“Damos importância ao potássio no milho, no trigo, no sorgo, mas a soja precisa de mais potássio para produzir 1 tonelada de grão do que as outras culturas", lembrou Floss
“Damos importância ao potássio no milho, no trigo, no sorgo, mas a soja precisa de mais potássio para produzir 1 tonelada de grão do que as outras culturas", lembrou Floss | Foto: istock

Um estudo recente baseado em 5.789 análises mostrou que 42% das lavouras de soja têm fome de nitrogênio e que, quanto mais se produz, mais nutrientes são necessários. E aí existe ainda o desafio que os ciclos da soja, do trigo e do milho estão ficando cada vez mais curtos.

“Então a planta tem que ser mais eficiente. Ela precisa absorver mais nutrientes em menos tempo. Em 30 anos, em média, na região do Paraná, o ciclo da soja foi reduzido em um mês. E o rendimento médio do Paraná dobrou no mesmo período. Estamos produzindo o dobro na mesma área, e a média que antes era de 140, 150 dias, está hoje em 110 a 120 dias”, alertou o pesquisador do Incia (Instituto de Ciências Agronômicas) Elmar Floss, que abriu a programação do Bela+ 22, em Londrina, com uma palestra sobre a construção de perfil de solo visando altos rendimentos.

Floss destacou os desafios que envolvem a cadeia produtiva de grãos: o aumento da produtividade, a qualidade, a sustentabilidade e o incremento de renda do produtor.

Elmar Floss ministrou palestra sobre a construção de perfil de solo com foco em altos rendimentos
Elmar Floss ministrou palestra sobre a construção de perfil de solo com foco em altos rendimentos | Foto: Claudio Nonaca/ Divulgação

Como exemplo, ele citou a queda do teor de proteína da soja em detrimento do aumento do teor de óleo nos últimos anos.

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“Quando eu dei a minha primeira aula sobre soja na Faculdade de Agronomia na Universidade de Passo Fundo, em 1976, a composição química da soja era 40% em média de proteína, 17% de óleo. Em 867 amostras de soja recolhidas recentemente pela Embrapa de Londrina, a média deu 36%. E o teor de óleo está em 22%.”

O especialista considerou que o grande mercado é voltado para a proteína de soja, não para o óleo produzido a partir do grão. “O problema dessa proteína não é genética, como alguns dizem. O que está faltando na soja? Nutrição.”

Floss ponderou que não basta apenas olhar a disponibilidade de nutrientes no solo. “Precisamos olhar também para a capacidade de absorção pelas raízes. E esses novos cultivares de alto potencial de rendimento têm um ciclo mais curto, uma estatura mais baixa e, portanto, um sistema radicular mais superficial. Por isso quando há uma estiagem, poucos dias sem chuva, 9, 10, 11 dias sem chuva, temos a planta murcha. Porque o solo seca de cima para baixo e as raízes não alcançam mais.”

Dentro desse contexto, um dos grandes desafios no manejo é propiciar um desenvolvimento maior do sistema radicular, especialmente em profundidade. “Precisamos investir mais em raiz”, destaca.

NITROGÊNIO E POTÁSSIO

A média de trabalhos realizados por 12 autores renomados, com publicações no Brasil, na Argentina e nos Estados Unidos, mostrou que o primeiro nutriente que a soja mais precisa é o nitrogênio, depois vem o potássio.

“Damos importância ao potássio no milho, no trigo, no sorgo, mas a soja precisa de mais potássio para produzir 1 tonelada de grão do que as outras culturas. Porque o potássio está diretamente relacionado com a síntese de proteína. E a soja é uma verdadeira fábrica de proteína. A soja precisa de 78,7 kg de nitrogênio, 37,9 kg de potássio e 14,7 kg de fósforo para produzir 1 tonelada”, exemplificou.

ÁGUA

Outro componente essencial apontado pelo especialista para otimizar resultados na cultura é a água.

