Há milhares de anos atrás nossos ancestrais que viviam nas chamadas “sociedades ágrafas” ( cerca de 10 mil anos a.C.) desenvolveram as primeiras técnicas de produção de alimentos. Da observação da natureza e seus fenômenos aprenderam a calcular o tempo necessário para o plantio e colheita. Foi uma verdadeira revolução (chamada pelos estudiosos de REVOLUÇÃO AGRÍCOLA – ou NEOLÍTICA). A partir deste momento, eles passaram a dominar a natureza não ficando à mercê das intempéries.

Imagem ilustrativa da imagem DEDO DE PROSA| Horta na cidade
| Foto: Marco Jacobsen

Com a descoberta da agricultura formaram-se os primeiros núcleos urbanos na antiguidade. Estas pequenas comunidades primitivas se estabeleciam às margens de grandes rios e deles extraiam o que necessitavam para sua sobrevivência além da função primordial de irrigarem seus campos de cultivo. O trabalho era coletivo e necessário para o cultivo e realização das obras hidráulicas – construção de canais de irrigação. Estas “civilizações hidráulicas”, com o passar do tempo, cresceram e prosperaram a tal ponto de formarem grandes reinos autossuficientes e produtores de excedentes comercializáveis.

Com o passar do tempo as técnicas de cultivo se aperfeiçoaram e hoje dispomos de maquinários fantásticos teleguiados e profissionais da mais alta competência que pesquisam o melhoramento genético dos alimentos que sustentam a vida humana e a cadeia produtiva. O projeto é ampliar as áreas de plantio com cultivares resistentes e precocidade para suprir a demanda mundial de alimentos.

Mas, longe de toda esta tecnologia, conheci nestas férias de verão no litoral catarinense um simpático senhor conhecido por “Seo” João. Sexagenário de voz calma e ponderada, amante das coisas do campo. Em nossas poucas conversas me confessou ter vivido na roça até os 25 anos, quando seu pai, não vislumbrando muitas possibilidades no campo, mudou-se com a família para a cidade no intuito de dar “futuro” aos filhos. Desde então passou a viver longe de suas origens rurais mas que não perdeu o amor à terra.

Os joelhos de “seo” João já não são os mesmos da juventude necessitando agora de apoios para que possa caminhar e executar algumas tarefas diárias, mas ainda com vigor e disposição invejáveis.

Ao lado de sua casa existem dois terrenos ociosos que aguardam edificações. Com as devidas licenças do proprietário começou a cultivar pequenas variedades de alimentos: cebolinha, salsinha, rúcula, almeirão, couve, abóboras e até alguns pés de mamão que nasceram a esmo após o arremesso de sementes. Uma linda parreira de maracujá em plena produção embeleza o muro dando flores e frutos exuberantes.

Quase todas as manhãs lá estava ele com suas muletas de sustentação, uma cadeira plástica para descansar vez ou outra e a velha e inseparável enxada que rasgava o solo com uma força impressionante. Solidários ( ou até com um pouco de “santa inveja”) e com a mesma vontade de colocar as mãos na terra eu e outro vizinho, o Sílvio, acabamos nos juntando à obra agrária com a devida permissão e hoje a área cultivada ampliou-se. A solidariedade e o trabalho conjunto fez produzir agora: milho, mandioca, batata doce, espinafre, pimentas, rabanetes... Quem passa pela rua 430 vislumbra uma horta urbana em plena produtividade!

Como diria Pero Vaz de caminha, vislumbrando um futuro agrícola para nosso pais: “ em se plantado, tudo dá”. Viva a natureza!

Valdinei Franco é leitor da FOLHA

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