Dia do Agricultor: hora de celebrar conquistas e de enfrentar desafios
Números impressionantes do setor mostram a força da categoria. Paraná tem 300 mil propriedades rurais
PUBLICAÇÃO
sábado, 27 de julho de 2024
Números impressionantes do setor mostram a força da categoria. Paraná tem 300 mil propriedades rurais
Lucas Catanho - Especial para a FOLHA
A agropecuária é uma das principais atividades econômicas do Brasil, responsável por números impressionantes em nível nacional e também paranaense. De toda a riqueza produzida em território paranaense, 11% é proveniente da atividade agropecuária, conforma aponta o PIB (Produto Interno Bruto) do Paraná em 2023.
Dentre o montante de R$ 665,6 bilhões oriundo de todos os setores da economia paranaense, a agropecuária teve participação de R$ 73,6 bi no ano passado, produção que partiu de mais de 300 mil propriedades rurais.
Esses dados representativos mostram toda a força da categoria que celebra neste domingo, 28 de julho, o Dia do Agricultor, data instituída em 1960 para celebrar os 100 anos do Ministério da Agricultura.
Entre os agricultores que vão comemorar o seu dia neste domingo está Almir Montecelli, engenheiro agrônomo que inspirou toda a sua família a seguir o seu passo e da mulher, que também é agrônoma. O casal teve três filhos – e todos também exercem a mesma profissão. E ele ainda tem um genro e uma nora agrônomos.
MOTIVO DE ALEGRIA
Montecelli produz soja, trigo e algodão em uma área de 500 hectares em Jataizinho. “Todo agricultor tem orgulho da profissão, apesar das dificuldades, da luta, do clima, dos preços. É sempre motivo de alegria ser agricultor”, destaca.
Como presidente da Associação dos Cotonicultores do Paraná, Montecelli destaca uma conquista especial neste ano. “O Brasil se tornou o maior exportador de algodão do mundo, ultrapassando os Estados Unidos. Somos hoje o quarto maior produtor mundial, perdemos em área e quantidade para China, Índia e Estados Unidos. A China é o nosso maior mercado importador de algodão. Isso é um número fantástico, nos deixa muito satisfeitos, estamos exportando inclusive para o Egito”, celebra.
LEIA TAMBÉM:
Programa de assistência técnica gratuita faz um ano e será ampliado
Entre os desafios da agricultura, ele cita a questão do custo-Brasil. “Faz 30 anos que falamos em custo e a coisa não evolui. Combustíveis, estradas, segurança. Estrada ruim, esburacada, frete caro e a quantidade de impostos cada vez aumentando mais", ressalta o agricultor.
Montecelli coloca a instabilidade cambial como um dos grandes entraves para o setor. “Para a nossa atividade é ruim porque 90% dos insumos estão atrelados ao dólar, isso nos afeta demais. Tivemos prejuízo na safra passada por causa da questão do dólar. Investimos e, quando fomos vender, o dólar estava mais baixo, dando uma diferença de até 40% no preço”, reclama.
`UMA INDÚSTRIA A CÉU ABERTO´
Produtor de soja em 900 hectares de propriedades localizadas em Arapongas e Guaraci, Antonio Sampaio destaca que, apesar de todas as dificuldades climáticas, políticas e do desafio de transmitir à população urbana a realidade da atividade rural, segue na luta sem esmorecer e vendo os filhos seguindo os mesmos caminhos.
“A principal dificuldade do produtor rural é certamente o clima. Somos uma indústria a céu aberto, com falta de chuva, chuva em excesso, frio. Ver a coragem e a resignação do produtor em recomeçar sempre depois de cada adversidade é o que eu mais admiro e me dá orgulho de pertencer a esse grupo.”
Entre os desafios da atividade, Sampaio cita uma maior atenção por parte dos governos para a agricultura. “Essa atividade econômica é sem dúvidas a vocação do nosso país. Temos a maior extensão de terras produtivas do mundo, clima propício, temos gente trabalhadora e qualificada para o serviço. É só ver quem é o maior produtor das principais commodities no mundo”, conclui.
