O agronegócio participa com 72% a 77% do esforço exportador do Paraná
O agronegócio participa com 72% a 77% do esforço exportador do Paraná | Foto: Jaelson Lucas/Arquivo AEN

Internacionalizar a economia é sonho de todo o governador de estado e o Paraná encontra na agricultura grande força de exportação. Mas ainda há o que avançar e nesse sentido as secretarias estaduais da Agricultura e do Abastecimento e do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo promoveram uma live, na última terça-feira (27) com adidos agrícolas do Ministério da Agricultura.

De um lado, os adidos, que atuam como um tipo de embaixadores do agronegócio brasileiro no exterior, apresentaram oportunidades nos países em que atuam e, por outro lado, os representantes do governo paranaense mostraram o desempenho e as potencialidades do Paraná em ocupar uma presença maior no mercado internacional.

Participaram da reunião online os adidos na Comunidade Europeia, Estados Unidos, Arábia Saudita e África do Sul. Segundo os secretários paranaenses, o principal atrativo do Estado é a qualidade dos produtos e a alta produtividade, fatores aliados ao desenvolvimento sustentável e à preocupação e responsabilidade com o meio ambiente. As informações são da AEN (Agência Estadual de Notícias).

A live foi transmitida ao vivo pelo canal da TV Paraná Cooperativo no Youtube, da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). A transmissão ao vivo pela internet contou ainda com a palestra de Marcos Fava Neves, professor da USP (Universidade São Paulo) e FGV (Fundação Getúlio Vargas), que abordou as oportunidades de exportação de produtos agrícolas no mercado internacional e como eles veem a questão do meio ambiente no Brasil.

Chances de bons negócios com Ásia e África

O professor Marcos Fava Neves destacou a posição do Brasil como fornecedor mundial sustentável de alimentos, bioenergia e outros agro produtos como têxteis, madeira, móveis, couro e fumo. Ele falou sobre a trajetória do Brasil nos últimos 20 a 30 anos, quando o país passou de importador a exportador mundial de alimentos e como ocorreu esse crescimento. Segundo Neves, as oportunidades agora estão em explorar os mercados na Ásia e África.

Ásia: bons negócios no futuro
Ásia: bons negócios no futuro | Foto: iStock
África do Sul pode ter interesse na carne exportada pelo Brasil
África do Sul pode ter interesse na carne exportada pelo Brasil | Foto: iStock

O professor destacou países como Egito, Tailândia e Bangladesh, que estão aumentando as importações de produtos brasileiros e que ajudam o Brasil a reduzir a dependência da China.

Segundo Neves, o Brasil controla mais de 50% das exportações mundiais de soja, o que vem despertando o interesse de empresários e executivos norte-americanos em saber o que se faz nas empresas brasileiras do agronegócio. “Estamos exportando inteligência artificial para os EUA”, disse. “O agro brasileiro está exportando conhecimento, gestão”, afirmou.

Ainda segundo o professor, a tendência será ampliar as exportações de algodão, milho, frango, açúcar, carne bovina, suína, soja e açúcar e que, certamente para o futuro, o fornecedor sustentável de alimentos e de energias renováveis será o Brasil, acrescentando que os mercados da África, Ásia e Oriente Médio são bastante promissores.

Para atender essa demanda, o país que atualmente ocupa uma área de 66 milhões de hectares com a produção de grãos, deverá expandir essa ocupação para 70 milhões de hectares no curto prazo. E incorporar mais 15 milhões de hectares nos próximos 10 anos.

“Teremos de 80 a 85 milhões de hectares ocupados com a produção de grãos no Brasil, o que corresponde a 10% de sua área. Isto é, vamos abastecer o mundo com um terço de ocupação do território brasileiro, o que é muito baixo se comparado com outros países”, ressaltou.

Neves destacou o papel do cooperativismo no esforço do agronegócio em ocupar mais espaço no mercado internacional. Ele sugere a união no setor para negociar melhor com os blocos internacionais, com a unificação das cooperativas numa só entidade. “Não faz sentido não compartilhar infraestrutura de transporte, logística, poder de negociação”, orientou.

Estado quer ampliar exportação de alimentos processados

A live com os adidos agrícolas e secretários de estado foi vista por cerca de 200 pessoas entre lideranças da agropecuária e produtores, presentes em salas nas cooperativas e sindicatos rurais.

Segundo Norberto Ortigara, secretário estadual de Agricultura e Abastecimento, o Paraná praticamente dobrou sua participando no mercado internacional, de 6% para 13%. “É um estado que tem cadeias produtivas bem diversificadas e que está trabalhando muito para ter densidade, volume, escala, preço competitivo e qualidade de seus produtos”.

