Estado deve seguir o exemplo de Santa Catarina, onde o plantio direto começou há 20 anos com a cultura do tomate
Estado deve seguir o exemplo de Santa Catarina, onde o plantio direto começou há 20 anos com a cultura do tomate | Foto: Shutterstock


A área de hortaliças da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) sem dúvida é uma porta de entrada excelente para o início dos trabalhos em SPDH no Paraná. São aproximadamente dois mil produtores de diversas cidades com potencial de absorver a tecnologia conservacionista e melhorar todo o manejo de diferentes culturas.

A Emater do Paraná - atenta a todos os benefícios da tecnologia - há cerca de três semanas trouxe especialistas da Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina) – pioneira no assunto – para apresentar o case de sucesso do estado vizinho. Participaram da palestra 240 produtores. No mês de setembro os técnicos da empresa retornam para capacitar 35 técnicos paranaenses num curso de 40 horas, que acontecerá em São José dos Pinhais.

Marcelo Zanella é engenheiro agrônomo, extensionista e responsável pelo projeto de olericultura e SPDH (Sistema de Plantio Direto em Hortaliças) da Epagri. Ele explica que o trabalho começou há mais de 20 anos em Santa Catarina, na região de Caçador, com a cultura do tomate. "Foram anos difíceis, muitos agricultores estavam com excesso de produção, recebendo preços baixos e não conseguiam cumprir com os compromissos junto aos bancos. Um trabalho de SPDH já estava sendo feito pela pesquisa da Epagri e resolvemos aplicar em Caçador justamente para reduzir custos e melhorar a produtividade. Depois, se expandiu para Ituporanga, com a cebola, e finalmente se consolidou a partir de 2010, quando chegou na região de Florianópolis, local que possui maior número de produtores de hortaliças no estado."

Se no princípio a ideia era atenuar uma situação econômica difícil, ao longo dos anos a técnica evoluiu para todas as áreas da ciência agronômica. A adesão foi impressionante em SC: atualmente são três mil hectares e 1,2 mil produtores que utilizam o SPDH, em praticamente todas as culturas. São 600 hectares de maracujá, 500 hectares de couve, repolho e brócolis, 280 hectares de chuchu e agora o tomate volta a ganhar força, só não se expandindo mais rapidamente devido à falta de técnicos da Epagri. "Realizamos um trabalho de todo o rearranjo nutricional da planta e utilizando a cobertura de solo também como reposição de matéria orgânica, manutenção de água, (controle de) temperatura, ciclagem de nutrientes. Tudo isso foi revisto com o plantio direto."

Independentemente da planta de cobertura e hortaliça utilizada, a Epagri tem uma metodologia de trabalho muito eficiente. São cerca de oito princípios que os produtores precisam adotar: questões nutricionais, revolvimento do solo restrito apenas na linha de plantio, reposição de no mínimo 10 toneladas de matéria seca por ano por hectare e redução – até a eliminação – do uso de produtos químicos. "Fazemos uma análise de solo bem feita e a partir disso entramos com as plantas de cobertura. No verão, geralmente, utilizamos o milheto e a macuna; e no inverno, azevém, aveia e nabo, independentemente de qual hortaliça será plantada. Vale dizer que a única cultura que consegue atingir a quantidade de matéria seca sozinha é o milheto. As outras todas precisam de um segundo ciclo de planta para atingir 10 toneladas de matéria seca."

Por fim, Zanella ressalta que o trabalho tem todo o potencial para ganhar força em outros estados. "Aqui em Santa Catarina ele começou em regiões não mecanizadas e montanhosas. E a grande desculpa de muitos produtores é que o SPDH iria justamente atrapalhar a mecanização. Quando a técnica entrou nessas lavouras eles perceberam que as intervenções mecânicas e a quantidade de mão de obra diminuíram. O medo deles era de não produzir, já que não usariam máquinas e nem produtos químicos". O resultado está aí pra todo mundo ver.