Dos primórdios à agricultura moderna: um salto gigante

Para quem acompanhou o desenvolvimento da produção agrícola do Brasil, no último meio século, deve ter-se impressionado com os avanços ocorridos nos processos produtivos das lavouras no período. Avanços na quantidade produzida, mas, principalmente, na produtividade das lavouras, dado o maior e mais eficiente uso de ferramentas tecnológicas disponibilizadas aos produtores, como o apropriado manejo do solo e das plantas, o uso de novas máquinas, implementos e sementes mais produtivas e cultivares resistentes a pragas e doenças, o que permitiu produzir mais nas terras já ocupadas, inibindo mais desmatamentos.

A agricultura teve sua origem na Pré-história (período Neolítico), há mais de 12 mil anos, quando os Sumérios, povo que habitava a Mesopotâmia (região compreendida entre os rios Tigre e Eufrates, hoje o Iraque), descobriu que poderia alimentar-se produzindo seu próprio alimento em um lugar fixo, abandonando a vida nômade de caçadores-coletores que levavam até então. Há quem acrescente os vales do Rio Nilo, no Egito e dos rios Amarelo e Azul, na China, como outros centros de origem da atividade agrícola, assim como, as terras dos povos pré-colombianos (Incas e Astecas) da América Central.

Com o passar do tempo, a nova vida sedentária permitiu o aparecimento das primeiras aglomerações urbanas que deram origem às cidades. Os primeiros alimentos produzidos pelos povos sedentários foram os cereais (trigo e cevada, principalmente) e tubérculos, disponibilizados simultaneamente com os produtos da caça e da coleta, atividades herdadas da fase anterior. Foi um período de transição entre o velho e o novo jeito de sobreviver.

Há historiadores indicando que a agricultura surgiu na Galileia, norte de Israel, 11 mil anos antes da época informada para a Mesopotâmia. Não importa quando começou, o certo é que a agricultura evoluiu e garantiu o crescimento e a sobrevivência da população humana, e se estabeleceu como garantia de que os humanos poderão continuar crescendo, sem riscos de passar fome por falta de comida.

A busca pela melhoria das sementes para garantir a comida foi uma das estratégias perseguidas pelo homem desde os primórdios. Sementes melhoradas tiveram e ainda continuam a ter, papel relevante para agricultura em todas as partes do mundo. Pesquisadores brasileiros, há muitos anos, trabalham com o melhoramento genético das principais espécies cultivadas. A variabilidade de solo e clima do Brasil exige que se desenvolvam plantas adaptadas aos diferentes ambientes. Foi graças ao melhoramento genético que variedades de soja foram desenvolvidas para cultivo em todas as regiões do território brasileiro. Até 1970, a soja só era cultivada na Região Sul, em latitudes próximas a 30ºS. Com as novas cultivares, hoje pode ser cultivada em todo o território nacional.

Além de novas sementes, os avanços tecnológicos em máquinas, implementos e insumos, foram e são uma garantia de fornecimento consistente de alimentos para o futuro da humanidade. Nos primórdios, o agricultor não contava com as ferramentas da moderna agricultura e dependia dos caprichos da natureza para produzir. Na eventualidade de ocorrerem desastres ambientais como o ocorrido na Irlanda, no século 19, quando um ataque da doença Pinta Preta nas lavouras de batata - o principal alimento dos irlandeses - dizimou as lavouras do país e milhões passaram fome, milhares morreram de inanição e outros tantos migraram para os Estados Unidos.

Seria quase impossível imaginar o provimento de alimentos suficientes para alimentar adequadamente a atual população da Terra (mais de 7,5 bilhões de pessoas), sem os modernos recursos tecnológicos disponíveis.

O mundo chegou até aqui e segue em frente porque tem conseguido contornar as contrariedades da natureza e as que o próprio homem causou. Mas é importante lembrar que esse é um processo contínuo e é necessário cada vez mais buscar tecnologias que permitam a produção de alimentos com o menor impacto possível no ambiente.

AMÉLIO DALL’AGNOL, PESQUISADOR DA EMBRAPA SOJA

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