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Agricultora familiar em Pinhalão, Norte Pioneiro, a produtora de café Sirlene Soares dos Santos tem 4 hectares de café cultivados no seu sítio. Entre as boas práticas adotadas para garantir o máximo em qualidade, ela cita o uso de alguns produtos biológicos na lavoura, visando a própria saúde e a saúde dos clientes, rumo a uma agricultura cada vez mais sustentável.
A produtora considera uma grande alegria comemorar o Dia do Agricultor, por ter podido dar estudo aos filhos e cuidar da família com o sustento vindo do café cultivado. “Fico muito orgulhosa dos títulos que conquistamos. É muito gratificante ver o nosso esforço sendo reconhecido e saber que estamos contribuindo para preservar nossa cultura cafeeira diante da comunidade”, destaca.
Em dois anos, a agricultora foi premiada em seis concursos. Entre as conquistas obtidas com a atividade, Sirlene venceu, em 2022, o concurso Café Qualidade Paraná, obtendo o primeiro lugar na categoria natural.
Setor cobra mais apoio e melhor infraestrutura
Ágide Eduardo Meneguette, presidente interino do Sistema Faep/Senar-PR, considera que o principal motivo de comemoração da categoria reside dentro da porteira: a produção de alimentos. “Esse é o item mais importante da sociedade, que gera um enorme orgulho para os produtores rurais por produzirem algo essencial para a vida. Ainda mais por representar um elo importante da economia do município, do Estado e do Brasil. Afinal, nossos produtos são consumidos em centenas de países do mundo”, destaca o dirigente.
Sobre os desafios dos agricultores, Meneguette ressalta que as condições gerais da atividade necessitam de mais apoio e reconhecimento da sociedade e, principalmente, dos governos municipais, estadual e federal.
“Os custos de produção são altos e os produtores dependem de recursos de terceiros para executar a safra, mas esses recursos precisam ser baratos. As taxas de juros altas encarecem ainda mais a produção, chegando a inviabilizá-la.”
Outro ponto destacado pelo dirigente é a cobertura do seguro rural. “O governo federal precisa perceber que a gestão de riscos é fundamental para os produtores que ficam expostos às intempéries climáticas e à possibilidade de terem perdas de produção, que os deixarão sem recursos para quitação das dívidas ou até mesmo seu sustento, caso de muitos agricultores familiares”, conclui.
RESILIÊNCIA
Flávio Turra, gerente de Desenvolvimento Técnico da Ocepar, ressalta que o principal motivo apontado para a comemoração no Dia do Agricultor é a crescente profissionalização e a resiliência demonstrada pela categoria ao longo dos anos.
“Com um mercado cada vez mais competitivo e dinâmico, os agricultores do Paraná têm investido em tecnologia, conhecimento e práticas sustentáveis para aumentar a produtividade e a qualidade de seus produtos”, destaca.
O gerente acrescenta que os 215 mil produtores ruais, reunidos em 62 cooperativas paranaenses, têm conseguido conquistar mercados internacionais, exportando seus produtos de alta qualidade e, assim, fortalecendo a economia local e nacional.
“Essa capacidade de exportação não só amplia as oportunidades de negócios, mas também é um reconhecimento da excelência e do empenho dos agricultores do estado. Essas razões mostram que o Dia do Agricultor é uma oportunidade não apenas para celebrar, mas também para refletir sobre a importância contínua da agricultura e o apoio necessário para o futuro do setor”, destaca.
DESAFIOS
Entre os maiores desafios para impulsionar a atividade agrícola, o gerente destaca a infraestrutura logística. “Os milhares de quilômetros de estradas rurais, muitas vezes em más condições, dificultam o transporte rápido e seguro dos produtos até os centros de distribuição e portos. Além disso, a falta de uma rede ferroviária abrangente e eficiente limita as opções de transporte, aumentando a dependência das rodovias e, consequentemente, os custos logísticos.”