Ele destacou que o Estado vem se esforçando para ter uma presença maior nos mercados internacionais, não só com commodities, mas também com alimentos processados, como carnes de boi, frango, suíno, peixe, produtos lácteos e agro, como madeira, papel e celulose, fécula de mandioca, frutas e produtos do setor sucroalcooleiro.

O Paraná, reforçou Ortigara, segue todos os protocolos sanitários estabelecidos pelos países compradores dos produtos paranaenses, ressaltando que o estado se prepara para dar um salto importante a partir de maio de 2021, quando poderá ser reconhecido internacionalmente como área livre de febre aftosa sem vacinação, assim como será diferenciado de um bloco de 14 estados brasileiros com a erradicação da peste suína clássica.

O secretário lembrou que o agro participa com 72% a 77% do esforço exportador do Estado, índice que subiu neste ano. De janeiro a setembro, cerca de 82% de tudo o que o Paraná exportou tem a ver com produtos do agronegócio. “O foco é ampliar ainda mais a presença nesses importantes mercados e também na Ásia”.

Meio Ambiente

O secretário de Desenvolvimento Sustentável e do Turismo, Márcio Nunes, destacou diversos programas no Paraná que unem o desenvolvimento agropecuário com a sustentabilidade. Entre eles está o Descomplica Rural, que tem como objetivo trazer agilidade nos processos de licenciamento ambiental no campo, com segurança ambiental e jurídica.

“O Paraná tem a política de promover o desenvolvimento com sustentabilidade. Ao mesmo tempo em que é o estado que mais produz por metro quadrado, é o mais sustentável do Brasil”, disse Nunes ao destacar, ainda, o programa Paraná Mais Verde, que instituiu o plantio de mais de 46 mil mudas de araucária em todo o Estado a partir da última terça-feira.

De acordo com Márcio Nunes, neste ano, o Paraná é o estado que mais notificou por crimes ambientais no Brasil, ao mesmo tempo em que foi o que mais autorizou licenciamentos para novos empreendimentos no País.

Outro programa citado pelo secretário foi o Descomplica da Energia Sustentável, previsto para ser lançado nos próximos dias. O programa pretende reduzir a emissão de CO2 por parte dos empreendimentos.

Adidos agrícolas apontam necessidades e exigências do mercado internacional

Durante a reunião com lideranças do agronegócio paranaense, o adido agrícola na União Europeia, Bernardo Todeschini, destacou o Mercado Comum Europeu como o segundo maior importador do agro brasileiro depois da China, com um desembolso de US 140 bilhões anuais. Disse que os países do bloco são muito rígidos na área sanitária e de resíduos químicos.

Reunião entre adidos agrícolas e lideranças foi vista por cerca de 200 pessoas
Reunião entre adidos agrícolas e lideranças foi vista por cerca de 200 pessoas | Foto: Divulgação/AEN

Segundo ele, a oportunidade no momento é ampliar a exportação de carne suína e citou o interesse do bloco em políticas de energia renovável e redução de emissão de carbono. Lembrou, ainda, que os países europeus também valorizam estratégias de políticas sociais e sanitárias como incentivo ao cooperativismo, sustentabilidade social, certificações e estrutura fundiária.

O adido agrícola nos Estados Unidos, Felipe Guerra Lopes disse que no ano passado a país importou US$ 153 bilhões em produtos brasileiros e que até agosto deste ano já havia importado o equivalente a US$ 116 bilhões. Segundo ele, o Brasil tem oportunidades para elevar as exportações de produtos florestais, café solúvel, rações, peixes e frutas industrializadas.

O adido agrícola na Arábia Saudita, Marcel Moreira Pinto, citou o papel de liderança no Golfo Pérsico, ressaltando que quem consegue acessar o mercado saudita está apto a exportar a qualquer país do Golfo. O Brasil, disse, se destaca com as exportações de carne de frango, mas também com exportações de açúcar, soja, milho, carne bovina e produtos florestais.

Segundo ele, a tendência é ampliar as importações de lácteos, frutas, cafés especiais e carnes de ovinos, lembrando que os sauditas dão muita importância para a confiança nas negociações e na qualidade dos alimentos, sendo muito rígidos também em protocolos sanitários.

Na África do Sul, explicou o adido agrícola Jesulindo Nery de Souza Júnior, as oportunidades para o Brasil são as exportações de carnes. Lembrou que o mercado é mais protecionista com questões tarifárias e que são muito influenciados pela imprensa europeia quando o assunto é meio ambiente.