Mesmo com a volta das feiras-livres, pedir verduras, legumes e frutas para serem entregues em casa continua sendo uma opção para uma parcela da população
Mesmo com a volta das feiras-livres, pedir verduras, legumes e frutas para serem entregues em casa continua sendo uma opção para uma parcela da população | Foto: iStock

Desde que começou a pandemia em março de 2020 e com ela o isolamento social e a necessidade de evitar aglomerações, pedir por delivery tem sido o melhor amigo de muitas pessoas. Com uma expectativa de crescer para 96 mil usuários até 2025 somente no Brasil, de acordo com uma pesquisa feita pela Statista, empresa especializada em dados de mercado e consumidores.

Na área de hortifruti não foi diferente, muitos feirantes ou pequenos produtores viram no delivery sua alternativa. Quem não fazia entregas passou a fazer e quem já fazia viu sua demanda aumentar.

Fernanda Oliveira e seu marido Mário Tadashi Yokomichi, são donos da Kajitsu e trabalham com delivery de frutas desde 2017. Oliveira relata que, desde o início da pandemia, a procura aumentou expressivamente, tanto que viram a necessidade de expandir seu negócio e hoje trabalham com todos os tipos de hortifrutis.

A maioria das pessoas que faz entrega de hortifruti ainda não utiliza aplicativos de delivery, como Ifood, Ubereats e Rappi. Optaram por plataformas próprias que divulgam em suas redes sociais. Isso porque a porcentagem que precisam dar aos aplicativos é alta e seus produtos precisarem de mais tempo para serem colhidos e separados com cuidado.

Fernanda Cristina Laubstein e seu marido Elvis Hasmann de Camargo, têm uma pequena propriedade onde eles mesmos cultivam os hortifrutis que vendem pelo aplicativo divulgado nas redes sociais, a Alimentária. Laubstein explica que, por serem pequenos e investirem em produtos orgânicos, a margem de lucro é pequena, assim se for utilizar aplicativos pagos, como os citados, os preços que cobram vão aumentar muito ou seu lucro vai ser mínimo.

Mesmo com a volta das feiras e as pessoas irem aos mercados com frequência, pedir verduras, legumes e frutas para serem entregues em casa continua sendo uma opção para uma parcela da população. Cada um tem um motivo diferente para optar pela entrega, um deles é a praticidade da entrega em casa e não precisar ir na feira ou no mercado, especialmente para aquelas pessoas que não possuem carro ou trabalham no horário da feira.

Outra razão comum é a origem do produto, ele ser orgânico, de pequenos produtores e de qualidade maior do que os que geralmente são encontrados no mercado. E, claro, a pandemia da Covid-19 ainda é uma realidade mundial, então, evitar sair de casa e aglomerações também é um argumento dos amantes do delivery.

A servidora pública federal e médica veterinária, Jéssica Gallego, que pede seu hortifruti desde o início da pandemia, alerta: “A mudança para esse formato de compra foi gradual. Tudo vai sendo incorporado à rotina. Hoje em dia me programo para compras quinzenais, e nunca falta nada para o almoço".

Os consumidores têm procurado cada vez mais produtos de qualidade, que não estraguem rápido e que sejam melhores para sua saúde
Os consumidores têm procurado cada vez mais produtos de qualidade, que não estraguem rápido e que sejam melhores para sua saúde | Foto: iStock

Produtos de qualidade

“Escolha o que você escolheria para você” é o que Fernanda Oliveira fala para seus funcionários na hora que estão separando os alimentos dos clientes. Ela também afirma que, mesmo não produzindo os produtos, preza pela qualidade ao comprar, sempre buscando frutas internacionais, legumes orgânicos e verduras de pequenos produtores.

Os consumidores têm procurado cada vez mais produtos de qualidade, que não estraguem rápido e que sejam melhores para sua saúde. Esse é o caso dos hortifrutis orgânicos. Gallego explica por que prefere os alimentos orgânicos: "Respeitando o tempo de produção das frutas, verduras, legumes. A gente ficou muito mal acostumada com grandes mercados, tem brócolis o ano inteiro. Brócolis nem dá o ano inteiro, não sem agrotóxico”.

Este é um ramo que vem crescendo no Brasil. Em 2012, estavam cadastrados 2.747 produtores no Ministério da Agricultura, enquanto ano passado eram 22.746 agricultores do tipo. Em todo o território nacional, o Paraná é o líder de produtores rurais orgânicos. Até julho deste ano, 3.737 produtores paranaenses estavam registrados no Ministério da Agricultura.

Contudo, a categoria enfrenta diversos desafios, como o custo de certificação, os custos iniciais de implantação ou adaptação para o orgânico, a escassez de assistência técnica especializada, entre outras dificuldades que passam no dia a dia. Esses são fatores que tornam o preço do orgânico maior.

Fernanda Cristina Laubstein argumenta que o preço do orgânico é mais alto mesmo e dificilmente vai deixar de ser assim. Então, as pessoas precisam fazer escolhas, entre o alimento orgânico e comer fora no final de semana, por exemplo.

Mas para Ana Paula Teodoro, aromaterapeuta e dona de uma marca de cosméticos natural, sai mais barato: “O tanto que você economiza não gastando com remédio, não precisando ir ao médico, é um investimento, é o custo aliado ao benefício”. Ela compra por delivery há cinco anos, mas havia parado uma época, e retornou no início da pandemia e destaca que até mesmo o sabor e a duração de conservação dos produtos são melhores.

O Paraná é o líder nacional de produtores rurais orgânicos: até julho deste ano, 3.737 produtores paranaenses estavam registrados no Ministério da Agricultura
O Paraná é o líder nacional de produtores rurais orgânicos: até julho deste ano, 3.737 produtores paranaenses estavam registrados no Ministério da Agricultura | Foto: iStock

Agricultura familiar

Hoje 75% da área rural do Paraná é designada para agricultura familiar, entre as mais de 305 mil propriedades no Estado, quase 229 mil são de agricultores familiares. Essas pessoas têm uma relação com a terra diferente, pois além de sua fonte de renda também é seu lar. Diferente das grandes propriedades, eles têm uma maior diversidade de produtos, já que muitos respeitam a época de colhimento de cada alimento e conectam sua alimentação de subsistência com a demanda do mercado.

“Depois que fui conhecendo a família que produz e entrega nossos alimentos e conhecendo a forma de produção agroecológica baseada em princípios de agricultura sustentável e biodiversa; inclusive podendo visitar o plantio da família, vai gerando mais confiança na relação. Não é só uma relação de consumo, é uma relação de respeito por quem produz e quem consome os alimentos. É comida de verdade!”, garante Jéssica Gallego que compra da Alimentária regularmente.

Esse tipo de agricultura movimenta a economia significativamente. Somente no Paraná, existem 171 cooperativas de agricultura familiar, que somam 33 mil integrantes e possuem um faturamento bruto de R$ 530 milhões em 2020, de acordo com dados da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento.

LEIA TAMBÉM:

Prazo de análise de financiamento de imóvel para agricultores familiares diminui de dois anos para até seis meses