Produção, oferta e procura são palavras que estão todo dia na cabeça dos agropecuaristas. Se produzir muito, o preço pode cair, se não produzir, não há o que vender. Como resolver esse problema antigo? Se a resposta fosse fácil e simples, com certeza alguém já teria feito. O ideal então é vender cada vez melhor, obter o maior lucro possível com aquilo que se possui.

Nesse sentido, há pouca lógica no incentivo à venda de commodities para que sejam processadas em outros países ao invés do desenvolvimento de uma indústria de transformação nacional. Com a exportação de commodities o lucro do processamento é perdido. Políticas públicas (desoneração, logística adequada, geração e distribuição de energia firme, dentre outras) seriam fundamentais para o desenvolvimento de indústrias de processamento de produtos agrícolas e, para além do lucro, essa é uma questão de soberania nacional.

E existem vários exemplos de como podemos agregar diversos benefícios aos produtos agropecuários. Falando de carnes, em uma passada pelo mercado encontrei pernil suíno sendo vendido a R$17,50 o quilograma. Esse produto, simplesmente depois de uma fermentação láctica, pode ser transformado em um bom salame, que encontrei sendo vendido em torno de R$100,00 o quilograma. Estamos falando de 471% mais caro, além de ser um produto mais fácil de ser transportado (não necessita de refrigeração), e com prazo de validade maior.

Se passarmos para o leite, encontraremos sendo vendido a R$4,90 o litro, enquanto que o iogurte mais barato estava R$2,80 um frasco de 170g, o que representa R$17,07 o litro, um aumento de 248%.

Os cereais também podem ser transformados: bolos, bolachas, biscoitos, ração animal, utilização como substitutos em produtos de origem animal, pães, cervejas e bebidas alcoólicas são exemplos do que podemos fazer. As frutas, que necessitam de processos complexos para conseguirem ser exportadas, que apresentam baixo tempo de validade ao serem transformadas agregam muito valor, como é o caso das geléias, das conservas, do processo de desidratação, dos já famosos espumantes gaúchos e dos vinhos.

Por fim, recentemente, em conversa com o professor do IFPR Londrina, Dr. Dão Pedro de Carvalho Neto, descobri que até o nosso cafezinho diário pode ter sua qualidade melhorada para além dos processos de produção no campo. Em suas publicações, o professor mostra que o mercado de café também vem acompanhando, embora com um atraso considerável em relação a outros produtos, a tendência por um produto com características organolépticas únicas obtidas através de processo fermentativo.

Isso por conta de que flutuações na qualidade dos grãos e ausência de padronização acabam por se tornar incoerentes com uma projeção de crescimento anual de 5,12% de 2023 até 2030 no mercado do produto. Diante disso, as universidades e indústrias vêm correndo contra o tempo no isolamento e seleção de microrganismos que possam incorporar notas sensoriais diferenciadas – frutas amarelas, florais, alterar o corpo e acidez – durante o “místico” processo de fermentação dos grãos de café.

Atualmente, o Brasil – e em especial o Paraná – se encontram na vanguarda dessa corrida. Um bom exemplo são os trabalhos desenvolvidos pelo grupo de pesquisa da Universidade Federal do Paraná, que conseguiram isolar e implementar, em condições de campo, leveduras e bactérias láticas capazes de elevar cafés em até 6 pontos SCAA em comparação com métodos convencionais. Isso representa não apenas um salto tecnológico, mas também uma maior rentabilidade ao produtor, visto que o valor saltaria, em média, de R$8,71 para R$55,07 o quilograma.

Além de agregar valor, a mudança na concepção do que queremos fazer com nossas commodities, também gera emprego e renda para o povo. Esses são apenas alguns exemplos do que já podemos fazer, do que já conhecemos, da tecnologia que já temos, dos profissionais para operacionalizá-las que são formados anualmente pelas universidades, como a UEL, IFPR, UTFPR aqui em Londrina.

Basta um empurrãozinho que ninguém nos segura. O caminho para a agregação de valor na indústria de alimentos existe e poderia ter o selo PRODUZIDO NO BRASIL.

Luiz Diego Marestoni, professor titular do IFPR Londrina e membro da AgroValley Londrina.