A Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande (MS), está pesquisando uma vacina para controle do carrapato. O trabalho já tem dois anos e deverá demorar pelo menos mais dois anos, para ser concluído. Até lá o criador terá que conviver com os prejuízos causados pelo carrapato. Uma estimativa do Ministério da Agricultura indica que os prejuízos ao rebanho brasileiro ultrapassam US$1 bilhão por ano.
O desenvolvimento de uma vacina para controle de carrapatos representa, além de controlar a tristeza parasitária bovina (doença causada pelo ácaro), reduzir custos com uso de medicamentos químicos. Outra vantagem seria a de obter couro de melhor qualidade, já que não haverá lesões na pele do animal. Melhorando o desconforto dos animais, eles também produziriam melhor.
Melhor statusNa produção de carne ou de leite, o uso de uma vacina biológica pode representar também a conquista de mercados mais exigentes que desejam consumir produtos livres de resíduos químicos.
No mundo somente Austrália e Cuba já desenvolveram vacinas contra o carrapato, usando uma proteína descoberta por pesquisadores australianos. No Brasil, segundo o pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Renato Andreotti, que participa da pequisa brasileira, esse material apresentou baixa eficiência e curto período de proteção.
Pesquisa brasileiraPor isso a própria Embrapa iniciou, há dois anos, estudos para desenvolver uma vacina a partir da clonagem da proteína do carrapato. ‘‘A clonagem é um mecanismo usado para garantir a produção em escala industrial do antígeno’’, diz Andreotti. O pesquisador explica que o inédito é que estão usando uma proteína descoberta há dois anos na própria Embrapa Gado de Corte.
‘‘Temos um bom antígeno para uso, mas ainda precisamos saber mais sobre ele e também desenvolver uma metodologia para produção em escala por meio de biologia molecular. Portanto não podemos prever, mas podemos afirmar, que vai demorar pelo menos dois anos de trabalho.’’
Como é a pesquisaNo trabalho da Embrapa foi isolada e identificada uma proteína inédita, da larva do carrapato, que possui características importantes com relação à iniciação do sistema imunológico do bovino. Significa que o carrapato pode estar usando essa proteína para inibir uma resposta do bovino contra ele.
Essa espécie de carrapato, segundo Andreotti, o Boophilus microplus, especializou-se em bovinos. Ele evolutivamente conseguiu se adaptar em pontos fracos do sistema imune do bovino, para conseguir a sua sobrevivência. Em um experimento da Embrapa bezerros vacinados tiveram uma redução de 95% de carrapatos quando comparado com um grupo sem controle. ‘‘Significa que estamos no caminho certo’’, afirma o pesquisador.
E porque usar proteínas de larva? São as larvas, segundo Andreotti, que sobem no bovino para sugar sangue e se desenvolver, até se tornarem o carrapato adulto. ‘‘Se conseguirmos impedir esse processo, não teremos espoliação e em consequência prejuízos.’’
‘‘As populações de carrapato têm variedades diferentes e, portanto, é preciso avaliar em diversas regiões do Brasil se o comportamento será o mesmo. Mas, por outro lado, o nosso trabalho de pesquisa está estudando várias proteínas que poderão ser incorporadas ao longo do tempo, para aumentar sua eficiência.’’
Onde apareceO pesquisador da Embrapa explica que os animais mais resistentes ao ataque dos carrapatos são os de raças zebuínas e os mais susceptíveis são os europeus. Em função da raça e do sistema de produção deve-se considerar o estado nutricional e a época do ano. Com essas informações, enquanto a vacina não vem, pode ser realizado o controle químico estratégico para o sistema de produção, sob orientação de um veterinário.
As regiões que possuem climas com temperaturas menores no inverno sofrem mais com o carrapato. Andreotti destaca o Sul do Brasil e regiões com maiores altitudes, como algumas localidades de Minas Gerais.
O sistema de produção de gado de leite é composto na sua grande maioria – destacando a produtividade – por gado europeu, que significa menor resistência ao carrapato. ‘‘O Paraná, que possui uma bacia leiteira reconhecida nacionalmente, acredito que sofre muitas perdas econômicas com este problema’’, diz Andreotti.
É importante lembrar, avisa o pesquisador da Embrapa, que o sistema de produção de gado de corte por meio de cruzamentos está incorporando o sangue europeu como forma de incrementar a precocidade e o ganho de peso por um lado, mas que está também diminuindo a resistência contra o carrapato dentro do sistema. ‘‘De uma forma geral o carrapato dos bovinos pode ser problema econômico nas diferentes regiões do Brasil observando cada realidade.’’
Uso da vacinaSegundo o pesquisador, depois da vacina pronta o manejo deverá ser o de usá-la associada a outras vacinações que já são sugeridas para o sistema de produção, de forma a não alterar o manejo pré-existente. ‘‘O sistema de controle de carrapato atual – controle químico – ainda é a alternativa mais viável e deve ser feita de uma forma estratégica sob supervisão de um veterinário. É importante lembrar que o uso inadequado dos produtos químicos diminui a vida útil dos mesmos acarretado o aumento da resistência do carrapato na região frente a esses produtos’’, relembra Andreotti.