A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Soja está propondo o uso de novos indicadores para a avaliação de risco climático da soja. Por meio do “Documento 447 - Níveis de manejo do solo para avaliação de riscos climáticos na cultura da soja”, a empresa indica quatro níveis de manejo e sugere um Zarc (Zoneamento Agrícola de Risco Climático) atrelado a esses índices.

O documento foi elaborado por um grupo de pesquisadores da Embrapa Soja e publicado em outubro de 2022, e vem sendo debatido em instâncias como o Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária), CNA (Confederação Nacional da Agricultura), BC (Banco Central) e Sistema Ocepar (Sindicato e Organização das Cooperativas do Paraná) desde então. Mais recentemente, durante a 38ª RPS (Reunião de Pesquisa da Soja), em Londrina, a proposta foi apresentada em um painel.

O pesquisador José Renato Farias explica que, para as culturas de verão, o principal fator de risco é a seca. Doenças e falta de nutrientes podem ser contornadas, mas a ausência de água acaba tendo forte impacto nas lavouras.

É por isso que esse conjunto de indicadores de níveis de manejo (NMs) leva em consideração as práticas agrícolas visando minimizar os riscos hídricos. O documento aponta que, na cultura de soja, para um máximo rendimento, são necessários de 450 a 800 milímetros de água durante o ciclo.

A Embrapa Soja vem conduzindo trabalhos em Londrina ao longo de 15 safras, avaliando diversas cultivares sob diferentes condições de disponibilidade hídrica. “Verificou-se que os maiores rendimentos em grãos de soja foram obtidos com 650 a 700 mm de água, bem distribuídos ao longo de todo o ciclo”, indica o documento.

A ideia é que os riscos para as lavouras sejam quantificados em função do nível de manejo do solo adotado pelo produtor. Em áreas em que o aporte de chuvas é igual, os espaços melhor manejados acabam tendo um rendimento hídrico melhor.

“A partir disso, se estimaria o risco de perda, de insucesso, em função de toda essa água disponível para a planta, da chuva e do solo. A princípio são quatro níveis e já montamos um piloto no Paraná”, explica Farias, pontuando que serão feitas reuniões com o setor produtivo visando ajustes na metodologia.

Segundo o pesquisador, a incorporação desses indicadores vai representar uma mudança importante no Zarc, que hoje leva em consideração a textura do solo a partir dos teores de silte, areia e argila. “Como não é só a textura [que importa], a parte estrutural é muito importante. Estamos entrando com essa parte de manejo para complementar esse aporte de água com base nas características físicas e químicas”, acrescenta.

BOAS PRÁTICAS

De acordo com o pesquisador, são várias as práticas que podem ser adotadas pelo produtor rural visando um bom manejo. Entre os indicadores, que dialogam com os pilares fundamentais do SPD (Sistema Plantio Direto), está o tempo sem revolvimento, a cobertura do solo e a diversificação das espécies.

A perspectiva da Embrapa Soja com essa proposta é garantir a estabilidade da produção, evitando picos para cima ou para baixo. Farias lembra que o Paraná já teve quebras de 50% em safras de verão.

“No momento que garantirmos essa estabilidade, ou seja, diminuirmos a variabilidade, aumentamos com certeza a produtividade”, avalia o pesquisador. E esse aumento de produtividade deve refletir em renda para o agricultor. “Ele tem todo o custo de plantar mas, ao invés de colher quatro toneladas por hectare, está colhendo duas. O custo foi o mesmo, com exceção do dinheiro que entrou no bolso.”

E esse dinheiro, continua Farias, em um estado cuja economia acaba girando em torno da agricultura, tem reflexo em toda a sociedade. A sustentabilidade em termos de renda para a prática agrícola é uma preocupação constante da Embrapa.

APLICAÇÃO EM OUTRAS CULTURAS

Os pesquisadores destacam que, apesar de os indicadores serem focados na cultura da soja, pequenos ajustes podem ser feitos para a aplicabilidade em outros grãos. No entanto, na cadeia produtiva brasileira, a soja ainda é o principal produto - tanto para exportação quanto para consumo interno na criação de animais, por exemplo.

“Isso mostra claramente o papel da Embrapa, preocupada em garantir a capacidade produtiva do produtor. Com essa estabilidade, ele vai ter maior condições de continuar investindo em seu negócio e menores chances de perder o dinheiro que investiu”, completa.

DISCUSSÕES

Farias diz que, desde a publicação do documento, em outubro de 2022, ele vem sendo discutido e bem visto por instâncias superiores. Isso porque, acaba por valorizar os bons produtores e induz o uso de práticas sustentáveis.

“O bom produtor, que faz um manejo para diminuir seu risco, não era considerado. Agora ele é. E o produtor que não adotava prática nenhuma, sentado em um solo de boa qualidade - teoricamente -, passa a ser induzido a utilizar as boas práticas. Ele começa a ver que, quanto melhor o manejo, menor o risco”, aponta.

Outra preocupação é justamente a valorização do solo, que, para o pesquisador, “é o principal insumo e bem para o produtor e para o país”. “Se o país cuidar bem do seu solo, vamos continuar competitivos e sustentáveis”, finaliza.