Em propriedades rurais do Paraná, o produtor quebra a cabeça para melhorar a produtividade da lavoura e sabe a importância do investimento no solo para que isso aconteça. Numa outra realidade - bem longe da porteira - uma companhia de saneamento faz de tudo para lidar com o lodo de esgoto, até então um passivo ambiental que gerava custos elevados para a destinação correta. Dois cenários aparentemente tão distantes e que nos últimos anos estão funcionando com uma sinergia impressionante no Estado, elevando todos os conceitos de sustentabilidade.

A utilização do lodo de esgoto na produção agrícola paranaense tem transformado a forma de fazer agricultura, e com resultados concretos. A parceria entre a Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná) e a Emater (Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural) leva esse biossólido - que até então precisava ser tratado e depois enviado a aterros sanitários - a se transformar num excelente fertilizante, rico em nutrientes, e ainda corrigindo a acidez do solo, diminuindo custos para todas as partes envolvidas e potencial para aumentar a produtividade.

A reportagem da FOLHA foi conferir de perto esse trabalho no Noroeste do Estado, região com uma parcela de arenito, solo complexo para a produção, em que 100% do lodo é destinado para áreas rurais produtivas, com cases de sucesso. Visitamos propriedades em Santa Fé em que lodo agora é visto como um ativo valoroso para a produção, transformando a economia local. Agora, depois de resultados tão concretos na região, a expectativa é que esse lodo seja disseminado para pelo menos mais 300 produtores paranaenses por ano, dando mais eficiência ao projeto.

Somente em 2017, as unidades da Sanepar produziram 16,85 mil toneladas de lodo. Foram elaborados, pelos técnicos da Sanepar e da Emater, 120 projetos agronômicos, beneficiando mais de 70 agricultores e abrangendo uma área de 1,8 mil hectares. Maringá foi a cidade que mais destinou lodo de esgoto no último ano: 4,54 mil toneladas, equivalente a 27% de todo o lodo entregue no Paraná. Em Santa Fé, são pelo menos 12 projetos e um sucesso muito grande.

O engenheiro agrônomo do Instituto Emater, Ricardo Augusto da Silva, muito atuante naquela região, comenta que com os eventos constantes, os produtores já absorveram os conceitos e benefícios que o lodo de esgoto pode levar às propriedades. Tudo feito com muito critério e aplicações baseadas em análises de solo e monitoramento constante. "O nível de esclarecimento e os resultados na região são muito bons. O lodo, de acordo com a resolução 375/2016 do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) pode ser aplicado, em síntese, para aquelas culturas que não têm contato direto com o solo (hortaliças e tubérculos, por exemplo). Na nossa região, já utilizamos em citrus, café, eucalipto, soja, milho...", elenca ele.

De acordo com Silva, é possível expandir ainda mais esse trabalho para outras culturas. Ele relata que o objetivo é fazer pesquisas com as espécies regulamentadas e também com aquelas ainda não autorizadas. "O Estado vai aumentando sua política de saneamento e assim vamos expandindo o lodo para outros produtores. Se tivéssemos, por exemplo, a liberação do uso do lodo para pastagens degradadas - um dos maiores problemas do Brasil - a demanda seria enorme."

O engenheiro agrônomo explica ainda que o produtor de forma geral gasta muito com fertilizantes e também com a correção de solo. A Sanepar entrega na propriedade um produto tratado, com cal virgem, excelente para essa correção. "O produtor usa (para a correção) calcário ou cal virgem, inviável pelo preço. Com uma tonelada de lodo, são pelo menos 250 quilos de cal virgem, que contribui com uma parcela dessa correção. Jogamos o lodo, refazemos a análise e assim calibramos a dose ideal"