Uma casa ou apartamento apresentam sempre necessidades de manutenção. Algumas úteis, outras necessárias e há ainda as voluptuárias - digamos que mais pomposas e carregadas do gosto de quem vive ali. Como uma dona de casa limitada a meus afazeres, já fui socorrida inúmeras vezes por profissionais de diferentes áreas de atuação, vizinhos, porteiros e até fiz o papel que talvez não fosse o meu, mas resolvi o caso. Com uma pedaço de garrafa pet, consegui tirar minha filha que ficou trancada no quarto. A maçaneta travou e após muito esforço e a calma dela, deu certo. Era aniversário dela. Marcelo nunca levou jeito e fala que a culpa é a mão grande.

O caso mais divertido talvez tenha sido quando reparei no voil do cortinado algo que se parecia com uma borboleta. Mas que borboleta gorda, estranhei. Com um marido sempre viajando, liguei no 301 e expliquei à dona Roseli que havia algo estranho no meu quarto. Ela disse docemente: "Estamos subindo". O casal de idosos parecia animado, entreguei a eles uma toalha de banho. Sorte que a casa estava toda arrumadinha e sem louça na pia. Em segundos saíram do quarto e disseram que era realmente um morcego. "Nós vamos soltar, será que as crianças querem ver?", perguntaram bem animados. Descemos todos para o térreo e seu José deu liberdade para o bichinho que não é hematófago, vive de frutos. Com as janelas fechadas, pensei: ufa, como é bom ter bons vizinhos.

Se apartamento antigo tem suas vantagens de luminosidade, circulação cruzada de ar e área útil, há também os percalços. É o cano do vizinho que estoura, a bomba d'-água com ar que deixa todo mundo na mão e as famosas trocas de prumadas que deixam um período todo do dia sem água nas torneiras. Paciência. Talvez a máquina de lavar roupas seja a que mais requisite atenção lá em casa. Talvez a idade, está com 14 anos, uma fase de mudanças e o André a conhece de todos os ângulos. É analógica, forte e sua última visita foi para a troca de mangueira. Mas já teve situação de ela ter que ir para oficina. Que vazio...A máquina de lavar é uma grande amiga da dona de casa - dá pra conciliar tarefas enquanto ela "bate a roupa".

Imagem ilustrativa da imagem DEDO DE PROSA| 'Ah, se não fossem os maridos de aluguel'
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Seu Mauro já me socorreu várias vezes, é o encanador. Já trocou filtro, reparo de válvula, torneira do tanque e às vezes era só uma borrachinha a causa da torneira pingando. Manso, quieto e eficiente, sempre me acudiu. Tem também o André que troca as cordas do varal de teto, ajusta as portas do armário, troca amortecedores e como trabalha perto de casa, a agilidade é um verdadeiro quebra-galho. O "André da Máquina" fala da filha e do pai, o "André dos Varais, da vizinhança e da neta e seu Mauro encanador sempre comenta que sou zelosa.

Casa também suas peculiaridades e o mais solícito quando eu morava em uma era o portão eletrônico. Se chovia, se acabava a luz ou uma lagartixa decidisse entrar no motor, eu ficava literalmente na mão. Casa de esquina, sem vizinho de frente, o medo era grande. Seu Osmar, dono da casa, que morava na rua de trás, ia me socorrer. Fazia a escolta, esperava eu entrar bonitinha e ia tranquilo para casa dele. Venci o medo das baratas e passei a enfrentá-las - chinelo, vassoura e até veneno aerosol. Não dava para dormir com a inimiga. Numa noite, ouvi a forma de bolo mexer sozinha dentro do forno. Eu lidava com miçangas. Ouvi de novo. Marcelo não acreditou em mim - falaram que era o caminhão que passou e fez a trepidação. Viajou no dia seguinte.

Numa tarde sozinha, ouvi o fogão se manifestar. Coloquei a pequena na cadeirinha e corri até a avenida Arthur Thomas, numa casa especializada em roedores. Fiz o relato e em disparada fomos à captura do incômodo. Dois profissionais uniformizados, equipados e em carro todo adesivado me seguindo. Tiraram o fogão do lugar, levaram ao quintal, acharam vestígios da praga e instalaram algumas iscas na cozinha e no quintal. Eis que na noite seguinte, colado à armadilha, o camundongo pede socorro. Nessa noite, o marido de verdade estava em casa. Ficou com dó do bicho, pegou a isca, levou para a rua e disse que não tinha coragem de matar. Entrei aliviada. Era um rato mesmo, eu não estava louca.

Recentemente tive a alegria de receber seu Nelson Higashi no apartamento. O primeiro chamado havia sido oito anos atrás. Em um domingo de manhã, ar condicionado, forno elétrico e chuveiro levaram o disjuntor ao fracasso. Todo paramentado, de bota, chapéu, passou muita segurança e salvou nosso domingo. Dias atrás, achei que uma tomada estava em curto. Peguei o cartão do seu Nelson. Ele se lembrou da primeira tarefa- oito anos atrás e, novamente, em pleno feriado, veio resolver. Era verdade. Os fios estavam desencapados, muito curtos e resolveu.

Aproveitamos para dar uma geral. Muita lâmpada queimada. Percebi que estava quase no escuro mesmo. Aproveitou e já consertou uma lâmpada de led que estava com mau contato e quando mostrei minha geladeira, que parecia um iceberg, ele me passou o contato de um craque na área. Salvei nos contatos: "João Geladeira". Mandei as fotos com a descrição e João Geladeira acertou em cheio. Parecia o MacGyver. Trocou uma peça, soldou outra e em minutos a branquinha e essencial estava zerada. Agradeci seu Nelson pelo whatsApp pela recomendação. Ainda sigo com umas lâmpadas que precisam sem trocadas, mas ele me incluiu em um grupo de transmissão chamado "Um Minuto com Deus". Diariamente, uma mensagem de conforto e o eletricista tem iluminado mais meus caminhos e ideias de um jeito inesperado. Obrigada a todos os profissionais e amigos que já me socorreram e ainda me acodem em casa.

Walkiria Vieira é repórter da FOLHA.