Nos últimos anos as palavras tecnologia e inovação passaram a fazer parte do cotidiano dos debates acadêmicos e empresariais, inclusive, da vida no campo. As ferramentas tecnológicas foram sendo inseridas no cotidiano sem que, por muitas vezes, percebêssemos esse processo. Mesmo assim, há um sentimento de não pertencimento a este movimento de inovação, talvez pela velocidade dos processos de evolução potencializados ainda mais pela velocidade da informação. Por um lado, a robotização e a automação - dotadas de Inteligência artificial - ainda parecem estar distantes do campo, entretanto, por outro lado, ela se faz presente nos grãos, adubos, defensivos agrícolas e nos mais diversos insumos utilizados.

Aos que utilizam maquinários e serviços das empresas de tecnologia e da informação, devem se ater a um aspecto importantíssimo da era digital: os dados. Esta é a maior riqueza da era tecnológica, visto que são passíveis de processamento, entregas de soluções e insights capazes de potencializar resultados.

Ao procurar uma empresa para implementar ferramentas de tecnologia no seu negócio, o produtor rural deve levar em consideração que os dados de sua plantação são muito valiosos, sendo que na maioria das vezes é de interesse das empresas obtê-los.

Logo, se faz necessário considerar os aspectos contratuais com relação aos dados que serão tratados durante o uso de determinado produto ou serviço. É importante verificar se os dados coletados serão armazenados pelo fornecedor, se terão acesso a essas informações e por quais finalidades irão realizar o tratamento dos dados.

Por outro lado, também é interessante que o contratante tenha acesso aos dados coletados. Por exemplo, ao alugar uma colheitadeira de precisão, exija que sejam fornecidas as informações de produtividade, umidade, qualidade, etc, para que seja possível utilizar as informações desta safra para melhorar as decisões e resultados das próximas.

É fácil encontrar propagandas em que se vê os diversos benefícios para o produtor rural, mas por outro lado o fornecedor do serviço também se beneficia das informações. Portanto, se faz necessário um olhar atento às cláusulas contratuais determinando deveres e obrigações contraídas pelas partes, para que o produtor se beneficie, mas também não acabe fornecendo informações e dados demasiados de sua produção a uma empresa que tenha contratado.

Poliana Dequêch, advogada, mestranda em Filosofia pela PUCPR, pesquisadora do Lawgorithm (USP) e membro do Agrovalley Londrina.