A demanda industrial tem beneficiado os produtores de laranja no Paraná. Agricultores que se dedicavam a outras atividades têm diversificado a produção e apostado na citricultura para atender à necessidade crescente do mercado.

Somente a Unidade Industrial de Sucos da Integrada Cooperativa Agroindustrial, em Uraí, vem processando 170 mil caixas de laranja ao mês, o que corresponde a 7 mil toneladas da fruta. O potencial de processamento, no entanto, chega a 300 mil caixas ao mês.

Fábrica da Integrada em Uraí vem processando 170 mil caixas de laranja ao mês, o que corresponde a 7 mil toneladas da fruta
Fábrica da Integrada em Uraí vem processando 170 mil caixas de laranja ao mês, o que corresponde a 7 mil toneladas da fruta | Foto: Divulgação

Paulo Andrade, engenheiro agrônomo do Deral, destaca que hoje existe uma escassez de laranjas no Paraná para serem processadas.

“Com o advento do greening em nosso principal concorrente no mercado de sucos – a Flórida, nos EUA, que viu sua produção atingir patamares de 230 milhões de caixas para 15 milhões na safra atual –, os estoques reguladores de suco concentrado estão aquém do esperado”, pontua.

Diante desse quadro, há uma tendência de aumento do preço do suco e, em efeito cascata, a indústria necessitando de frutas.

Os principais países compradores do suco produzido pela cooperativa com sede em Londrina são Austrália e Nova Zelandia
Os principais países compradores do suco produzido pela cooperativa com sede em Londrina são Austrália e Nova Zelandia | Foto: Divulgação

“No mercado interno há a tendência de aumento dos preços do fruto de mesa para o consumo in natura”, completa. Estima-se que mais de 90% da laranja produzida no Paraná é industrializada.

Suco, óleos e até bagaço

Além do suco concentrado de laranja, a fábrica da Integrada extrai o óleo essencial da casca da laranja e o Oil Phase, substâncias destinadas para indústrias farmacêuticas e alimentícias, utilizados como veículos de aroma e sabor nesse segmento.

A fábrica produz também o óleo d’limoneno, destinado para a indústria química. Esse óleo é, inclusive, matéria-prima do primeiro adjuvante produzido, o Potent Smart. Outro produto oriundo do processo são as fibras e cascas, o “bagaço”, destinado para alimentação animal.

“Acreditamos no projeto e no potencial produtivo dos pomares. Neste contexto, a indústria foi concebida para processar até 300 mil caixas por mês, levando em consideração uma escala de trabalho de 7 dias por semana, 24 horas por dia”, destaca Igor Beno Bourscheidt, superintendente industrial e de operações da Integrada.

Igor Beno Bourscheidt: “Acreditamos no projeto e no potencial produtivo dos pomares"
Igor Beno Bourscheidt: “Acreditamos no projeto e no potencial produtivo dos pomares" | Foto: Divulgação/Cristina Cardoso

Hoje, são 108 cooperados que fornecem matéria-prima para a Integrada, provenientes dos municípios da região norte do Paraná: Assaí, Londrina, Mauá da Serra, Uraí, Arapongas, Astorga, Rancho Alegre, Cornélio Procópio e Bandeirantes. A unidade industrial processa ainda laranja vinda dos municípios paulistas Duartina e Avaré.

45 países

O suco concentrado da Integrada é vendido para 45 países, nos 5 continentes. Os principais compradores em ordem de grandeza estão localizados na Austrália, Nova Zelandia, Japão, China, Holanda e Alemanha.

Em 2022 foram comercializadas 4.070 toneladas e a previsão de venda para este ano é de 4.950 toneladas de suco de laranja concentrado congelado até dezembro.

“Anualmente, temos a adesão de novos cooperados do projeto, além do incremento de novos pomares por parte dos produtores que já entregam sua produção para a Integrada, o que demonstra que a atividade é rentável e gera valor para o cooperado”, conclui o superintendente da Integrada.

Duas gerações apaixonas pela citricultura

Produtora rural em Cornélio Procópio, Catarina Contin Gallerani relembra que o avô, Waldemar Contin, sempre foi o leiteiro da cidade. Por volta de 1996, com as mudanças de legislação e nos valores pago pelo leite, o avô dela saiu da atividade leiteira e passou a trabalhar apenas com cria de gado nelore.

Waldemar Contin e Catarina Contin Gallerani: da atividade leiteira para o pomar de laranja
Waldemar Contin e Catarina Contin Gallerani: da atividade leiteira para o pomar de laranja | Foto: Arquivo pessoal

Em 2004, surgiu um programa de incentivo ao cultivo de laranja para indústria. “Meu pai trouxe o projeto para casa e mostrou ao meu avô, que resolveu apostar na citricultura como ganho extra. Na época, a área escolhida não era a melhor da propriedade, mas para surpresa da família, a citricultura trouxe bons rendimentos e acabou se tornando a principal fonte de renda”, relembra.

Catarina se formou em agronomia, mas a princípio não queria voltar para casa e trabalhar com a família.

Em 2018, ela relembra que o avô precisou de apoio para algumas questões mais “modernas” e Catarina acabou se apaixonando pela citricultura, tanto quanto ele.

“Fizemos a primeira expansão em 2019, a segunda em 2021 e o último plantio no começo deste ano, todos em parceria com a Integrada. Nosso pomar hoje tem mais de quatro vezes o número inicial de plantas, lá de 2004”, lista.

Desde 2019, toda a produção de laranjas vem sendo comercializada para a indústria de sucos da Integrada.

“Nosso pomar fica muito próximo à indústria, o que facilita bastante na hora da entrega da produção. Mas não é só isso: a parceria com a cooperativa, o cuidado e atenção que a equipe técnica tem com quem produz motivaram a nossa entrada e fidelização de entrega da produção”, lista.

CRESCIMENTO

No ano passado, Catarina comercializou cerca de 70 toneladas de laranjas para a Integrada, marca que deve ser ultrapassada em 2023. “A nossa expectativa é de um aumento progressivo a cada ano.”

A Integrada promove capacitações, dispõe de assistência técnica especializada em laranja, fornecendo todos os insumos necessários para a produção.

Imagem ilustrativa da imagem Demanda industrial beneficia produtores de laranja no PR
| Foto: iStock

“São produtos de alta qualidade e tecnologia e a cadeia é fechada com a compra e o processamento das nossas laranjas. Todo esse processo é quase impossível para produtores pequenos como nós. O mercado nos engoliria com muita facilidade se não tivéssemos a Integrada como parceira.”

A produtora acrescenta que os EUA têm vivido uma queda na produção ano a ano, o que aumentou o interesse pela citricultura brasileira.

“Além disso, temos um clima muito favorável para a produção de frutas de qualidade. Nosso suco se destaca lá fora e tem um mercado que está sempre atento à forma como nós trabalhamos por aqui. Nosso maior desafio continua sendo as pragas e doenças que surgem e podem comprometer a nossa produção”, conclui.