“Não há nutrição sem água. Porque sem água não é feita a solubilização dos corretivos e dos fertilizantes, que são sais. Também não há mobilidade de nutrientes no solo. Sem água a raiz não cresce, não se alonga, não se encontra com o nutriente. Não há transporte do nutriente da raiz para a folha. Porque a planta não come, ela bebe. Temos que armazenar mais água no solo, ter raízes mais profundas. Com a estiagem, a raiz funciona como uma verdadeira bomba buscando água em profundidade.”

Segundo ele, um trabalho recente publicado por um professor da Universidade de Santa Maria mostrou que, para produzir 6 toneladas de soja por hectare, são necessários 800 mm de água. “E como se aumenta a eficiência da absorção de água e nutrientes? Aumentando o volume de raízes. Quanto maior o número de raízes, quanto mais longa for a raiz, maior a superfície de raiz em contato com a superfície de solo.”

CLIMA

Mesmo com tanto planejamento e cálculo, há os fatores climáticos, ocorrências incertas que podem colocar tudo a perder.

“O déficit hídrico é o maior causador de perdas no rendimento porque provoca desequilíbrios hormonais e nutricionais, a redução da fotossíntese, a redução da fixação biológica de nitrogênio, a antecipação da floração e uma floração não uniforme”, lista.

O especialista destaca que minimizar o déficit hídrico passa por um conjunto de práticas de manejo. “Começa com o uso de sementes de vigor, formando planta mais vigorosa, que enraíza mais, que ramifica mais cedo e produz mais nós e, portanto, gera maior rendimento.”

Outro ponto importante é a qualidade da semeadura, ou seja, só plantar quanto houver a umidade adequada. “É um pecado mortal plantar soja no pó. Plantam-se milhões de hectares de soja na poeira. Se você tiver uma ligação com São Pedro que vai garantir que daqui a 5 dias vai chover, não tem problema nenhum.”

Ele exemplifica o que ocorreu em 2021 e em 2022 no oeste do Paraná. “Tinha uma previsão de chuva e a chuva veio somente 28 dias depois. Ou seja, a semente deteriorou no solo. Quando finalmente veio a chuva, tinha uma semente sem qualidade”, relembra.

Outra estratégia para se prevenir do déficit hídrico é aumentar a capacidade de retenção de água no solo. “Temos que fazer isso na época que chove, não deixar a água escorrer, ela tem que ficar armazenada para ficar disponível para períodos secos.”

A adubação equilibrada é outra prática indicada para enfrentar o déficit hídrico, o que inclui o uso de biorreguladores vegetais. “Temos hoje produtos hormonais ou então bons extratos de alga”, exemplifica.

OXIGÊNIO

Além de nutrientes e água, Elmar Floss defende que o solo necessita ter oxigênio, ou seja, um solo bem aerado, porque a raiz precisa de oxigênio para absorver os nutrientes.

“Além disso, o oxigênio é fundamental para a atividade microbiana. Estamos entrando na 8ª revolução tecnológica da agricultura moderna, que é a revolução dos biológicos. A estimativa é que até 2030 o crescimento de uso de biológicos no Brasil aumentará 30% ao ano. É uma revolução extraordinária, só que esses micro-organismos benéficos que quero no solo são aeróbios, se desenvolvem se tiver oxigênio.”

Quando falta oxigênio no solo, a eficiência de absorção de nutrientes cai. “Não adianta aumentar a adubação em solos compactados porque a eficiência de aproveitamento é muito baixa. Ainda mais neste momento, com preços elevadíssimos de fertilizantes e ainda escassez de alguns deles. Precisamos de um solo descompactado, de um sistema radicular bem desenvolvido”, conclui.

O EVENTO

Promovido pela Belagrícola, o Bela+ 22 apresentou as novas tecnologias para o homem do campo, com uma programação neste ano dividida em três dias (22, 23 e 24 de junho), com a participação de grandes especialistas não só da agricultura, mas também de gestão, finanças e investimentos.

SERVIÇO

A íntegra da palestra ministrada por Elmar Floss está disponível no canal da Belagrícola no YouTube –https://www.youtube.com/watch?v=I-vFQidMfrU