor época do ano para que o agricultor compre os insumos", explica Ronaldo Triacca, presidente da Agrobrasília.

No modelo presencial, a Agrobrasília havia recebido 120 mil visitantes em 2019. Já na edição digital realizada entre os dias 6 a 10 de julho, a plataforma teve 140 expositores e recebeu 122 mil acessos. Em 2019, foram 480 expositores presenciais e receita de R$ 1,2 bilhão. "O objetivo principal foi alcançado, que era manter o vínculo dos produtores com as tecnologias", diz Triacca. Ele admite que houve prejuízo de R$ 1 milhão em função dos gastos já realizados. O valor foi coberto pela Coopa-DF (Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal).

A Coopercitrus, maior cooperativa do estado de São Paulo, tornou digital a feira que realiza há 23 anos. A mudança exigiu um investimento de R$ 2 milhões. Haverá até testes online de tratores e a possibilidade de interagir em tempo real com os vendedores. O evento teve início segunda (27) e terminaria nesta sexta (31), com 138 expositores. Os organizadores esperam um faturamento de R$ 1 bilhão, contra R$ 840 milhões contabilizados na feira presencial em 2019. O público no ano passado chegou a 12 mil pessoas e agora a expectativa é alcançar 200 mil acessos.

A Expogenética, promovida pela ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu) será realizada de 15 a 23 de agosto também por meio de plataforma digital. Com 40 criadores já inscritos e praticamente todos os pavilhões ocupados, haverá transmissão ao vivo pelo Canal do Boi. "Nossa expectativa é aumentar em 20% o faturamento em relação a Expogenética do ano passado. Se a feira fosse presencial, este crescimento seria de apenas 10%", diz o presidente da ABCZ, Rivaldo Machado Borges Jr.

O Congresso Brasileiro do Agronegócio, promovido pela Abag em parceria com a B3, historicamente realizado na capital paulista, também se tornou digital e ocorrereu no início de agosto. Segundo os organizadores, já foram registradas mais de 3 mil inscrições, o triplo da edição presencial de 2019.

Agrishow

Uma das maiores feiras impactadas pela pandemia do coronavírus foi a Agrishow, realizada há 26 anos em Ribeirão Preto (interior de São Paulo). A edição 2020 deveria ter ocorrido em abril, mas foi remarcada para 2021. O presidente da Agrishow, Francisco Maturro, diz que uma edição digital foi cogitada, mas a hipótese acabou sendo descartada. "A data em que a feira é realizada coincide com o ciclo de final de uma safra e planejamento da próxima, não faria sentido realizar no segundo semestre, as decisões de investimento do produtor já estariam tomadas."

Os organizadores não revelam qual foi o prejuízo pela não realização da Agrishow. O fato é que o faturamento de R$ 2,9 bilhões do ano passado não aconteceu. Houve negociações entre organizadores e expositores para que cotas de patrocínios já pagas fossem apenas postergadas para o ano que vem.

Os expositores de maquinário também precisaram mudar a estratégia. É o caso da Case IH, que apresentaria colheitadeiras e um novo pulverizador na Agrishow 2020. "No mês de maio, para aproveitar a época mais favorável ao produtor, fizemos esses lançamentos pelas principais redes sociais", afirma Eduardo Penha, diretor de Marketing Comercial da Case IH.

O diretor de Assuntos Corporativos da John Deere, Alfredo Miguel Neto, lembra que os negócios estão acontecendo. "Até mesmo o pequeno produtor está retomando as compras, em julho passa a contar com os recursos do Plano Safra, e ele já conhece o benefício de investir em tecnologia", explica.

ExpoLondrina será adaptada à `nova realidade´

Com 73 anos, a SRP (Sociedade Rural do Paraná) realizaria em abril deste ano a 60ª Exposição Agropecuária e Industrial de Londrina, a ExpoLondrina 2020, mas teve seus planos adiados pelo advento da pandemia provocada pelo novo coronavírus. Aproximadamente 300 expositores tiveram contratos suspensos ou cancelados. O prejuízo foi imenso, já que a SRP teve de devolver o dinheiro aos fornecedores que participariam da edição especial da ExpoLondrina e ainda está fazendo a devolução do dinheiro aos que compraram ingresso antecipado. Este processo de devolução prossegue até o dia 14 de agosto.

Durante os 11 dias da ExpoLondrina estavam previstos que cerca de oito mil pessoas seriam contratadas temporariamente e isso acabou não acontecendo.

Na edição de 2019 a movimentação econômica foi de R$ 615,6 milhões, um valor 10% menor em relação ao registrado na edição anterior, e o público foi de 464.103 visitantes, que também foi menor em relação a 2018, quando passaram pela feira 557.372 pessoas. Mais de 21 mil estudantes de escolas municipais, estaduais e técnicas, além de idosos visitaram a ExpoLondrina 2019, totalizando 284 grupos que foram recebidos no Parque Ney Braga em visitas gratuitas.

O setor de veículos demonstrou boa comercialização em 2019, com mais de 1,2 mil negócios fechados. No setor pecuário, a liquidez nos negócios da ExpoLondrina 2019 passou de 90%. Cerca de 6,9 mil animais passaram pela feira naquele ano.

O diretor presidente da Sociedade Rural do Paraná, Antônio de Oliveira Sampaio, ressaltou que o prejuízo com o cancelamento da ExpoLondrina 2020 foi considerável. “Mas mais do que o prejuízo é a falta de arrecadação com a feira. É ela que dá o rendimento que nos ajuda a tocar o Parque de Exposições Ney Braga.” Ele comparou com a situação de uma empresa que fica um ano sem faturamento. “A nossa sorte é que os sócios anteriores fizeram um fundo de reserva prevendo uma situação ruim, não uma pandemia, mas um desempenho ruim da exposição”, destacou. Com esse fundo ele disse que é possível chegar até a próxima edição.

“Vamos fazer a próxima edição da exposição, mas ninguém sabe o que será dela. Vamos fazer uma feira adaptada a essa nova realidade, que será muito diferente. Os eventos vão se transformar. Na última edição tivemos 160 cursos técnicos. Como eles serão agora? Virtuais? Híbridos? Os leilões de gado praticamente não vão mais acontecer presencialmente. Vamos nos adaptar e nos reinventar. Ninguém sabe o que vai ser daqui a seis meses”, destacou.

A história da SRP começou com a criação da ARL (Associação Rural de Londrina), em 1946, e teve como primeiro presidente Hugo Cabral (também prefeito de Londrina). Em 1955, a ARL realizou a 1ª Exposição de Pecuária e a 2ª Agrícola no Jockey Club de Londrina (a 1ª Agrícola foi no mercado Shangri-lá). A primeira compra de terras para montar o Parque Ney Braga foi escriturada em 1958. A construção da sede e dos primeiros pavilhões, muitos deles doados por pioneiros, iniciaram em 1961. A entidade passou a se chamar SRP em 1970. ( Com Vitor Ogawa/Reportagem Local)