Um fórum realizado pela Embrapa Soja na terça-feira (11) reuniu pesquisadores e empresas do ramo agrícola para discutir, na ExpoLondrina, o PSBC (Programa Soja Baixo Carbono), que irá criar uma certificação de sustentabilidade em relação à emissão dos gases de efeito estufa. As empresas Bayer, Bunge, Cargill, Coamo, Cocamar, GDM e UPL são apoiadoras do programa.

O chefe-geral da Embrapa Soja, Alexandre Nepomuceno, explica que o intuito é transformar em números o conhecimento científico adquirido nos últimos quarenta anos, através das inúmeras práticas sustentáveis mantidas no Brasil - como o Plantio Direto, o Manejo Integrado de Pragas e a Fixação Biológica do Nitrogênio.

“O produtor que usar as melhores práticas vai ter um selo de Soja Baixo Carbono, que pode ser usado para ‘n’ coisas, desde a obtenção de crédito de carbono, um mercado em construção, além de mercados específicos e de repente até um crédito mais barato”, diz Nepomuceno, pontuando que o Brasil se comprometeu a reduzir pela metade a emissão de carbono até 2030 e zerar, até 2050. “A maioria dos produtores já usa isso [técnicas sustentáveis], e com o programa queremos que mais e mais produtores utilizem as melhoras práticas que não só diminuem as emissões, mas são práticas, como o Plantio Direto, que ajudam a preservar a água do solo.”

Atualmente, os parâmetros estão sendo construídos pelas equipes científicas e, posteriormente, a certificação será registrada no Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária). Nepomuceno estima que, dependendo de como as discussões andarem, uma primeira versão do selo pode ser colocada no mercado no final de 2024.

A diretora de cadeias produtivas, associativismo e agregação de valor do Mapa, Fabiana Villa Alves, ministrou a palestra “Oportunidades, perspectivas e tendências para uma Agricultura de Baixo Carbono” durante o fórum. À FOLHA, ela destaca que o Brasil é um celeiro de grãos e que, trazendo a temática do carbono e da sustentabilidade para a soja, deve ocorrer um aumento de visibilidade para o país.

“Hoje o mundo mudou, o consumidor, tanto entendido como países como consumidor de produtos, vem buscando mais sustentabilidade na produção, e esse fórum traz o que a ciência, o que a Embrapa tem mostrado ser capaz de trazer para agregar valor à soja que nós já produzimos em quantidade”, avalia a diretora.

No seu ponto de vista, um dos pontos mais importante do programa são as informações science based, ou seja, baseadas em aspectos científicos. “É uma linguagem universal, não há como discutir. A Embrapa traz o que há de melhor nesse assunto.”

O pesquisador Marco Antonio Nogueira, da Embrapa Soja, aponta que a agricultura brasileira é muito sustentável, mas que isso precisa ser mostrado para o mundo com números mensuráveis, reportáveis e verificáveis. Assim, a sustentabilidade pode ser comprovada para os mercados consumidores.

“Estamos fazendo esse programa voltado para a soja, gerando um protocolo que vai servir para a certificação dos processos de produção de soja no Brasil, mostrando o balanço de emissões, que a gente possa comprovar por métodos aceitos internacionalmente”, explica Nogueira. Segundo o pesquisador, a empresa pública já prima, há décadas, por tecnologias sustentáveis, como o manejo do solo. “Tudo isso contribui para a diminuição das emissões.”

Imagem ilustrativa da imagem Embrapa promove fórum sobre Programa Soja Baixo Carbono
| Foto: Douglas Kuspiosz

BENEFÍCIOS PARA O PRODUTOR

O gerente executivo técnico da Cocamar Cooperativa Agroindustrial, Renato Watanabe, participou do talk show “Sustentabilidade, inovação setorial e estratégia de negócio nas cadeias de valor: a visão das empresas sobre o Programa Soja Baixo Carbono”, junto de outros apoiadores do programa.

Ele ressalta que foi mapeado, dentro da cooperativa, quais eram as principais frentes de carbono visando a entrada de crédito para os cooperados - que são mais de 18 mil. “Chegar no produtor primeiro é a prioridade. Começamos a olhar o que tinha de iniciativas e, nesse meio tempo, começamos a conversar com a Embrapa”, diz Watanabe, lembrando que a Cocamar tem outras parcerias público-privadas com a estatal.

Para Renato, as tecnologias que serão fomentadas pelo programa acabarão trazendo um aumento de produtividade. Além disso, muitas delas já vêm sendo utilizadas no campo, caso das coberturas verdes e dos sistemas de produção diversificados.

“A adoção das boas práticas vão trazer um aumento de produtividade e o crédito de carbono, ou agregação de valor do produto, ou créditos a juros diferenciados, vão coroar esses produtores que adotam boas práticas”, acredita o gerente executivo.

Também presente no fórum, o head do hub Cocriagro, George Hiraiwa, diz que o Brasil possui condições de “liderar e produzir, no caso a soja, que é o principal produto agro, de uma forma sustentável”.

“Nós pelo hub temos acompanhado essa tendência mundial de você praticar uma agricultura sustentável. E dentro dela vem toda uma modelagem que o Brasil já vem realizando, já começando pelos idos de 1970 com o Plantio Direto e, agora mais recentemente, ganhando muita força com a questão do LPF, a integração lavoura, pecuária e floresta”, finaliza.