"Se os produtores se organizarem para escalonar a época da semeadura e utilizarem cultivares diferentes, com ciclos diferentes, poderão diminuir o risco de perdas e diluir os prejuízos”, aponta o pesquisador da Embrapa José Renato Bouças Farias
"Se os produtores se organizarem para escalonar a época da semeadura e utilizarem cultivares diferentes, com ciclos diferentes, poderão diminuir o risco de perdas e diluir os prejuízos”, aponta o pesquisador da Embrapa José Renato Bouças Farias | Foto: Gustavo Carneiro

O Paraná registrou uma perda de 6,6 milhões de toneladas de soja nas três últimas safras de soja em decorrência da falta e da irregularidade das chuvas. Levantamento feito pela Embrapa Soja mostrou que as baixas foram de 4,4 milhões de toneladas na safra 2018/2019 e de 2,2 milhões de toneladas na safra 2020/2021. Na safra 2019/2020, não houve perdas.

“O produtor plantou, semeou, teve custos de produção, mas não colheu. Além de chover, é preciso haver boa distribuição de chuva durante todo o ciclo de desenvolvimento da planta, algo que ocorreu na safra 2019/2020”, explicou José Renato Bouças Farias, pesquisador da Embrapa Soja.

Ele acrescenta que os efeitos da seca no desenvolvimento da soja são mais severos nas fases finais, como a floração e o enchimento de grãos. “Se está no período vegetativo, de desenvolvimento de folhas, a falta de chuva pode até afetar a altura da planta, mas não chega a prejudicar de maneira grave o rendimento”, detalha.

Para enfrentar esses problemas e reduzir as perdas, os produtores podem alterar algumas práticas na lavoura.

“É muito comum os produtores semearem o mesmo cultivar de soja na mesma data. Daí se houver seca, todas as plantas serão afetadas. Se os produtores se organizarem para escalonar a época da semeadura e utilizarem cultivares diferentes, com ciclos diferentes, poderão diminuir o risco de perdas e diluir os prejuízos”, orienta.

Além da diversificação das variedades de soja, outra prática que pode auxiliar a combater a escassez ou a irregularidade de chuvas é adotar um bom manejo do solo, de maneira que haja boa capacidade de recarga de água. “Ao se preservar as nascentes, a água infiltra melhor e pode subir para a superfície”, explica.

O plantio direto na palha é uma prática extremamente recomendada, já que pode proteger o solo da ação direta dos raios solares, mantendo a sua temperatura amena e retendo a sua umidade.

O respeito ao Zarc (Zoneamento Agrícola de Risco Climático) é outra prática destacada pelo pesquisador. “O Zoneamento define a melhor época para exploração da cultura, a melhor época de semear com menor risco. Na palma da mão, via celular, o produtor pode obter essas informações”, pontua. O acesso à ferramenta pode ser feito no aplicativo Zarc Plantio Certo, desenvolvido pela Embrapa Informática Agropecuária (SP), disponível nas lojas de aplicativos iOS e Android. Os resultados do Zarc também podem ser consultados e baixados por meio da plataforma Painel de Indicação de Riscos e nas portarias de Zarc por Estado.

PESQUISAS

Pesquisas para criar plantas que suportam melhor situações de estresse hídrico estão sendo desenvolvidas e vislumbram um futuro promissor nesse aspecto.

Um dos estudos lança mão da transgenia, coletando genes de outras espécies para modificar a soja, tornando-a mais resistente à falta ou à distribuição irregular de chuvas.

“Pelo melhoramento genético convencional é bastante difícil, já que é preciso alterar muitos genes para que haja uma alteração importante. Então estamos lançando mão de ferramentas da biotecnologia nesse processo”, explicou Liliane Mertz Henning, pesquisadora da Embrapa Soja.

A pesquisa se utilizou de vários genes da espécie-modelo Arabidopsis, uma das variedades mais utilizadas na pesquisa científica atualmente. “Conseguimos obter resultados interessantes, de maneira a melhorar o desempenho da soja na seca”, destacou Liliane.

No entanto, a pesquisadora ressalta que, no caso da transgenia, o aspecto regulatório é muito lento e custoso – para colocar a nova tecnologia no mercado, é preciso haver avaliações de biossegurança em todos os países para onde a soja for exportada, por exemplo. “Estamos tentando parcerias público-privadas para colocar esse material no mercado”, pontuou.

CRISPR

Outra tecnologia de aprimoramento genético da soja que vem sendo desenvolvida é o Crispr, técnica de edição do DNA da soja. “O DNA é cortado no lugar onde se quer mudar, de maneira que a modificação genética é feita na semente”, explicou.

De acordo com a pesquisadora, uma das vantagens do Crispr seria utilizar somente genes de soja, visto que existe uma variabilidade muito grande dentro da própria espécie. “Isso reduziria o custo e também o tempo para a tecnologia estar disponível.”

Ela acrescenta que essa técnica já foi utilizada com bons resultados no milho, de maneira que a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) já aprovou um produto gerado por essa tecnologia. Agora, está sendo aguardada a posição de importadores que estão definindo suas políticas regulatórias sobre o tema, como China e União Europeia.

A importância do Zoneamento de Risco Climático

O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) é uma ferramenta de análise do risco derivado da variabilidade climática e que considera as características da cultura e do solo. Seu objetivo é reduzir os riscos relacionados aos problemas climáticos e permite ao produtor identificar a melhor época para plantar, levando em conta a região do País, a cultura e os diferentes tipos de solos.

“Recomendamos evitar as regiões e épocas reconhecidamente de maior risco de seca para minimizar as perdas”, destaca Farias. O modelo agrometeorológico considera elementos que influenciam diretamente no desenvolvimento da produção agrícola como temperatura, chuvas, ocorrência de geadas, água disponível nos solos, demanda hídrica das culturas e elementos geográficos (altitude, latitude e longitude).